História de minha autoria - Los Desperados

Discussão em 'Contos' iniciado por VladmirMakarov, 2 Maio 2013.

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  1. VladmirMakarov

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    vladmirmakarov1
    bom galera, recentemente venho tendo uma caída para escrever contos, e a partir daí comecei a escrever uma história, dividida em capítulos, sobre um jovem em meio á um apocalipse zumbi fazendo de tudo para proteger sua irmã
    Legal, mas o que tem de novidade? zumbi já tá muito batido.
    Ai é que vem. Ele não dispõe de nenhum tipo de arma, não sabe lutar nada, nem sabe ao menos dirigir bem. Ele é apenas movido pela fé. Pela fé de que ele não falhara em protegê-la. Ao decorrer da história ele vai aprendendo, mas não é de uma hora pra outra. Se quiserem ler, eu vou disponibilizar aqui embaixo.

    P.S: O primeiro capítulo pode ser meio chatinho mesmo, mas eu fiz assim porque não queria contar a história do maluco gastando um capítulo relativo todo. Era muita perda de tempo e quase ninguém ia ler. Então fiquem espertos que no próximo já vai ter mais ação

    P.S²: Por favor, a galera que leu pelo menos deixa um comment, porque isso me ajuda a ver que tão gostando e me incentiva a escrever mais.

    P.S³: Sugestões/Críticas/Recomendações são sempre bem-vindas

    P.S4: Posto toda segunda e quinta

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    Capítulo 1 - O fim de uma era

    Eram 3 horas da manhã, uma noite escura e fria de sábado em minha cidade. Nada de anormal acontecia até então, e eu dormia tranquilamente. Meus pais ainda não voltaram, mas não os esperei para me deitar ás 1 da manhã e checar se minha irmã, de seis meses, estava bem. Sabia que eles estavam comemorando seu aniversário de casamento, e decidi não interrompê-los.

    16 anos atrás...

    – Querido, querido, vem aqui!

    – O que foi Lucy?

    – Nosso Nikolai falou! Não acredito! Nikolai, fala para o papai!

    Nikolai, sentado em sua cadeirinha, olhava para seus pais sem entender metade do que eles diziam, mesmo assim percebeu que estavam felizes por aquilo que ele tinha aprendido há alguns segundos. Resolveu tentar denovo:

    – Ma-ma... Mamaa...

    – Espere aí, vou pegar a câmera!

    Como um furacão, Lincoln trouxe a câmera e ajustou para seu filho, colocando-o no foco.

    – Vamos lá campeão, fala para o papai!

    – Mamaaaa... Maa-ma... Mamãe!

    – Este é com certeza o dia mais feliz de nossas vidas! – Exclamou Lincoln, abraçando seu filho e sua esposa. Aquele dia ficaria marcado para sempre, com toda certeza.

    Noite difícil. Acabei acordando duas e meia da manhã. Olhei-me no espelho e não havia nada de diferente em minha aparência, apenas algumas olheiras dentre meus olhos negros e o cabelo, antes liso e com um topete não muito alto, agora estufado. Algo perturbava meu sono. Algo me dizia que tudo estava prestes á mudar. Só não entendia o porquê disso. Meus pais ainda não voltaram. Por mim, era até melhor assim. Recentemente eles haviam brigado muito e uma noite como aquelas era para não se perturbar, nem em casos extremos. Minha irmã começou a chorar. Ótimo. Agora sim que eu não durmo mais. Mas era meu dever, e então esquentei a mamadeira dela e levei até o quarto.

    12 anos atrás...

    – Chegamos Nikolai, chegamos. Desça do carro.

    – Mamãe, para onde a senhora está me levando?

    – É aqui onde sua vida começa meu filho, você precisa disso.

    Dona Lucy chamou pela inspetora e conduziu seu filho até a sala de aula, onde estavam várias crianças de sua idade. Nikolai estremeceu e caiu nos pés da mãe, chorando para que ela não o deixasse:

    – Mamãeee! Por favor não me deixe aqui!

    Dona Lucy apenas sorria, quando deu as costas ao filho e saiu andando. Nikolai não entendeu aquilo. Porque ela o abandonaria? Estaria fazendo alguma coisa de errado? Será que é porque não queria tomar a sopa que sua mãe preparava todo final de noite, antes de dormir?

    A professora conduziu Nikolai até uma carteira onde ele se sentou. Um menino branco, assim como ele era, porém mais corado, de olhos castanhos e loiro, perguntou:

    – Como é seu nome?

    A princípio Nikolai não respondeu, apenas encarou o garoto. Depois tomou jeito e olhou para a classe. Respondeu

    – Nikolai, e o seu? – ele precisava mostrar o respeito que sua mãe ensinou.

    – John.

    Olhei para minha irmã deitada, chorando. Embora esses choros nos acordassem no meio da noite, era bom para eu tomar jeito e acabar não fazendo qualquer coisa sem pensar e acabar numa oficina mecânica depois. Quero terminar a escola e fazer uma faculdade, não ser qualquer vagal por aí. Peguei-a no colo e dei-lhe a mamadeira, e no momento ela parou de chorar. Como era linda minha irmã! Dava prazer de olhar para aquele rosto. Tinha certeza de que quando ela crescesse, vou protegê-la á qualquer custo das garras dos moleques assanhados.

    7 anos atrás...

    – Vamos Nikolai, vamos! Você consegue garoto, acredito em você!

    Nikolai olhou para seu técnico, o Srº Dunn, com uma cara estilo “deixa eu fazer meu trabalho, gorducho! Eu sei o que fazer em campo.”

    O jogo estava 3 á 2 pro time de fora. O jogo era em casa, eles não poderiam perder, se empatasse, o troféu era deles. Nikolai, o meia atacante do time, estava com a bola na ponta direita do goleiro, sem ninguém para passar, e um chute dali seria perda de tempo; os 2 maiores zagueiros impediam a bola.

    – Nikolai, eu, aqui! – Quem falou foi Franklin, o centroavante. Nikolai não pensou duas vezes e cruzou. O goleiro espalmou para o canto deixando a bola nos pés de Franklin. Era o último lance. Tinha de ser agora.

    – É tua Frank, o título é nosso!

    Isso não serviu muito bem, pois Franklin foi ouvir Matthew, que estava já comemorando alguns metros atrás dele, e um dos zagueiros se adiantou. Franklin chutou de qualquer jeito e a bola bateu no coxa do zagueiro, rodopiou e chegou sem força no gol. O goleiro agarrou e chutou para frente. O juiz apita, fim de jogo.

    Estava sonolento, sim. Mal conseguia abrir o olho. Só estava ali, porque afinal era meu dever. De repente, ouço um carro cantando pneu em plena madrugada, na minha rua. O que seria aquilo? Nunca houve um assalto ou qualquer coisa daquelas nas redondezas. Eu estranhei esse fato, sim. Porém deveria ser algum louco na rua, ou alguém disputando um racha. Enfim, saí da janela e voltei aos meus afazeres.

    5 anos atrás...

    – Cara, essa festa tá espetacular!

    – Tá mesmo! Essa foi a melhor ideia que já fizeram até agora. Depois a gente precisa agradecer á Liza, porque isso aqui não acontece todo dia.

    – Cara, agora é sério, preciso ir! – concluiu John, olhando para uma das convidadas da festa, a Jane. Era uma menina muito bonita mesmo. John chamou-a e saíram andando. Nikolai ficou ali observando as pessoas na pista de dança, já que ele não sabia dançar muito e tinha vergonha. Nikolai viu John e a menina á distância, saírem do pátio onde estava ocorrendo a festa. Nisso, Natalie apareceu em seu lado. Nikolai era secretamente apaixonado por ela, porém não sabia disfarçar. John já percebera isso há muito tempo, porém não pressionava o amigo, á fim de deixa-lo mais á vontade.

    – Nik, será que você pode ir ali na praça comigo? Não é muito longe.

    – Por quê? – Nikolai responde, mas com um estremecer nas mãos.

    – Queria comprar um sorvete.

    – Mas e o sorvete da festa?

    – Já acabou... Vamos Nik, por favor!

    – Tudo bem.

    Nikolai sabia que á essa hora, onze da noite, não haveria nenhuma sorveteria ou carrinho de sorvete aberto. Mesmo assim resolveu segui-la, pois ela era seu amor, sim. Natalie era uma garota de sua mesma idade, alta, branca, seus cabelos eram castanhos escuros e plumosos, seu rosto tinha uma perfeita simetria. Seus olhos eram de um castanho claro, que Nikolai julgava serem de ouro. Natalie repentinamente pegou na mão de Nikolai, e os dois se foram.

    Chegando á praça, eles simplesmente viram que não estava nada aberto. Aliás, a praça estava deserta. Nikolai, porém, tinha um sentido de percepção sem igual, e notou seu amigo se esgueirando por trás de uma árvore, em um ponto cego de todos. Nikolai ficou encarando-o, quando ele se aproximou mais e trocou um olhar com ele, dizendo mentalmente “vai fundo garoto, essa é a tua chance”. Após isso ele voltou para o interior da mata. 2 segundos depois, Nikolai ouvira a menina com quem John estava reclamar de sua demora. John, era sim um verdadeiro amigo, que sempre o apoiara. Natalie não notou John. E reinou o silêncio mais profundo na praça. Nikolai, agora sem estar distraído fitou-a nos olhos. Havia algo estranho. As pupilas estavam dilatadas e eles brilhavam. Nikolai sabia que sua hora chegou. Começou a falar:

    – Nat, por favor, me ouça bem. – Enquanto falava, ela apenas sorria. – Sei que não há mais sorveterias abertas, então vamos voltar. Tudo bem?

    – Tudo... – Falou ela, decepcionada. Antes que ela pudesse reagir de qualquer maneira, Nikolai pegou em suas duas mãos e juntou-as. Começou a falar:

    – Nat, já faz algum tempo que eu ando percebendo você, e sinceramente você é diferente de qualquer uma que eu já conheci. Tenho que lhe dizer que... Eu te amo. Te amo como... – Foi interrompido por Natalie, que acabara de colar seus lábios junto aos deles. Nikolai percebeu os lábios dela como nunca, e eles eram macios assim como sua pele. O abraço apertado esquentava-os na noite escura. Nikolai não sentia mais nada, não via nada, não escutava nada. Ele queria viver aquele momento. Ele precisava daquilo. Depois de um longo e caloroso beijo, Natalie encosta seu nariz junto ao dele e conclui, falando e sorrindo:

    – Nik, eu também te amo. – E os dois ficaram no meio da praça, abraçados, olhando as estrelas. Para Nikolai, a vida acabara de começar.

    Graças a deus, pensei que minha irmã ficaria tomando essa mamadeira para o resto da vida. Vou voltar para a cama, mesmo que amanhã seja sábado. O que é isso, meu deus? Outro racha, mas dessa vez com 8 carros? Não, isso não estava certo. Tentei chamar a polícia, porém a linha estava ocupada. Como a linha da polícia estava ocupada? Cada vez meu coração se apertava mais.

    6 meses antes...

    – Por favor, Nikolai, queira me acompanhar até a diretoria.

    – Cuidado hein, senão teu pai te mata!

    – Fica de boa ai Mack. – Nikolai interrompeu seu amigo, e perguntou:

    – Posso saber o que houve diretora?

    – No caminho te explico.

    E eles se foram. A diretora, porém, não cumpriu o que prometeu, ficou calada. Quando chegaram, um telefone esperava Nikolai. Ele estranhou, porém atendeu. Era seu pai:

    – Nikolai, pega sua bicicleta e vem aqui no hospital agora!

    – Meu deus, o que aconteceu pai?

    – Sua mãe deu a luz!

    Nikolai não falou com a diretora, apenas mandou abrirem o portão. A diretora assustada perguntou o que havia acontecido se não falasse ele não passaria. Nikolai já montado em sua bicicleta acelerou e respondeu:

    – Eu tenho uma irmã!

    Nikolai rumou ao hospital, que era 2 quilômetros dali, como se estivesse sendo perseguido numa maratona. Engatou a 3ª coroa com a última catraca e em menos de 15 minutos estava lá. Seu pai, aflito, abraçou o filho. Lá ficaram por mais de duas horas esperando, até que foram chamados á sala de visitas, onde Nikolai pode ver sua irmã. Perguntou:

    – Pai, qual vai ser o nome dela?

    – Alice. ALICE!

    E no frio da noite, comecei a ouvir alguns grunhidos. Sim, grunhidos, mas não de qualquer animal que já pude ouvir. E mais e mais carros passavam. Quando ouvi alguém chutando a porta de minha casa. Não aguentaria mais. Peguei uma faca bem afiada em minha cozinha e abri a porta, disposto á liquidar qualquer garoto espertinho que esteja me pirraçando. Quando abri, tive uma surpresa. Uma figura humana, desfigurada, com dentes podres e com olhos totalmente brancos, recoberta de sangue. Naquele momento, eu renascera.

    7 horas atrás...

    – E o jornal da noite fica por aqui, você poderá ver todas essas notícias e a cobertura da grande epidemia pelo nosso site. Uma noite á todos e até amanhã.

    Nikolai não conseguia acreditar, mas teria. Outra epidemia? Já não bastava a gripe suína de 2011? O melhor a fazer era esquecer e continuar vivendo. E foi o que ele fez. Ele se deitou em sua cama, pensando nas milhares de pessoas que viriam á morrer, como na outra epidemia. E se fosse uma pandemia? Ai sim, ele ficaria preocupado. Afinal, é triste ver essas cenas hoje em dia. Contudo, a medicina se esforçava para contê-la, isso o deixava mais animado.

    Larguei a faca, aterrorizado. Nunca tinha visto tal figura, nem sabia se tal existia. A criatura me fitou com olhares que não pude identificar, mas percebi uma aproximação maligna. Foi quando acordei de tudo. A criatura pulara em cima de mim, porém antes dela tentar qualquer coisa, o Sr. Marcus Reed, meu vizinho, apareceu com sua espingarda de caça e liquidou a criatura. Antes de qualquer coisa que eu pude pronunciar, ele disse:

    – Nikolai, pegue sua irmã e dê o fora daqui! Isso é uma ordem garoto! Vamos, vamos!

    – O que está acontecendo senhor Reed?

    – Não me pergunte, você já vai saber, apenas pegue sua irmã e saia daqui, e procure abrigo não perto daqui!

    – Mas e meus pais?!

    – Esqueça-os, sinto muito mais é muito provável que eles já não estejam entre nós. AGORA VÁ!

    O que seria aquilo meu deus? O que ele queria dizer com meus pais estarem mortos? E o que me atacou? Porque ele matou aquele homem indefeso? Ou seria uma criatura demoníaca prestes a me matar? Eu simplesmente não sabia. Minha cabeça se enchia de dúvidas. Apenas o que fiz foi passar em meu quarto para pegar meu celular, peguei minha irmã, peguei seu banquinho de carro e uma roupa de frio para ela e a chave do carro e da garagem. Antes de sair do quarto de meus pais, porém, uma explosão na rua acabara de ocorrer. Vi que o inferno estava instalado em minha rua, literalmente. Aquelas criaturas, atacando senhoras e crianças, pessoas indefesas. Casas pegando fogo, pessoas atirando uma nas outras e carros derrapando e capotando. Senti medo. Do que? Não sabia. Mas sabia que ali não poderia continuar. Rapidamente desci as escadas e fui á garagem, que tinha acesso de dentro de casa. Não sabia dirigir, mas tinha uma noção básica. Liguei o carro e engatei a marcha. Antes que pudesse abrir a garagem, pisei no acelerador sem querer, arrancando o portão. E lá me fui. De cara, atropelei uma daquelas criaturas, não havia outro jeito. Antes de virar a esquina, olhei para o Sr. Reed, que estava ajudando pessoas á fugirem. Foi quando o vi, atirando em alguns daqueles mordedores. Distraí-me e quase bati em um deles. Quando retomei a consciência, olhei de novo e não vi mais o Sr. Reed, apenas vi um amontoado de pessoas em cima dele. Fui andando por cada rua até perceber que o mundo já não era como antes. Tentei ligar para meus pais, pois agora não faria mais sentido me privar disso. E então, um carro desgovernado entrou em minha faixa á 130 mph. Simplesmente tentei desviar, mas não deu certo. Capotei.

    3 horas depois...

    Onde estou? Pensava. Olhei para o carro e não me lembrava de nada. Foi quando minha irmã chorou e me lembrei de tudo o que havia passado. Graças a deus, minha irmã estava bem. Eu morreria se algo acontecesse á ela. Tentei abrir a porta e sair dali; sem êxito. Minha perna estava emperrada entre os pedais. Foi quando ouvi outro grunhido. Rezei muito, embora eu não seja muito fiel, que ela passasse despercebida. Mas não, eu me cortei com o impacto e havia sangue. Ela rumava em nossa direção. Foi quando não pensei duas vezes. Bati com a cabeça na porta, fazendo-a rolar para trás e puxei minha perna com tudo, fazendo um enorme rasgo que queimava na alma. Gritei sim, mas não por muito tempo. A criatura ficava mais e mais perto. Apenas abri a porta do banco de trás que por sorte não estava emperrada e peguei minha irmã no colo com sua roupinha. Avistei uma casa e corri para dentro dela, sem olhar para trás. A rua estava infestada daquelas criaturas, que quando me avistaram, saíram atrás de mim, porém lentamente. Não bati na porta da casa, entrei sem hesitar. Coloquei minha irmã no sofá e Fechei a porta, reforçando-a com todos os móveis presentes. A casa tinha venezianas, então eles não passariam por lá. Quando acabei, tomei um susto. Havia um deles dentro da casa, que me segurou pelo braço abrindo a boca para morder. Pensei que era meu fim, mas não. Estava de jaqueta de couro, pois vesti uma antes de sair, senão morreria de frio. Os dentes podres da criatura não atravessaram o tecido, porém doeram como um tiro. Peguei uma estaca de madeira que estava á meu alcance, quebrada de um piano que coloquei na porta e bati na face da criatura com ela. Ela cambaleou e caiu, em dando um curto espaço para tentar me esconder. Aquela cena me doeu e eu fiquei paralisado. O que estava acontecendo com o mundo? Precisava descobrir. Mas antes, eu me certificaria da minha irmã. Tranquei-me no porão da casa. Minha irmã, nesse instante, começou a chorar. O porão tinha janelas, pequenas, que davam para a rua, da onde pude ver centenas, senão milhares daquelas coisas. Tinha de fazê-la parar. Mas como? Sem mamadeiras, seria impossível. Achei uma fita, daquelas cinzas, bem fortes. Não tive alternativa. Delicadamente, envolvi sua boca nessa fita, fazendo-a parar de chorar. Por fim, sussurrei:

    – Alice, não sei o que está acontecendo, realmente não sei. Não sei se nossos pais ainda vivem, se ainda poderemos viver amanhã. Mas uma coisa eu te garanto. Até o dia de minha morte, eu a protegerei, como nunca fiz em minha vida.

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    Capítulo 2 - A corrida pela salvação

    Já se passava mais de meia hora que eu estava ali, e nada melhorava. Dormir, era fora de cogitação. Precisava encontrar um jeito de tirar minha irmã dali a salvo, mas como? A criatura que eu derrubara poucos segundos atrás estava batendo muito na porta; sabia que eu estava ali. Sabia disso, aliás, por causa de meu ferimento. Por um momento meu instinto protetor havia falado mais alto e eu me esqueci desse detalhe.

    Minha perna não doeu mais, porém começou de novo quando percebi o ferimento mais uma vez. Levantei a uma das pernas da calça para vê-lo. A dor que senti, agora, foi excepcional. Simplesmente o sangue havia grudado no tecido da calça, fazendo-me retirar mais algumas camadas de pele. Contive-me para não gritar de dor, se o fizesse os mordedores lá fora ficariam alertas e iriam à janela do porão que dava acesso á rua, a qual era minha única escapatória. Bem, eu precisava formular um plano. Mas primeiro eu cuidaria de meu ferimento. Olhei ao redor do porão que tinha algumas estantes, perto da mesa onde deixei minha irmã. Havia algumas caixas de algodão e álcool. Só de ver a garrafa com aquela substância química, pude ver minha pele se arrepiando. Mas, o que devia ser feito, teria de ser feito. Contudo, se eu não fizesse, acabaria com uma infecção e poderia morrer logo, coisa que não queria. Não porque queria viver mais, já que se o mundo estivesse acabado qual seria a razão de viver? Mas sim, porque precisava proteger minha irmã. Por ela, faria tudo. Decidi não esperar mais um segundo. Olhei a hora, antes disso. Eram 6 horas da manhã. Ainda estava noite, mas já podia se notar um leve tom de azul no céu. A bateria do meu celular estava em 44%. Desliguei-o, para poupar. Mais tarde voltaria a ligar para saber o que diabos estava acontecendo no mundo. E então, comecei a retirar minha calça de pijama. Fiquei só de cuecas na sala. Então me sentei e comecei a sentir o ferimento. Para minha sorte, o rasgo não foi profundo, porém abrangia grande parte da panturrilha. O sangue já estava coagulado, porém quando fui verificar pela primeira vez acabei abrindo-o de novo. Agora sim, era a hora. Antes de passar álcool, peguei um grande pedaço da fita e coloquei e m minha boca. Gritar, agora era inevitável. Por isso, tinha de me precaver. Então abri a garrafa, e de olhos fechados, joguei o líquido sobre o ferimento. Céus, aquela dor era insuportável! Sentia minha pele borbulhando, como se cada bactéria ali estivesse morrendo agonizando. Por um momento, de tanta dor que sentira, meus olhos começaram a ficar negros. Não olhava mais que um palmo de distância. Comecei a bater com a mão em minha face, para tentar amenizar. Sim, minha pressão estava baixando e eu iria desmaiar. Isso ficou evidente assim que comecei a ouvir um chiado bem agudo. Fiquei recostado na mesa, até que olhei para minha irmã, que dormia. Fiquei olhando-a, até que por um passe de momento me recompus. E nisso veio a dor. Gritei, gritei e gritei. Gritei muito, como se não estivesse ligando se os mordedores ouvissem. Mas a fita era boa; não se desprendeu. Isso, realmente aliviou e muito minha dor. Depois disso, me limpei com o algodão que achei e improvisei uma gaze, fechando-a com a fita.

    Depois parei um pouco para pensar. O que eu faria agora? Lembrei-me da janela. Eu precisava dar o fora dali, e era logo. Não sabia se a barricada da porta aguentaria, e para completar, havia um deles dentro da casa. Fui á janela e espreitei a rua. Consegui ver muitos pés por lá. E com certeza não eram de pessoas. Durante a noite pude ouvir alguns tiros e gritos, mas nenhum por perto. Então, sair ainda estava fora de cogitação. Resolvi voltar a ligar meu celular. A bateria ainda estava com uma boa carga, o suficiente para algumas horas sem processos pesados. Foi então que meu coração se apertou: não falei com meus pais fazia mais de 12 horas. Não sabia o que acontecia, nem se eles estavam bem. Foi a primeira coisa que eu fiz. Liguei para meus pais. 1, 2, 3 vezes. Todas sem êxito. A cada vez que eu ligava, ficava mais aflito. E foram todas em vão. Até que parei de ligar, senão a bateria acabaria. Foi quando comecei a chorar baixinho, para ninguém ouvir. Eu merecia tudo aquilo? Nunca fui de mexer com drogas ou bater nos outros. Porque, então, estava tudo aquilo acontecendo? Não tinha uma resposta plausível. Aliás, não tinha quem me desse tal resposta. Depois de alguns minutos me recompus. Quando me veio a ideia de ligar para amigos. Liguei para quase todos: John, Mack, Frank... Nenhum me retornou. Natalie... Tinha esquecido a minha própria namorada! Liguei para ela também. Sem êxito. Meu deus, será que todos os meus amigos, até minha namorada haviam morrido na tal infecção? Sim, era bem provável que sim. O mundo estava em ruínas, isso em menos de 12 horas... Eu precisava descobrir o que diabos realmente estava acontecendo. Lembrei-me que alguns dias antes eu havia posto créditos em meu celular. Liguei a internet e acessei meu aplicativo de notícias. Lá, pude ver notícias como “Infecção já é global”, “Metade da população mundial já perdida”, “Países em completa anarquia; governos arruinados”. Então era isso: o mundo que conhecíamos estava acabado. E sem governo. Decidi checar uma das notícias. Nela, constava que tais criaturas eram na verdade os famosos zumbis, porém agora não era mais ficção. Era real. E eles estavam á solta. No fim da página, havia um link externo redirecionando para um blog. Antes de olhar o link, pensei. Refleti muito sobre o que tinha lido, e a princípio não acreditei. Mas, porque não acreditaria? Eu já tinha vivido e visto aquelas coisas. Lembrei-me também da notícia sobre a população mundial. Como, em 12 horas, metade dos humanos foram erradicados da face da terra? Meu deus, isso era terrível. Era o dia do julgamento, em que ficaríamos vivendo como baratas, num real purgatório. Será que o resto da minha vida, seria esse inferno? Eu não tinha certeza. Mas eu não desistiria.

    Depois de longos minutos refletindo, abri o link. O blog, com certeza era de algum fanático por destruição do mundo ou parecido. Constava que o vírus ou a bactéria entrava no corpo da pessoa, e a matava. Depois de algum tempo, ela era reanimada sem sinais vitais, apenas com a parte ativa cerebral da fome e da locomoção. E eles não comiam vegetais. Por fim, falava que a única maneira de mandá-los de volta para de onde vieram, era danificando permanentemente o cérebro; a única parte ativa.

    – Mentira! – Exclamei para si mesmo. Como uma pessoa se moveria se seus músculos após a morte ficam rígidos? E como os órgãos delas, ficariam ativos para digerir a carne, se os próprios órgãos se auto decompõem? E, porque seu coração não batia de novo? Aquilo não tinha nenhum nexo. Mas era preciso acreditar. Porque era real. Isso explicava o movimento estranho de tais. Resolvi entrar no meu Facebook. Antes, média de 300 amigos no bate-papo. Agora? 15. Total, sem média. Nenhum que eu conhecia. Olhei as postagens, e a maioria falava de um centro de refugiados do governo, em Seattle. Seattle? Não era longe de onde eu morava, Tacoma. Minha sorte é que eu morava em uma parte mais afastada do centro. Morava, sim, pois não há sentido ficar mais lá e ser devorado. Precisava chegar até lá. Mas antes, precisava sair dali a salvo. O mordedor da porta do porão ainda estava vivo e batendo incansavelmente. Tentei achar alguma arma, mais nada. A única coisa que achei foi um rastelo. Para acessar o porão, havia um par de degraus. Se eu me posicionasse na frente da escada e abrisse a porta, o zumbi cairia e poderia matá-lo. Sim, era isso que eu faria. Porém como abrir a porta sem ser pego? Primeiro, retirei a barricada. Por fim, destranquei e abri ligeiramente e pulei os 2 degraus. O zumbi veio com tudo, e como previsto caiu. Como não seria fácil para o coitado se levantar, apenas terminei a minha tarefa. Meu primeiro zumbi. De certa forma, senti alívio e medo.

    O que faria agora? Com a rua infestada, seria suicídio sair. Procurei na casa qualquer coisa que me ajudasse. A casa, embora pequena, tinha dois andares. Uma sala, ao lado a cozinha e em cima 2 quartos e 1 banheiro. Casa de família, sim. Comecei pela cozinha e achei alguns biscoitos e uma lata de refrigerante. Abri aquilo tudo e devorei muito rapidamente. Passei quase 12 horas sem comer, e não me lembrei disso. Só fui perceber quando olhei para aqueles armários. E Alice? Precisava achar alguma coisa para ela. Minha mãe havia dito que o leite materno era mais importante, porém ela já era muito bem nutrida e se sustentaria com leites alternativos. Vasculhei todos os armários e separei alguns alimentos não perecíveis como biscoitos. Precisaria deles, muito, já que um supermercado não estava acessível. Foi quando achei 3 latas daqueles leites em pó para criança, com quase todos os nutrientes que ela precisava. Ótimo! Porém, não achei nenhuma mamadeira. Tive que improvisar com uma garrafa de água 500ml vazia e um funil que encontrei. O líquido estava pronto. Mas não poderia dar gelado. O que fiz? Havia uma fresta na parede, provavelmente quebrada por aquele zumbi de dentro da casa. Por ali passa uma quantidade de raios de sol razoável, já que o dia já raiava. Fiquei com a mão ali por mais ou menos 20 minutos, até que o leite ficou razoavelmente quente. Desci e retirei a mordaça que estava nela, e aos poucos fui despejando o liquido para que ela não se engasgasse. Depois que tomou tudo, começou a chorar. Não sabia se era de frio ou outra coisa. Não tive outro jeito, de novo. Peguei outro pedaço da fita e amordacei-a. Por fim, achei uma caixa vazia. Iria sair dali, porém antes disso precisaria fazer algumas coisas na rua. Repousei-a sobre a caixa e deixei semiaberta, para que respirasse. Fiz uma barricada com o que sobrara da última no porão e coloquei o rastelo e outro que eu achara, apontando para frente, fazendo um ângulo de 90 graus. Qualquer zumbi que se aproximasse ficaria preso, Pois o rastelo estava seguro por alguns pedaços da tal fita, que já estava no final e presa às teclas ao piano. Agora, checaria o resto da casa em busca de algo que me ajudasse. Olhei na sala de estar. Nada, apenas os controles remotos. Na estante da TV, revistas. Peguei algumas, para ler enquanto passava o tempo. E para ensinar minha irmã também, quando crescesse. Notei também um porta retrato com uma foto de uma família muito bonita. Perfeita, sorrindo, felizes com a vida. Agora, provavelmente mortos. A casa fora deixada revirada na parte de cima. Roupas e mais roupas fora dos guarda roupas, sem qualquer produto de limpeza. Procurei em armários e achei uma lanterna carregável á dínamo. Perfeito. Sem pilha, usaria em todo lugar. Por fim, fui ao maior quarto que tinha uma cama de casal. Lá, encontrei escondido atrás de alguns cabides uma mochila de viagem.

    Uma ideia veio a minha cabeça. E para mim, seria perfeita. Se eu colocasse o banquinho do carro acoplado na mochila, poderia andar com a minha irmã sem ter de carregá-la no colo e minhas mãos ficariam livres. Não sei se funcionaria, aliás, não sabia se o banquinho ainda estava inteiro depois do acidente. Mais teria de tentar.

    Aproximei-me da janela, uma das poucas que não havia nenhum som aparente de zumbis. E fui lentamente abrindo a veneziana. Quando, de repente.

    GAAAAAH!

    Um zumbi me agarra pelo braço e tenta me morder. Eu ainda estava com a jaqueta para a minha sorte, e não fui arranhado. Porém, mais uma mordida e atravessaria o couro, com certeza. Então pensei rápido. Fechei a veneziana no braço do zumbi. Ele não parou, então tive que ficar batendo com a veneziana em seu braço. Depois de sucessivas batidas, ouvi um “Crec”, e o braço do zumbi me pareceu torto. Mas o diabo continuava lá. Precisei continuar batendo até que uma parte do braço caiu na sala e pude fechar a veneziana. Estranho. Como zumbi, eles adquirem muita força, realmente, pois tentei tirar os seus dedos de cima do meu braço e não tive êxito. Teria de abrir de novo, pois não vi o carro, e na noite anterior, eu não prestei atenção nisto. Abri agora uma frestinha, que eu pude ver apenas uma das rodas. Julgando pela distância medindo do asfalto, daria mais ou menos 200 metros. Okay, não seria muito difícil, pois eu corria bastante nos treinos para os campeonatos regionais. Agora, por onde sairia? Porão. A única saída plausível. Fui até o porão, porém antes de pular a pequena janela, na qual eu passaria deitado, procurei alguma coisa. Achei um martelo e peguei-o. Antes de sair, verifiquei minha irmã e dei-lhe um beijo na testa:

    – O irmão já vai estar de volta. Eu te amo.

    E fui-me. Na rua, os zumbis estavam dispersos, e para minha sorte a entrada da casa, no meio, era distante da janela do porão, que ficava na lateral esquerda. Contornei a casa por fora e me escondi em pequenos arbustos que haviam por ali. A casa era tinha até um bom ponto estratégico. Atrás dela, havia uma floresta, na qual passei despercebido por todos eles até chegar ao carro que estava capotado quase no meio da pista. Quando cheguei, olhei para a casa. Não havia muitos zumbis no caminho. Então, comecei a retirada. O banco não estava muito danificado; apenas uma das hastes estava torta. Então serviria. Porém, para meu azar, uma delas estava presa entre as ferragens. Tive que martelar. Martelei, martelei, martelei. Sem êxito. Quando ouvi um grunhido. Era um deles, mas não estava atrás nem na frente. De onde viria? Decidi acabar meu trabalho rápido e sair dali. Martelei de novo, desta vez com mais força. E continuei. Até que a ferragem soltou o banquinho. E quando saio das ferragens do carro e olho de volta a floresta, me deparo com uma horda. Nessa hora, para confessar, eu vi a morte estampada em minha face. Mais de 50 deles. Fiquei paralisado, até que me convenci de que olhar a morte não era uma alternativa. A morte era um saída para os fracos. Então, saí correndo, pela rua mesmo. Como já devem saber quase todos os zumbis da rua me notaram, porém continuei sempre desviando. Até que cheguei á lateral da casa. Se eu entrasse ali, com certeza eles ficariam ali para sempre bloqueando minha passagem. E eu já fitava a minha saída. Um carro parado no outro lado da rua. Para distraí-los, antes de entrar na janela, joguei o martelo no vidro de outro carro, que começou a soar o alarme. Então me joguei para dentro da janela. Eu estava a salvo e tinha conseguido o que queria! E como pensado, quase todos eles foram para lá, até os da horda. Então o caminho estava literalmente livre. A hora era chegada. Voltei para a sala e acoplei ao mochilão de uma maneira que o carrinho não caísse no chão, reforçando com a fita milagrosa. Agora, acabada. Testei com Alice já no banquinho e deu certo. Retirei-a e enchi a mochila de tudo que achei na casa e comecei a desfazer a barricada. Desfeita, abri a porta lentamente. Nenhum. Simplesmente desci as escadas e comecei a correr. Nessa hora, uma surpresa. Um deles havia me notado e bateu na minha mochila, fazendo a cadeirinha de Alice cair comigo junto. A raiva tomou conta de mim, e por um impulso me levantei do chão e soquei a cara do desgraçado com toda a força que tinha, fazendo pender para o lado. Sem perder tempo peguei o banquinho na própria mão e saí correndo. Nisso, todos eles me notaram. E eu só tinha que correr. Corri, corri, corri. Como nunca em minha vida. Continuei correndo. Meu deus, e eles não paravam de vir. A cada esquina que eu percorria, eram mais e mais. Passei pelo shopping La Plage, pelo hospital, por vários lugares. Mais de 1 hora sem parar. E de onde eu tirei toda essa força? A cada vez que uma horda vinha, olhava para minha irmã. Ela era minha motivação. Até que encontrei um beco. Livre deles. Entrei sem hesitar. Alguns me seguiram, porém o beco seguia á outro beco, dessa vez sem saída. E minha salvação havia chegado. Uma lata de lixo, daquelas de restaurantes, grandes. Corri mais rápido ainda e abri a lata. Coloquei o banquinho de Alice e me joguei lá, fechando calmamente e tampando a boca de Alice, que começara a chorar. Isso me doía muito, ter que tratá-la assim. Mas era necessário, senão nós 2 morreríamos á mingua. Ouvi os grunhidos passando pelo beco, até todos cessarem, e lá, reinou o mais completo silêncio. Eu havia sobrevivido.

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    Capítulo 3 - Condenados

    Deixei meus ânimos e músculos se acalmarem para pensar no que faria agora. Estava em meio á uma pilha de lixo, que até então não fedia á nada. Então, quando meu coração começou a bater fraco, percebi o horrível cheiro daquilo. Quase cheguei a ponto de vomitar, porém me segurei. Não sabia se estava seguro para ir fora, mesmo que não houvesse mais nenhum grunhido, e como estava com fome, resolvi comer ali mesmo. Seria difícil, sim, mas não impossível. Liguei a lanterna e comecei a abrir a mochila. Foi quando Alice começou a chorar. Peguei a no colo e comecei a cantar a “clássica” música de nanar:

    - Nana, neném, que a cuca vai pegar...

    Enquanto cantava e a balançava carinhosamente, fui vendo o que havia dentro da sacola. Achei um pacote de bolachas com recheio, e fiquei fitando-o, até Alice para de chorar e dormir. Provavelmente minha princesinha estava com fome, mas não podia fazer-lhe nada ainda; ela não comeria os alimentos que eu dispunha. Abri o pacote de bolachas e comi algumas, apenas para realmente matar a fome, não para ficar cheio. Racionar comida, agora era essencial, para não fazer visitas aos supermercados frequentemente. Tomei um gole d’água de uma garrafa que achei na casa e parei um pouco. Decidi refletir tudo que já havia acontecido. Desde que tudo começou, passaram-se mais ou menos 1 dia e meio se não me engano. E eu estava morto de cansado. Decidi tirar alguns minutos de soneca. Sim... Alguns minutos...

    14 horas depois...

    Acordei... Finalmente... Meu deus, que horas são? Liguei meu celular para checar, já que era a única forma de saber. 6 e 30 da tarde. Meu deus, não! Como sairia dali agora? E Alice me acordou, chorando. Mesmo sonolento, peguei-a no colo de novo e cantei a música. Depois de alguns minutos (sim, ela estava muito mais aflita), ela parou. Ela estava sim com fome, então peguei um pouco do leite e fui despejando em sua boca, porém em minúsculas quantidades. Quando vi que estava satisfeita, parei. Nisso, abri a porta da lata de lixo, e olhei para o céu. Noite. Ótimo. Teria que passar outra ali mesmo. Peguei meu celular e tentei encontrar alguma rede sem fio. Sem êxito. Liguei-me a rede móvel, e para minha surpresa... Triiiiim! Uma nova mensagem!

    Sem hesitar, abri a mensagem. Era de Nat. Meu deus, ela ainda estava viva? A mensagem dizia: “Nik, não sei se você ainda está vivo, se pode ler esta mensagem, se você está aqui na cidade ainda, se foi para o centro de refugiados de Seattle. A única coisa que eu quero que saiba é que eu te amo muito e sempre vou te amar! Qualquer coisa que aconteça comigo, eu ainda te amarei. Cuide-se Nik, e muito bem! Do amor da sua vida.”

    Isso reacendeu uma chama em meu coração. Aquela mesma que aparecia nos momentos mais íntimos com ela. E nisso, eu tive uma esperança. Esperança de que, algo ainda daria certo. Foi quando ouvi tiros. Tiros? Sim, tiros! Eu era um pacifista, nunca gostei de armas. Mas tiros naquelas circunstâncias eram ótimos. E meu instinto humano falou mais alto ao do protetor. Peguei a cadeirinha de Alice e a mochila e saí do beco sem saída, voltando ao beco dos mordedores. Agora, sem eles, todos atraídos pelos tiros. Fui me esgueirando até a esquina do beco, onde puder ver 12 homens fortemente armados em cima de jeeps e caminhonetes, de fuzis automáticos e rifles com lunetas, aniquilando alguns dos demônios. E eles não paravam de atirar. Quando se acabou os tiros e eles estavam se recolhendo, me precipitei e quase fui ao encontro deles, só não o fiz, pois vi um casal e duas crianças, uma de meia idade e uma que eu julgava ter 5 anos no máximo, saírem de uma moita e se aproximarem do carro. Gritaram com alegria e perseverança, pedindo por salvação. O maior de todos, que se parecia com aqueles gladiadores romanos falou para ficarem onde estavam e que levantassem as mãos. A família assentiu, e os mesmos fizeram. O brutamontes perguntou se eles tinham armas, e quando disseram que não, ele simplesmente pegou sua M240 e assassinou todos eles, inclusive as crianças. Quando vi a cena, minhas pernas tremeram e eu caí. Notei que um deles percebeu o barulho feito por mim, mas eu já estava nas sombras e por lá ficaria. Da sombra, observei todo o movimento. O brutamontes desceu da caminhonete e foi aos corpos, brutalmente sem vida. Chutou todos eles, para se certificar de que morreram. Quando teve certeza, mandou todos subirem e falou:

    - Vamos rodar, antes que mais deles venham. Quero economizar balas.

    E pouco a pouco os carros foram sumindo na nebulosa noite. Meu deus, eu ainda pensava o que estava acontecendo. Não era mais fácil ajudar aquela família pobre e indefesa? Porque ele matara todos eles? Aproximei-me dos corpos e olhei para cada um. Todos eles morreram sorrindo, como se esperassem algo bom. E agora, estavam no paraíso. Um sentimento de raiva tomou conta de mim, assim como de angústia e pena. Mas eu teria de sair dali, os mordedores seriam atraídos. Porém antes disso, voltei ao beco e coloquei Alice do lado da lata de lixo, e voltei á rua. Antes que qualquer mordedor pudesse me achar, arrastei os 4 corpos e coloquei-os na lata de lixo com cuidando, um abraçando o outro., para que nenhuma ***** alcançasse-os e devorassem sua carne. Não podia os enterrar, mas sentia que aquilo, que era o máximo que eu poderia fazer era na verdade o certo.

    Voltei ao meio da rua que já estava um pouco infestada de zumbis, que por causa da alta neblina não me perceberam. A família deixou cair suas bolsas quando foram atingidas pelos tiros. Recolhi todas elas e levei-as de volta para o beco. Comecei a abri-las e verificar o que havia dentro. Na maior e na média, que deduzi ser do pai e da mãe, havia montes de comida enlatada e não perecíveis, além de uma lanterna, algumas roupas e fotos de família. Para completar toda a carga, produtos de limpeza pessoal e cosméticos, e 2 cobertores médios. Na bolsa das crianças, montes de brinquedos e algumas roupas, além de biscoitos de chocolates recheados. Decidi recolher toda a comida, a lanterna, uma escova de dentes nova, ainda na caixa, e uma pasta de dentes na metade, já que infelizmente eles não usariam mais, e as bolsas que me serviriam bem. Coloquei tudo que recolhi em minha bolsa maior adquirida anteriormente. Deixei 1 dos cobertores para fora, para usá-lo durante a noite. Eu planejara não sair dali, e era o que eu faria. Por fim, coloquei todas as fotos da família na lata do lixo que serviria como cova, e fechei-a com a tranca, para ninguém, mas ninguém mesmo, nunca mais perturbar aquela família. Enquanto fazia tudo isso, me lembrei da cena do fuzilamento. Então, a anarquia agora reina no mundo? Era o que parecia. Nem a doutrina de Marx havia prevalecido; ninguém dividia nada com ninguém, todos queriam para si mesmo.

    Antes do meu próximo ato, pensei no que faria. Onde eu estaria? Liguei meu celular de novo e abri o aplicativo de latitude. Estava indicando que eu estava na Rua James Patterson. Coloquei a rua de casa como ponto de chegada, e indicava 1 quilômetro e meio. 1 quilômetro? Meu deus, então eu andei tanto assim a pé? Pois na noite em que tudo começou, eu andara no máximo 500 metros até capotar. Voltaria para casa, essa isso que faria. Para ver se meus pais ainda estão vivos, para ver se a vida recomeçaria e isso tudo seria um pesadelo. Meus pais. Fazia mais de 2 dias que não falava com eles. Teria de voltar para lá. Porém, não de noite. E não poderia dormir naquele beco; rapidamente os mordedores seriam atraídos. Olhei em volta e achei uma porta, daquelas de restaurante. Olhei pela fechadura e não havia mordedores. Entrei sem fazer barulho e tranquei a porta com algumas caixas que encontrei. Olhei em volta, era uma cozinha. Só havia 1 única porta além da qual eu entrei. Olhei pela fechadura novamente; era o salão. Infestado de zumbis. Felizmente estava trancado com todas as fechaduras, mas para reforçar ainda coloquei mais caixas. Coloquei o banquinho de Alice no chão e estirei-me sobre o mesmo, colocando o cobertor em cima de mim e dela. Antes de desligar meu celular, coloquei despertador para as 6 da manhã, porém colei o celular ao meu ouvido e coloquei baixinho, para que Alice não acordasse assustada e atraísse mordedores. Então me ajeitei e dormi sobre meus próprios braços, na minha primeira noite de sono calma.

    Aproximadamente 7 horas depois...

    Acordei. Acordei revigorado. Agora sim, estava pronto para tudo que viesse. Minhas pernas já não mais doíam e meus olhos não pesavam. Acordei feliz, também. Feliz? Como, em meio á esse condenação de Atlas? Eu sonhara com tudo dando certo. No começo do sonho, eu era pequeno e encontrei meus pais, que me chamavam por Nik. Eles me levaram á um campo florido, onde brincavam de esconde-esconde comigo. No final, eles me levaram á uma cesta de piquenique repleta de guloseimas. Depois, tive um pulo do sonho. O mesmo campo florido, porém eu era adulto. E quem estava ao meu lado era Natalie. Nós éramos os pais da vez. E chamávamos o nosso filho. Aconteceu tudo do jeito que sonhei com meus pais. Porém, quando Natalie foi pronunciar o apelido do nome de nosso filho, o sonho acabou. Pena. Queria saber, pois na certa se algum dia eu tiver um filho, daria o nome do mesmo.
    Acordei eletrizado. Preparei o café da manhã de Alice (que era na base do leite, mesmo sem saber se faria mal ou não) esquentando por uma ****** de sol de uma janela, e dessa vez variei no cardápio: comi algumas batatas chips, e tomei um gole de suco que achei na bolsa da família da noite passada.

    Depois que Alice terminou, abri um pouco da torneira que havia água corrente; Lavei a garrafinha de Alice, e escovei meus dentes. Também passei de leve nos dentes de Alice, mas sem pasta. Quando acabei, coloquei tudo de volta na mochila. Como não seria viável carregar Alice e o banquinho no colo, improvisei com o zíper, o ferro do banco e muita força no braço, um suporte, de modo que ele não caísse. Abri a porta lentamente. Fui-me de novo, ao encontro do novíssimo mundo. O beco em que eu estava não havia mordedores, porém o beco maior que dava entrada para duas ruas havia um deles caído. Não o alertei, e continuei pela rua onde a família não tinha sido morta; a rua paralela ao massacre. Eu estava mais confiante e decidi achar um carro. Quando fui adentrando a rua, Alice começa a chorar. A rua, que estava infestada de mordedores, logo se alertou ao extremo. Logo vi um carro, um Crown Victoria 2002 meio sujo de barro, com a porta semiaberta. Tratei de correr antes que qualquer um deles me alcançasse. Quando fui entrando, percebi que havia um cadáver, ainda recente no banco. Joguei-o para fora numa rapidez que adquiri nessas últimas horas e me tranquei dentro do carro. O cadáver, com um tiro na cabeça, ainda havia sangue quente. Serviria de atraso para os zumbis, que se lançaram ao vê-lo. Enquanto isso, Alguns deles se posicionaram á frente do carro e nas janelas, porém estavam todas fechadas e as portas trancadas. Tratei de botar Alice no passageiro e procurar a chave. Era costume de moradores da nossa cidade, esconder a chave em alguma parte do carro. Procurei-a por minutos, e quase enlouqueci, pensando que tinha me colocado numa enrascada. Porém, pensei positivo, pensando que meus pais ainda estivessem vivos, assim como Natalie. Acabei encontrando a chave do carro no para-sol do carro, no lado do passageiro. Tratei de ligar o carro apressadamente, que estava com a gasolina na metade e me mandar dali. A partida foi difícil para o carro, com tanto peso de zumbis em cima dele. Mas logo todos penderam para o lado e eu disparei. Tratei de ficar calmo agora, já que não haveria mais carros nas ruas. E a cada rua que passava mais e mais zumbis. Verifiquei se o rádio do carro pegava; não o rádio em si, mas o toca-discos estava perfeito. Enquanto dirigia, procurava algum CD. Encontrei o álbum L.A Woman do The Doors, uma das minhas bandas preferidas. Coloquei a faixa Riders on the Storm e deixei-me levar daquela tempestade que se formava no mundo...

    20 minutos depois...

    Não estacionaria o carro perto de casa. Felizmente, minha rua continha poucos mordedores. Tratei de colocar o carro á uns 300 metros, e o resto corri, a pé. Chegando em casa, olhei para a garagem; destruída. Entrei em casa e tranquei todas as portas e fechei as janelas com as venezianas, só deixei as do segundo andar abertas. Não havia grunhidos, apenas fora da casa, então minha casa estava intacta. Voltei ao térreo e me deparei com uma cena estranha. 2 bolsas e 1 mala de viagem, em cima do centro perto da TV. Meu coração se apertou. Junto, havia uma nota. Comecei a ler:

    “Nik, aqui é a mamãe. Se você estiver lendo isso aqui, não se preocupe comigo e com seu pai! Nós estamos em um lugar melhor agora. O mundo virou um inferno desde que começou, e acho que você sabe o que eles são. Você sempre foi esperto, meu filho. Agora, você fugiu daqui. Se algum dia voltar, por favor, leia isso e leve tudo que deixei nessa mala, e vá embora para o centro de refugiados com sua irmã. O mundo não é mais como agora, Nik. Pegue algum carro, na rua mesmo, e vá. Não se preocupe com nós ou com amigos, o que importa agora é sua própria vida. Não se esqueça que eu e papai te amamos e sempre te amaremos.
    Com amor, mamãe.
    P.S: Por favor, se alguém encontrar isso antes de meu filho, levem tudo o que estiver na casa, porém deixe essas malas e a nota na mesa! É a palavra de uma mãe aflita, escrita nessa carta.”
    Cai no chão e comecei a chorar. Eu estava acabado.


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    Capítulo 4 - Fixação

    Comecei a surtar na sala. Gritei muito, pedindo perdão á deus pelo que eu tinha feito. Aliás, o que eu tinha feito para merecer uma vida daquela? Perdi meus pais, meus amigos, minha namorada, minha família, minha escola, minha vida. Por que eu estaria passando por isso? Por quê? Comecei a descontar minha raiva toda, em pensamento daquelas criaturas horrendas. Elas tinham sido a causa de tudo aquilo. De todas as mortes me envolvendo. Até a morte da pobre família, na rua da noite passada. Fui até a cozinha, e avistei um faqueiro. Corri em sua direção e peguei a mais afiada que tinha. Para testar, sim, eu fiz uma coisa louca: cortei meu próprio braço, rasgando desde o início do Rádio até o começo do pulso. Espirrou sangue, sim, mas eu não sentia dor. Apenas ódio. Abri a porta num chute e vi 3 demônios. Fui correndo ao encontro deles, e me joguei em cima do primeiro, já cravando a faca. Retirei-a e um deles tentou me pegar por trás. Enfiei a faca na barriga dele de costas e dei-lhe um soco no queixo que o derrubou, e eu liquidei-o esmagando sua cabeça com o pé. O último estava longe, e usei a mesma estratégia do primeiro. Quando acabei, fiquei ali no gramado, deitado e olhando para o céu, chorando. Logo, viriam mais, então entrei e fui para o meu sofá. Não sei o que tinha dado em mim, nem aonde adquiri aquelas habilidades, nem a força para fazer aquilo. Fiquei ali sentado, chorando incondicionalmente. Não me importava se algum deles me ouvisse, eu precisava daquilo. Coloquei minha cabeça sobre as pernas e ali fiquei. Quando retirei minha cabeça, tive uma visão. Minha mãe estava na minha frente. De imediato, eu pulei de alegria, pensando que aquilo fosse uma brincadeira de mal gosto de alguém que passou por ali, até porque os armários da cozinha estavam quase vazios. Corri e abracei minha mãe:

    - Mããe! Você está viva! Graças a deus, não sabia como ia continuar. – Ela me abraçou de volta, chorando e rindo, porém estava um pouco séria.

    - Nik, eu quero que você cuide bem de sua irmã, ok? Eu já falei que eu estou num lugar melhor agora, porém não quero isso para vocês. Vocês têm de viver, tá ouvindo? Você tem a obrigação de viver, e de proteger sua irmã! – Comecei a chorar novamente. Aquilo era tudo da minha consciência. Mas, se minha vontade se realizasse, eu ficaria ali para sempre. – Nikolai, eu quero que você saiba que eu sempre vou estar te olhando daqui de cima, e eu sempre vou te amar. Se precisar de mim, tente me chamar e se puder, eu virei. Deus está com você. Filho. Adeus. – E então, vi a imagem de meu pai, me dando um tchau amoroso, levando minha mãe pela porta da entrada, que se transformara numa porta brilhante do lado de fora. Retomei a consciência e eu estava deitado de bruços. Não se passou nenhum minuto; era exatamente a mesma hora. Foi aí, que eu percebi, que mesmo descrente como era, Deus não me abandonou. A primeira coisa que fitei foi a bíblia sagrada de minha família e a cruz em que Jesus foi crucificado, feita de porcelana. Ajoelhei-me. Abri a bíblia no salmo 90, que, todo dia minha mãe lia, mas eu tinha preguiça de acompanhá-la.

    “Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente.

    Dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio.

    É ele quem te livrará do laço do caçador, e da peste perniciosa.

    Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção.

    Tu não temerás os terrores noturnos, nem a flecha que voa à luz do dia,

    Nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal que grassa ao meio-dia”.

    Aquelas palavras se refletiram no que acontecera esses últimos dias, e realmente, percebi que ainda havia um Deus, e que ele estava protegendo-me. Procurei por uma vela na gaveta da cômoda que a bíblia estava e acendi-a. Com isso, minha alma se purificou, e assim pude perceber que nem tudo estava perdido, literalmente. Até fiquei feliz; coisa que achei que fosse rara daqui para frente.

    Ouvi Alice chorar, então estava na hora de sua comida. No armário de minha casa, pelo menos ainda havia o leite em pó para crianças especial dela, e aquilo serviria, pois leite materno agora era impossível. A eletricidade ainda não tinha sido cortada, então tratei de esquentar no forno micro-ondas. Quando estava bom, achei uma mamadeira e comecei a dar-lhe, com ela no colo.

    Depois de tudo, fui reparar-me. O ferimento mais antigo, do acidente de carro na noite inicial, eu simplesmente esquecera e não me dei conta que estava pior que antes a aparência. E o ferimento do braço, agora que parou de sangrar, precisaria de um curativo. Subi as escadas e retirei-me para meu quarto, colocando Alice em seu no quarto dela, que era ao lado do meu. Sentei na minha cama, retirei a fita milagrosa do porão que me teve 1001 utilidades, e comecei a tirar minha roupa. Quando estava completamente nu, chequei primeiro o ferimento do braço que havia feito com raiva. Não estava profundo também, por sorte, mas abrangia uma grande área. Infelizmente, agora já consciente, o ferimento queimava como carne em chama. Já o da perna, estava melhorando. O algodão em si, não parecia mais algodão, e sim um tecido tingido de vermelho. Comecei a tirá-lo de leve, já que estava grudado. Retirei com cuidado, para não fisgar nas partes cicatrizadas e abri-lo de novo; era o que eu menos queria. Quando retirei todo o algodão, Passei a mão sobre ele. Já não doía mais, e a cicatriz estava em bom estado. Apenas teria de tomar cuidado para não o sangue coagulado não grudar em calças, então comecei a pensar em usar shorts. Era o que faria. Cansadíssimo, fui ao banheiro para banhar-me. Estava fedendo, sim, e de sangue para piorar. Minha roupa, coloquei no cesto das roupas sujas. E iria lavá-la sim, pois agora eu dispunha de mais tempo que nunca. Deixei a água quente fluir sobre meu corpo, e lá fiquei. Retirei todas as impurezas dele com o sabonete líquido e passei uma boa dose de shampoo. Aquilo me revigorou, e depois do banho quente, passei desodorante e perfume, como se fosse um dia normal. Coloquei uma roupa completamente limpa e deitei-me na cama. Estava exausto de tudo que eu havia passado. Mas, eu não poderia dormir.

    Havia muito o que fazer ainda. Além de que, desestabilizar minha rotina, virando uma pessoa noturna, me traria problemas. Á luz do dia, as criaturas eram mais facilmente vistas, então eu não correria tanto risco. Tratei de primeiramente, ir de novo ao banheiro e procurar gaze e esparadrapo, para fazer um curativo no braço e na perna. Demorei um pouco, mas no fim até que saiu razoável; daria conta de ficar com ele por mais de uma semana, se preciso. Então, me lembrei das malas que minha mãe havia deixado. Desci as escadas rapidamente e fui checa-las. Primeiro, abri a mala de viagens. Ali, estava separado por uma divisória que minha mãe improvisara com um pedaço de madeiro largo e fino, minhas roupas e as roupas de Alice. Havia 8 camisetas e bermudas, todas em formato de pequenos rolos com 1 sobrepondo a outra, de modo que coubesse tudo, e por cima delas, mais 12 cuecas. O enxoval de Alice estava dividido entre roupas de frio e de calor. Puxa! Minha mãe, mesmo sabendo que iria morrer ainda me ajudou, como sempre. Não chorei, ao contrário, sorri. Comecei a abrir a primeira bolsa de viagem. Lá, encontrei muita comida; pacotes de bolacha, pães, sucos em lata, e outros alimentos não perecíveis, além de latas e latas de leite para Alice. A outra bolsa continha mais uma lanterna, minha escova de dentes e a de Alice, vários pacotes de fraldas, caixas de pasta de dentes, desodorantes, perfumes, sabonetes, dentre outros itens de limpeza pessoal. A lanterna que eu achara com a família morta, e essa que minha mãe me dera, acabariam rápido, pois eram á pilha. Já a que eu encontrei na casa, na noite do acidente, aquela sim seria de ótimo proveito. Munida de um dínamo, recarregaria ela a hora que eu quisesse. Assim, decidi priorizar primeiras as lanternas de pilha, de modo que eu usasse-as rapidamente. Quantos aos alimentos, decidi volta-los ao armário da cozinha, pois não pretendia sair de minha casa. E, como o abastecimento elétrico ainda estava ativo, voltei alguns que poderiam ser guardados em geladeira, como os sucos. A mala de viagem, porém, deixaria como estava. Qualquer saída repentina, eu pegaria a mala.

    Decidi fazer um plano de afazeres. Primeiro, já que eu me manteria em casa, limparia o quintal daqueles corpos horrendos e taparia todas as janelas. Segundo, eu daria um jeito de fechar o quintal apenas para mim, algum tipo de cerca improvisada ou algo do tipo. Terceiro, saquearia supermercados e mercearias próximas, em busca de alimentos que estragam fácil. Quarto, e mais importante da minha parte. Sobreviventes. Sim, um time deles. Seria ótimo para mim manter convivência humana. E quinto, se viável, uma boa arma de fogo. Não seria aonde acharia, já que as delegacias estariam saqueadas a ponto extremo, mas pensaria mais tarde. Escrevi num papel e colei na porta da geladeira.

    Já estava anoitecendo, mais ou menos 5 e 30 da tarde. Então decidi começar os afazeres amanhã. Mas, pelo menos me livraria dos corpos. Desci ao porão e tentei encontrar um par de luvas. Encontrei em uma estante, bem na entrada. Voltei a casa e abri a porta. Não havia nenhum mordedor por perto, apenas um deles bem distante, que não conseguiria me ver por nenhuma razão. Pouco a pouco comecei a pegar os corpos dos cães do inferno mortos, e coloquei-os junto á uma lixeira grande, de reciclagem, que havia atravessando minha rua. O primeiro e o último foram fáceis. Agora o segundo, era um daquelas pessoas que em vida, não faziam nada além de ficar comendo besteiras e sentar na frente da TV. Demorei um pouco e acabei soltando-o 2 vezes ao tentar levar á lixeira. No fim das contas, da lixeira, olhei para as 3 ruas. Á direita, á distância, pude ver “meu” carro e alguns casas que pareciam normais. Á esquerda, vi um carro capotado não muito distante, que eu julgava ser até lá uns 200 metros. E 2 mordedores abatidos no chão. Á frente, tudo limpo por enquanto, apenas o mordedor sem rumo, bem longe. Essa rua ligava a parte mais pacata e distante da cidade ao, agora, temível centro. Lá sim as coisas estavam realmente feias. Pretendia, passado um tempo, tentar pelo menos fazer um bloqueio entre essas ruas, nem que ele fosse feito de pneus empilhados com estacas de madeira. Voltei para casa e tranquei com todas as trancas as portas, e fechei as venezianas. Trataria de criar um envoltório de pano bem grosso nas janelas, com algumas aberturas, para então conseguir espreitar a noite sem fazer barulho. Fui ao segundo andar e tranquei tudo também, e fiz um “sistema de segurança” improvisado com Alice. Coloquei em seu quarto uma linha. Se alguém quisesse entrar ali e pisasse na linha, um sino tocaria e me alertaria, no quarto ao lado. E, meu antigo taco de baseball, que usei no campeonato regional, estaria bem na mesa ao lado da minha cama. Por enquanto, aquela seria minha arma. E eu não me importava, se mesmo humanos entrassem na casa; por Alice, eu era capaz de bater na cabeça de uma pessoa que parece hostil e fazê-la cair da escada, tendo uma fratura na coluna vertebral. Mas seria praticamente impossível alguém entrar, a casa estava muito bem trancada. Eram 5 e 55 da tarde, e o sol, no horizonte, começava a se pôr. Fui ao meu quarto e peguei meu telescópio. Eu possuía um, pela razão de eu participar de olímpiadas de astronomia. Não havia nada para eu fazer ali dentro de minha casa. Então, subi no sótão e do sótão, peguei uma escada e subi ao telhado. Montei meu telescópio ali, e não parecia haver nenhum mordedor por perto, então estava limpo. Atrás de mim, apenas floresta, e a minha esquerda e direita ruas desertas. O que me intrigou foi minha frente. Ali sim, morava o perigo. Posicionei meu telescópio num ângulo de mais ou menos 30 graus e fiquei observando. Ajustei mais zoom no telescópio e fitei um arranha-céu. Ali, havia janelas quebradas e até corpos, de criaturas que eu julguei serem pessoas de verdade, não mordedoras, que, com medo, tiraram sua própria vida. Então, pude ver no terraço uma pessoa, que me parecia um executivo, abrindo a porta e correndo, empunhando uma pistola. Foquei em sua visão e pude ver que se tratava de uma Glock 33. Pude ver uma horda das criaturas vinda de trás. Foi quando vi o clipe da pistola caindo. Sim, ele estava sem balas. Ele jogou a arma na cabeça de um dos zumbis, e correu para a ponta do prédio. Então tive uma surpresa. Ele pegou no colo, uma criancinha que eu pensei ter no máximo 6 anos. Ele estalou um beijo na testa dela e abraçando-a, se jogou do prédio. Nesse momento, tirei o olho do telescópio e quis morrer por presenciar aquela cena. Sim, foi horrendo. Tentei tirar a imagem de minha cabeça, mas não consegui. Foi quando olhei para leste, e vi o sol de pondo. Fiquei olhando para lá e deixei meu pensamento voar, a respeito de tal criança. Será que eles haviam sobrevivido?

    Voltei ao interior de minha casa, já que já estava de noite. Montei uma mesa em meu quarto e coloquei meu telescópio montado lá, em caso de eu precisar verificar algum perímetro. Decidi tentar ligar a TV. Consegui! E havia sinal da TV a cabo. Então, pelo menos, na Califórnia as coisas não estavam tão feias. Mas, o noticiário da noite não era nada bom. Decidi parar de ver aquelas cenas e troquei para um canal de filmes. Estava passando “2019, o ano da extinção”. Meu deus, será que eles só pensam em mortes? Troquei novamente e estava passando um filme policial. “O atirador”. Era bom, e eu amava bons filmes de ação. Coloquei o volume baixinho e comecei a ver. Quando, me lembrei do meu bom notebook. Corri para pegá-lo e enquanto assistia ao filme, liguei-o. Tentei conectar a Internet. A rede móvel estava fraca, porém, o Wi-Fi de um vizinho próximo que certa vez eu ouvi dizer a senha estava em sinal bom e ligado constantemente. Provavelmente, ele saiu as pressas e esqueceu ligada. Bom, eu aproveitaria, porque, além do mais em poucos dias a energia cairia. Chequei meu Facebook e dessa vez, vi 4 pessoas online. Sem surpresa, pois não havia ninguém conhecido. E, como sempre, mais e mais fotos da desgraça mundial. Apesar de tudo, uma delas me intrigou. Estava escrito, em uma daquelas páginas de profetas que se dizem conselheiros de deus, que os centros de refugiados eram uma baboseira, e que estavam dominados. Baboseira era o que ele dizia, com certeza. E ainda incentivava as pessoas á encararem aquilo, como uma coisa de Deus, que já foi prevista. Não acreditei em metade daquelas palavras. Decidi me descontrair e liguei meu Xbox360. Coloquei um jogo tático, Battlefield 3, para passar horas ali, a fio. No multiplayer, achei salas com 3, 4 pessoas online. Mesmo assim, dava para o gasto. Se o inferno estava fazendo um cerco contra mim, porque eu não aproveitaria enquanto pudesse?

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    Capítulo 5 - Exilados

    O despertador tocou as 8 e 30 da manhã. Levantei-me, e lavei meu rosto com água gelada do banheiro, para literalmente “acordar”. Estranho que ainda houvesse abastecimento de água, assim como de energia elétrica. Mas, provavelmente acabaria logo. Então, logo de manhã, já tive uma ideia. Juntei todos os galões de água que consumíamos em casa, e passaria a enchê-los, para reservar água limpa. No instante que iria começar a fazer meu café da manhã, que agora não passava de fatias de pão com manteiga, para gastá-la e não estragar rápido, Alice começou a chorar. Imediatamente, procurei por sua mamadeira em um armário e esquentei um pouco de leite, com o pó nutritivo. Levei-a para baixo e coloquei-a em meu colo, dando a comida em pouquinhos. Não reconheci minha irmã! Estava muito suja, como nunca estava. Resolvi que depois do café, dar-lhe-ia um banho. Meu café foi seco, e eu tive que tomar água mesmo, por não havia tempo para uma coisa melhor. Para distrair, coloquei uma música no meu celular. “From The Beginning”, do trio Emerson, Lake and Palmer. A música me fez relaxar, e voar adentro paraísos maravilhosos. Quando a música terminou, me vi lúcido e já tinha devorado todo o pão. Coloquei o prato na pia e fui tratar do banho de Alice. Nunca havia feito, seria a primeira vez. Quando tirei sua fralda, quase caí, por causa do fedor. Céus! Eu esquecera de trocá-la por mais de 2 dias. Dei-lhe o melhor bando que podia e coloquei uma fralda nova, assim como novas roupinhas. Perfeito! Ela estava limpa como antes. Já sonolenta, deitei-a em seu berço e fui cuidar da vida.

    Como havia pensado, juntei os galões e enchi-os de água potável. O processo demorou menos que esperava, em torno de 20 minutos. Sentei no sofá um pouco, para pensar no que fazer agora. Lembrei-me que precisava manter uma rota de fuga em dia. O carro que estava a mais de 200 metros era bom, porém um dos pneus estava ******* e a gasolina, a última vez que olhara, 2 dias atrás, estava no vermelho. Então, aquele carro era inviável. Precisava de um novo. Mas como, se eu não possuía as chaves dos mesmos? Ligação direta. Sim, precisava aprender. Corri para meu quarto e peguei meu celular. Liguei-o e torci para que o Wi-Fi do vizinho ainda estivesse ligado. Tive êxito, estava! Abri meu navegador de internet. Fui diretamente ao assunto e procurei por “Ligação direta em carros”.

    Tive muitos resultados, porém abri o que havia mais visualizações. Lá, ele explicava que era um método eficaz de ligar um carro, porém você deveria provar que o carro era seu e blábláblá. Agora não importava. Pulei para a parte técnica. Estava em passos. Primeiro, deveria se retirar a tampa inferior ao volante, onde se conectam os fios. Depois, deveria se achar os fios da ignição, da bateria e do motor de arranque. Como eu acharia? Pesquisei sobre cores dos fios. Constava que de qualquer carro, o da bateria são sempre vermelhos, o do motor de partida era geralmente amarelo e o da ignição variava muito. Ainda constava que eu precisaria de fita isolante, alicate, cabos jacarés, e outros materiais básicos. Aquilo eu dispensava, embora houvesse fita isolante no porão e alguns fios de cobre de 3 metros. Segundo passo: Desencapar uma pequena parte de todos os fios. Terceiro: Ligar uma das extremidades de cada jacaré nos fios desencapados. Por último, ligava-se o jacaré do fio da bateria e o jacaré da ignição juntos. Se estivesse certo, as luzes do painel se acenderiam. E então, se encostava o motor de partida nos 2 outros jacarés e pimba! O carro pegava. Bom, jacarés eu não tinha, mas era bom aluno em física e conseguia manusear fios de cobre, então faria uma gambiarra e tentaria ligá-los com fios de cobre. O carro que eu tentaria a façanha seria justamente aquele que eu tinha a chave, a 200 metros.

    Fui correndo até lá e trouxe o carro para mais perto de casa. Atrás de minha casa, havia uma espécie de mata alta e fechada, e ali perto pude ver uma estrada de terra clandestina. Coloquei o carro ali, para tentar não levantar suspeitas e absorver o barulho. Então, voltei em casa e certifiquei-me de que Alice estava em seu bercinho. Estava. Tranquei a porta de ser quarto e desci ao porão. Lá, peguei um estilete velho que avistei, sem muito corte, a fita isolante e os fios que eu tinha separado. Também levei uma lanterna, em caso de não ter visão. Antes de sair, porém, coloquei no mesmo site e anotei todos os passos num papel, até fiz um pequeno esquema de como deveria proceder. Depois de tudo concluído, tranquei a porta de casa e fui à estrada.

    Chegando ao carro, comecei. Tirei a tampa inferior do painel, e eu, subestimando os engenheiros mecânicos, achando que seria uma coisa fácil, encontrei um bolo de fios. Desgraça. Mas teria de tentar. Primeiramente, tentei achar os fios. O vermelho estava bem evidente, era o único. O amarelo, por sorte, também. Agora, a façanha era a ignição. Procurei distinguir, com a lanterna na boca, as cores de todos os fios. Os outros dois já haviam sido separados. Pude avistar 2 fios azuis juntos, 1 verde, 4 laranjas e 3 roxos. O verde era o único sozinho, então deduzi que seria ele. Comecei a montar o circuito: desencapei os fios, enrolei um pedaço, também descascado, do fio que trouxera que casa em todos eles, e liguei o da ignição ao da bateria. Ouvi um “click” e pude ver as luzes do painel ligarem. Minha esperança se acendeu, e improvisei um circulo com o fio da ignição para que o fio da bateria entrasse ali, a fim de apenas entortá-lo para não desprender, para que eu pudesse colocá-lo mais facilmente. Por fim, raspei o fio descascado que eu pensava ser do motor de arranque, quando ouvi um “Páá” bem grave no capô do carro, e pude ver uma fumacinha saindo de lá. Não sabia se explodiria ou não, mas sabia que eu acabara de criar um curto-circuito no carro. Droga. O único que eu tinha pronto, e acabei de estourá-lo! Como o ser humano é leigo!

    Voltei para minha rua e avistei mais 3 carros. Um estava relativamente perto, bem na esquina. Os outros dois estavam na rua da direita, o primeiro mais longe e o segundo, mais perto, porém se notava que os vidros estavam quebrados. Fui até o carro da esquina, que era um Toyota Corona 2001, e sem ponderar, meti o alicate na janela e felizmente o carro não tinha alarme. Abri a porta e me enfiei lá. Já de cara, encontrei um mapa interestadual, que poderia me ajudar muito. Fiz o mesmo processo, mas dessa vez não achei o fio amarelo. O que encontrei na verdade, foi um fio cinza se destacando pelo brilho. Julguei ser o fio da ignição. Fiz o mesmo processo, e na hora de ligar, não aconteceu nada. Tentei repetidas vezes ligar o fio vermelho, da bateria, no tal cinza, mas sem êxito. Achei outros fios, porém todos juntos e mais de 1. Tentei um fio que também achei que poderia ser, um que se assemelhava a um amarelo, porém de coloração bege. O resultado? O mesmo do carro da floresta.

    Bom, não sabia o que era esse que acabara de testar, mas o cinza, fui vir a perceber que era o motor de arranque. Bolas, mais um jogado fora. O próximo carro, que estava com o vidro quebrado e mais perto, havia uma pessoa morta no banco traseiro, então decidi abandoná-lo. O último, que era uma Dodge Dakota 2008, estava em perfeito estado e com aqueles plásticos na caçamba. Se conseguisse, pra mim seria ótimo. Porém, a rua em que ela estava, era próxima de uma esquina onde vi 2 mordedores. Precisava ser rápido e cauteloso. Quebrei o vidro, porém do lado do carona, e entrei por lá. Fiz o mesmo processo, e achei o fio amarelo. Tinha de ser agora. Avistei nenhum outro fio se destacando, apenas bolos de 2 ou mais fios.

    Rezei para deus, para que me ajudasse nessa hora aflita, e comecei. O fio verde, para mim, era o mais bonito. Fiz o processo com 1 dos fios, já que eram dois, e nada. Desencapei agora o 2 fio roxo de um bolo de 3 fios, e nada também. Desencapei o outro fio verde e tentei. Ouvi um “Traaaam” bem baixinho. Meu coração se apertou. Comecei a passar o fio rapidamente e repetidamente, e dentro de 3 segundos, o carro ligou. Meu coração se encheu de alegria e eu pude comemorar comigo mesmo, dentro de minha mente. Passei a fita isolante no fio da ignição e da bateria, mas passei muito forte para que não se soltassem por nada, e o do motor de arranque, deixei para fora. Os outros fios que desencapara, também isolei, pois temia um curto circuito. De casa até a rua em que ela estava, a rua da direita, eram mais ou menos 500 metros. Dei ré na caminhonete e estacionei-a dentro da garagem quebrada de minha casa. Finalmente, se algo acontecesse, eu poderia sair dali.

    Em casa, sentei no sofá e fui pensar no que fazer agora. Quando tive uma bela surpresa. Ao longe, comecei a ouvir um “vrummmm”, que parecia barulho de um helicóptero. Pensei ser fruto da minha mente solitária buscando refúgio em um ruído inocente, quando o ruído começou a aumentar, aumentar, aumentar. Então, meu ouvido pode claramente distinguir que era sim um helicóptero. Um helicóptero! Era a minha salvação daquele inferno! Saí na rua e comecei a acenar, mas o pássaro maquinário já havia sobrevoado minha casa, justamente na hora que percebi o que realmente era. Droga! E ele já estava tão longe. Não havia mais nenhum jeito de fazê-lo perceber.

    A vinda desse helicóptero realmente me abalou. Se ainda existiam helicópteros, poderia ainda existir governo? Mas uma coisa era certa: o centro de refugiados estava em ativa. Decidi, que, meu plano de “conquistar” a rua era falho e sairia dali o quanto antes. E faria isso agora.

    Decidi, porém, antes de partir, visitar uma mercearia e coletar suprimentos. Havia uma que minha mãe sempre me mandava para comprar frutas para o jantar, no final da tarde. Era á 2 quadras de casa, então decidi ir a pé mesmo. Antes, porém, esvaziei todas as mochilas que já encontrara, deixando apenas uma na SUV que eu roubei por precaução, assim como meu taco de baseball. Não o levaria, pois era muito pesado e volumoso, e desnecessário, que poderia ser convertido em peso alimentício. Comecei a minha jornada. Quando cheguei a mercearia, as portas estavam totalmente aberta, e o lixo tomava conta. Havia papéis e bandejas de isopor pelo lugar todo, além de garrafas quebradas e coisas do gênero. A fresta da porta que estava aberta não me deixava passar, então a abri lentamente. Pude ouvir o grunhido de alguns descerebrados, embora não conseguisse julgar quantos haviam. Fui o caminho todo abaixado, me esgueirando. Primeiro, passei por todas as fileiras de estantes do mercado, praticamente vazias. Contei ao total 3 descerebrados. 2 não tinham rumo; o último, porém, por uma sorte do destino viu uma porta de geladeira frigorífica aberta, na qual dava acesso a costelas de porco. E lá, ele devorava pedaço por pedaço da enorme fatia. Bom, eu coletaria o máximo de alimentos que pudesse, então comecei a saquear a mercearia. Passei pela seção de biscoitos e roubei o máximo que pude, deixando apenas alguns pacotes para trás. A mesma coisa na sessão de macarrão e produtos similares. Não viveria apenas de biscoitos, óbvio. Procurei roubar alguns sucos também, e refrigerantes que não ficavam ruins com o tempo, que eram “embalados” á vácuo. Mas, o meu objetivo eram as geladeiras. Ali ficavam os alimentos que ninguém queria pegar, pois estragavam rápido. Um dos descerebrados estava indo se juntar ao outro, da geladeira frigorífica, quando notei que eles me viriam. Abaixei-me, próximo a uma geladeira de corredor, onde se colocam caixas de hambúrguer e similares. Fui levantando devagar, e dentro da geladeira em que eu me “encontrava”, pude achar uma caixa de frango sem osso, descongelado. Puxei-a para mim com a maior cautela do mundo e comecei a abri-la. Credo! O frango quando não cozido parecia uma pasta! Eu não fazia ideia de como ele era, antes de consumi-los. Peguei um pedaço razoável, mas o que tinha mais sangue, e joguei-o a uma direção moderada com bastante força, perto da geladeira oposta a que eu me encontrava. O pedaço deslizou no chão, espirrando sangue para todos os lados. Instintivamente, os 2 mordedores saíram da geladeira e foram pegar o petisco. Quando comecei a me levantar, tive uma bela de uma surpresa. À distância, pude ouvir outro helicóptero. Sim, realmente era, pois meu ouvido agora se acostumara com o ruído. A princípio, os demônios não ouviram, mas quando ficou mais próximo, um deles pegou o pedaço no chão e começou a sair da loja, seguido pelo outro que também disputava. Por fim, vi o terceiro fazendo a mesma coisa. Com essa ótima distração, comecei o saque, e roubei por volta de 15 á 17 bandejas de queijos, presuntos, 8 pedaços de salames, 11 pedaços de salsichas, e frios em geral. Quando estava acabando a parte dos salames, para minha surpresa, meu dom de percepção falhara, e eu não notei um quarto morto-vivo. Meu coração se apertou e eu fiquei tonto. Por que, sempre que eu via qualquer coisa daquelas fitando-me nos olhos, eu desnorteava? A tontura só parou, quando o vi caído em cima de uma prateleira que caiu no chão, provavelmente por outros sobreviventes em estado de loucura, em busca de alimentos. Dali, ele não se levantaria. Tratei de acabar meu serviço rápido, porém antes de fazê-lo, notei que as geladeiras não estavam mais ligadas. Teria a luz acabado? Voltei a entrada da loja, porém, como sempre, me esgueirando. Quanto estava, mais ou menos 5 prateleiras da entrada, pude ouvir uma voz feminina, gritando:

    - Não! Alguém me ajude! Por favor!

    E a tal menina, entrou na loja. Não sabia quem era nem que queria. E a minha humanidade estava perdida, a ponto de que me escondi debaixo de um dos caixas de costas, e fiquei ali. Consegui ouvir a garota se dirigir ao andar superior da loja, e atrás dela pude ver uma horda tentando apressadamente fugir. E o som da horda, acompanhava o som de um carro. Sim! Um carro! Mas, se ela estava fugindo, estava fugindo da horda ou do carro? As portas da mercearia eram de vidro, e pude ver o carro dos assassinos da família, no dia do beco. Meu coração, mais uma vez, pregava uma peça em mim, me deixando quase sem consciência. Reconheci quase todas as faces dos assassinos, porém havia uma nova. Voltei à normalidade quando ouvi tiros, direcionados para onde ela estava no andar superior. Um grito histérico acompanhou os tiros, provavelmente dela, e de uma sequência de grunhidos incessantes no andar superior. Fiquei ali por mais ou menos 3 minutos, antes de planejar qualquer coisa. Pude ouvir o líder dizer, mais uma vez:

    - Vamos rodar.

    E lá se foram. A horda, agora desnorteada pelos tiros, só se infiltrava mais e mais pelo mercado. A porta por onde eu entrara? Bloqueada. Tinha de achar outra. E a garota? Provavelmente já estava morta, agora a questão é se estava baleada ou devorada. Mas, a minha esperança de encontrar sobreviventes, parece que morreu ali.
    Pude ver um carrinho de compras, de aço, no outro caixa, direcionando bem na porta de vidro. Levantei rapidamente, sem medo de ser visto e sem olhar para eles, impulsionei o carrinho contra o vidro, fazendo-o em pedaços. Estava fora do mercado. Mas fora do mercado? A maior horda que eu já vira. Nesses casos, aprendi uma lição que alguns garotos, os mais pirracentos, uma vez me ensinaram: “Se você está fazendo algo errado e um inspetor te acha, apenas corra sem olhar para trás, ouviu Nikolai?”. Neste caso, eu não estava fazendo nada de errado nem eram inspetores, mas a lógica era a mesma. E também não olharia eles nos olhos, aquele era meu ponto fraco. Em meio a multidão de demônios, desviando-me entre eles a qualquer custo, pude contar uma horda de sim, mais de 200 “pessoas”. Isso, sem uma conta precisa e sem olhar para os que estavam atrás. A horda se estendia até a metade da rua em frente a minha casa. Dali, pude vê-la. Meu plano? Pegar Alice, ligar a SUV e dar o fora da cidade. Corri como tal maratonista que NÃO era, e cheguei bufando em casa. Não perdi tempo: tranquei a porta e corri para cima, e peguei Alice no colo. Não tinha nenhum banquinho, esquecera-o no carro que eu estraguei na floresta.

    Quando fui sair do quarto dela para apanhar meu celular, esbarrei no interruptor de luz. Não acendia. Para não ficar que nem bobo, tentei mais 3 vezes acendê-lo, para confirmar, e nada. Então, a luz já era. Fui ao meu quarto, busquei meu celular e corri para as escadas. Quando ia abrir a porta da garagem, refletiu-me a bíblia sagrada e a imagem de Cristo na cruz. Pedi para que ele me ajudasse e também os peguei, em uma das mãos. Agora sim, corri as pressas para a garagem. Coloquei Alice com cuidado no carona, sem banquinho mesmo, e a comida junto com a reserva que acabei de coletar e a bíblia com a imagem no banco traseiro. Para minha sorte, a horda ainda estava na esquina. Quando ouvi grunhidos vindos da direita. Sim! Os helicópteros tinham atraídos todos eles, juntos com os carros e os tiros. Agora eu estava ferrado. Quando terminei de ligar a SUV, pude ver um dos defuntos andantes na frente do carro. Não ponderei, acelerei e o atropelei, espirrando sangue pelo vidro todo. Olhei para a esquerda e para frente e pude ver a maior horda que já tinha visto. Não se dava para nem ver aonde acabaria. Acabei pegando a rua da esquerda, a única que não estava infestada. Acionei o limpa vidros e quase morri de susto quando uma bala atravessou o para-brisa frontal. Não parei o carro e nem entrei em pânico, apenas continuei dirigindo. Então, lá no meio daquela horda, pude ver os assassinos dentro de um carro, atirando contra eles. Ou contra meu carro? Tinha impressão de que um se focava em mim, com um rifle de longo alcance, e os outros cuidavam das hordas. E era bem o que era. Outro tiro, dessa vez sibilou do lado de minha orelha direita. Pisei fundo ainda mais no acelerador e meti o pé na estrada. Olhei novamente e o carro já não mais estava ali.

    Andei por mais ou menos 9 minutos e parei por um tempo no acostamento e vi o mapa de rodovias. Meu plano, agora, era pegar a interestadual e chegar em Seattle. Porém, deveria passar mais ou menos 20 quilômetros ali, na rodovia municipal que eu estava. Ou, passaria por uma rodovia secundária, que pude avistar a entrada no mapa. Olhei em frente e a 400 metros no máximo, estava a placa de entrada dela. Liguei a SUV de novo e adentrei a rodovia.

    Não muito longe de onde estava, vi uma pequena casa junto a um pasto, com algum gado. Olhei para o relógio do carro que ainda funcionava e decidi que não encontraria lugar melhor para dormir, então decidi parar para descansar e me recompor. Entrei na casa, que estava limpíssima e sem nenhum grunhido para minha sorte. Subi as escadas de madeira e adentrei um dos quartos. Pequeno, mas com 2 camas de solteiro. Numa cômoda, pude ver uma foto de uma família. Como era linda, tal família! Uma pena que deveriam ter se enfiado naquele mundo, porém provavelmente estariam em Seattle. Os guarda-roupas, ainda estavam cheios das roupas do que pareciam ser os gêmeos do casal. Pude reconhecê-los pela foto, que se encaixava no perfil dela. Até a camisa que um deles estava usando, estava lá.

    Decidi deixar essas lembranças pra lá e deitei-me. Quando estava quase caindo no sono, Alice começa a chorar. Céus. Desci e tentei achar alguma caixa de leite para misturar naquele pó milagroso que até agora me ajudara. Achei um restinho, e misturei-o. Não havia sol para esquentar a mamadeira, estava nublado. então sentei-me numa cadeira e quase dormi também. Acordei de vez quando um pouco de minha baba, sim, caiu sobre meu braço, que estava nu. Passei um pequeno pano no local e subi com a mamadeira de Alice. Fi-la tomar tudo, e depois nanei um pouco com ela. Quando ela dormiu, pude ver meu descanso a vista. Mas não saí daquela cama. Dormi abraçado com Alice.

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    Capítulo 6 - Onde os fracos não tem vez

    ruídos diariamente! Não eram ruídos de helicóptero, se pareciam mais com carros. Um comboio deles. A princípio, por preguiça, não me levantei. Fiquei deitado na cama, estirado. Quando o tal ruído vinha se aproximando, abri uma pequena parte da janela, que era de cortina e espiei pela janela da frente do meu quarto, que dava visão a rua. O comboio ainda estava longe. Pude vê-lo à distância, indo sentido a casa que eu estava, como se estivessem rumando para Seattle. Seria um grupo de sobreviventes? Fiquei alegre por um instante, e um sorriso instantaneamente se formou em meu rosto. Ele foi substituído por uma expressão de dúvida quando pude claramente ver carros blindados. Seria um esquadrão do exército ou os assassinos. Meu deus, o que queriam os tais assassinos? Porque matavam pessoas inocentes? A expressão, de dúvida, agora era de pavor. Sim, eram eles. Pude distinguir até o “líder” deles, no banco do carona, á distância. Uma pena que tive de sair às pressas, sem poder pegar meu telescópio! Espero que o bendito ainda esteja na mesa lá de casa. Não sei nem se um dia vou voltar lá. Sim, tinha de esquecer. Esquecer todas as memórias do passado, esquecer que um dia o mundo já foi, ou parecia perfeito. Eles iam rumando e passaram pela casa, despercebidos. Não tirei os olhos dos carros, até que mais ou menos 200 metros o comboio parou. De lá, vi o capitão falar algumas coisas, e depois vi um dos jagunços, que carregava uma FAD, rumar até em casa. Devem estar se perguntando porque eu, que era pacifista, sabia nomes de armas. Eu era pacifista, mas adorava a Segunda Guerra Mundial e sempre fui influenciado pela família. Meu pai já havia me contado que meu tataravô tinha lutado nela, mas nunca se aprofundou. E em meu XBOX, eu apenas jogava jogos de tiros, praticamente.

    O subordinado chegou até o meio fio da pista e olhou para a Dakota que eu havia roubado, parada em frente á porta. De lá, fez sinais para o comandante, que acenou um “sim” com a cabeça. Do comboio do comandante, pude ver o tal franco-atirador que havia quase acertado minha orelha. Vi o tal apontando para a janela que eu estava espreitando, e senti medo. Mas não podia sair dali. Ele abaixou o rifle e continuei olhando para o soldado dentro do meu carro.

    Ele saiu de lá com, justamente, uma das minhas mochilas de comida reservas. Estranhou e apontou para o comandante. O comandante mandou um carro até lá e ficou esperando. Outro desceu, e pegou a minha bolsa. Deu algumas ordens para o jagunço ali, e pude vê-lo entregando ao outro uma faca de caça, que parecia afiada. Enquanto o carro dava ré, pude vê-lo furando os 4 pneus do meu carro, e abrindo o capô. Lá, ele cortou qualquer mangueira que eu não sabia qual era e guardou a faca no coldre da cintura. Então empunhou a arma e carregou-a. Estremeci. Veio vindo em direção á porta da casa. Nisso, corri para um armário estilo closet que estava em meu quarto. A porta do quarto estava aberta, mas não podia fazer nada. Na verdade, era até melhor. Ouvi a porta sendo chutada: sim, ele estava lá. Agora, pensei em toda a minha vida e no que eu fizera de bom e o que não fizera, e na verdade não me arrependi de nada. Se ele tentasse abrir o armário, chutaria a porta e jogaria Alice na cama. Eu morreria, mas ela continuaria viva, se eles não fossem tão ruins como achava.

    Pude ouvi-lo lentamente abrir todos os armários e começar a subir a escada. Parou no meio fio, quando viu a porta dos 2 quartos aberta. Acho que isso foi um pretexto para ele pensar que não houvesse ninguém ali. Mas e a comida? Aquilo era uma evidência. Ouvi-o ir até o quarto ao lado, e sair. Então ouvi a porta se abrir lentamente, e alguns passos no quarto. Ficou parado, ali. Depois saiu sem qualquer cautela, e não fechou a porta da frente. Sai do closet e voltei á janela. Pude vê-lo deixando a arma de lado, e pegando alguma coisa no coldre. Uma granada. Meu deus, eu estava literalmente morto agora. Vi-o apertando o gatilho, tirando o pino, e com um sorriso cínico no rosto, soltar o gatilho. Olho para a granada em suas mãos e jogou-a dentro da casa, depois correu sobre a SUV e se abaixou, tapando os ouvidos. Tapei os ouvidos de Alice com os dedos e naquela hora, olhei para a cruz de Cristo, e falei “amém”. Fechei os olhos, e 2 segundos depois a explosão. Ouvi barulho de madeira se esfarelando e vidros quebrando. O barulho foi tanto, e a explosão tão forte, que até a janela de meu quarto quebrou, espalhando pedaços de vidro por todo o lugar, que me cortaram. Pensando que o pior havia passando, 1 segundo depois um eco ensurdecedor, resultado de a casa não estar com ninguém dentro, consumiu meu tímpano. Fiquei desnorteado e tonto por um tempo, e caí ali mesmo. Vi algumas figuras se mexendo no quarto, alguns vultos. Não sabia distinguir se eles eram reais ou não. Os vultos desceram as escadas e desapareceram. Fiquei ali agonizando, até que Alice começou a chorar. Isso me fez “retomar” a consciência e tapar muito depressa a boca dela. Ela continuava chorando, porém agora não poderia fazer nenhum barulho. Olhei pela janela, e o carrasco, antes indo em direção aos carros, agora parou com uma cara de desconfiança. Teria ele ouvido minha irmã chorar? Ele fez um sinal, e á distância vi o franco-atirador mirar na janela de novo. Na hora, me abaixei e fiquei ali parado, detrás da cortina. Fui para o canto do quarto e olhei bem na fresta. O franco-atirador fez um sinal de “ok” com a cabeça e o carrasco voltou ao carro. Pouco depois, nem mesmo o barulho do motor deles podia ser ouvido.

    O que tinha acontecido, afinal? Estava me perguntando até agora. Porque eles faziam isso com qualquer pessoa que achavam? Não era mais fácil levá-las para seu grupo de sobreviventes, se é que eles tinham, ou até mesmo fazê-las de escravas? Fui junto à bíblia e à cruz de Cristo, e comecei a rezar um “pai nosso” e uma “ave-maria”, e agradeci ao bom Deus que tivesse me protegido nessa hora aflita. O mundo estava repleto de loucos, percebi. E não só zumbificados, mas humanos também. Coloquei Alice em meu colo, ainda chorando. Não sabia se a explosão havia afetado seus ouvidos. Nanei um pouco com ela, até que dormiu. Decidi descer as escadas e perceber o estrago. Os zumbis tomariam conta daquele lugar, isso era fato. O barulho atrairia hordas e hordas, que agora se intensificavam, nos primeiros dias desse apocalipse.

    Quando cheguei à sala, pude ver que os móveis e equipamentos eletrônicos já não mais existiam, assim como minha bolsa de mantimentos, os armários foram destroçados, uma pilastra de madeira da frente da casa que sustentava a pequena varanda tinha cedido, e a escada ficou impossibilitada em alguns degraus. E meu celular? Meu celular! Estava dentro do carro, mas se eu tivesse sorte ele ainda estaria lá. Corri para a SUV, e encontrei o mesmo caído no banco de trás. Por sorte, o assassino não o viu. Se visse, provavelmente estaria mais certo de que havia alguém na casa do que antes. Procurei qualquer outra coisa na SUV que me servisse, como alimentos e roupas. Não achei nada. Ali, sentado no banco do carro, Liguei meu celular para ver se ainda havia sinal da operadora, mas não encontrei. Como encontraria, também? A luz acabara não existiam mais fontes. A bateria do celular estava em 19%. Logo, acabaria e eu perdê-lo-ia para sempre. Entrei na casa devastada de novo e entrei em todos os cômodos que não tinham sido reduzidos á nada. Primeiro fui ao quarto que estava, e em uma das gavetas achei uma lanterna nova, semelhante àquela que eu possuía a base de dínamo. Entrei agora no quarto do casal, e não encontrei nada de útil. Na cozinha, agora esfarelada, um dos armários que não foram totalmente destruídos contavam com 2 pacotes de biscoitos de água e sal, e uma garrafa de água. Previ que agora, aquela seria minha alimentação, e toda aquela comida que roubei na mercearia foi jogada fora. E Alice? Teria de se virar com aquilo também. Na geladeira, que foi levemente danificada na porta, encontrei uma bandeja de salame e um pote de requeijão.

    O problema de comida estava levemente sanado, porém e como eu carregaria Alice? Voltei ao quarto do casal e procurei nos armários de novo, mas agora mais profundamente. O que encontrei, foi uma mochila de alça transversal, onde os bolsos ficam atrás. Um deles era bem grande. Ali seria o refúgio de Alice, contra todos esses males. Peguei-a pelo colo e tentei “encaixá-la” naquela mochila. Quando ficou bom, coloquei-a nas costas e pela primeira vez, senti dor nas costas. Sim, pois eu carregava Alice desde o início do apocalipse e nunca descansei apropriadamente. Mas, seriamente, eu não me importava. Ela era minha única família, então perdê-la seria praticamente perder minha humanidade. Peguei a comida que achei e coloquei nos bolsos restantes da mochila, e saí da casa. Fui até a SUV e fiz uma ligação direta. A princípio estava tudo certo, mesmo com o capô aberto. Desci do carro e fui fechar o capô para tentar seguir viagem, mesmo com os pneus furados. Não haveria tráfego, então indo lentamente seria uma boa opção. Quando cheguei perto de lá, pude ver uma fumaça estranha, que parecia vapor de água misturado com qualquer outra coisa que não sabia identificar. Depois de alguns segundos tentando solucionar isso, o carro morreu. Voltei dentro dele e fiz outra ligação direta. Funcionou também, mas morreu no mesmo instante. E a fumaça não parava de sair. Com medo, decidi sair dali correndo. Minha intuição dizia que algo horrível estava prestes á ocorrer. E foi o que aconteceu. Já na pista, depois de mais ou menos 50 metros que corri, o carro explodiu. Sim, explodiu. Foi ai que percebi que provavelmente eles haviam cortado a mangueira do radiador, ou qualquer outro lugar ligado á refrigeração. Aquilo era meu álibi. Saí correndo sem olhar para trás.

    Estava ficando de noite. Liguei meu celular para ver a hora exata, e estava em torno do começo das 5 horas. Eu deveria encontrar qualquer outra casa, ou pelo menos um carro que me desse abrigo. Continuei correndo sem olhar para trás, e na mata fechada que rodeava a rodovia, pude ver alguns descerebrados que vinham atrás de mim, por impulso. Foi quando, numa curva meio fechada, pude avistar uma fileira enorme de carros parados. Sem ninguém, óbvio. Praticamente um cemitério de carros á céu aberto, que foram abandonados repentinamente. Seria minha salvação? Corri para o meio deles, e procurei subir em um. Do teto do mesmo, pude ver uma fila interminável de carros, que não pude avistar o fim no horizonte.

    Fiquei procurando por um bom tempo, um carro com vidros abertos. Na maioria dos carros que eu passava, havia ocupantes mortos dentro, com tiros em suas cabeças, mas ainda sendo humanos. Em outro, vi um dos monstros morto e caído junto á uma pessoa, também morta. Uma cena que me intrigou foi uma criança que eu julgava ter no máximo 9 anos, mutilada no banco traseiro de uma BMW 325i modelo 95 em perfeito estado. No que vi a cena, virei o rosto e fechei os olhos, desejando nunca ter visto aquilo. Passei reto sem olhar para trás. Fui achar o “meu” carro depois de mais de 20 minutos procurando por ele.

    Adentrei o mesmo e tranquei todas as portas, e coloquei Alice no passageiro. Peguei uma das bolachas e comecei a comer. Depois de comer mais ou menos 3 bolachas e 1 fatia do queijo, que seria o meu jantar por hoje, peguei também um pouco da água e despejei um pouco em minha boca. Foi quando, no pôr-do-sol, ouvi alguns grunhidos. Amoleci no banco do carro. Levantei-me um pouco e tentei ver o que estava vindo. Não 1, não 2, não 5, não 10. Nem 100, 200. E sim, a minha morte. A maior horda que eu já tinha visto. Enquanto a água da garrafa, caia, eu me estremecia.
     
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  2. juninwho

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  3. ResBR

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    Parabéns,quem sabe um dia você vira escritor.Você tem muito talento.
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  4. Rokes

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    Talvez eu leia em um dia de tédio, abçs.
     
  5. VladmirMakarov

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    filhão eu disse pra ler quem quer, quem gosta lê, e quem disse que precisa ser tudo de uma vez? e eu não faço capítulo de dia em dia, não sou de ferro.
     
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  6. ArthCasagrande

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    História gigantesca. Parabéns pela história, pois deve ter dado muito trabalho. Talvez eu leia em algum dia que eu tenha mais tempo.
     
  7. juninwho

    juninwho Craftlandiano
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    é de diamante -qq
     
  8. VladmirMakarov

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    Comentários desnecessários de gente que não leu, não tem opinião formada que não fará diferença alguma no mundo ou que me critique sem ao menos conhecer meu esforço, eu corto.
     
  9. VladmirMakarov

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