Bom, naquele tópico deu muito carácter e bugou, não dava mais pra postar, então vou começar a postar aqui. quando bugar eu crio nova parte. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 7 - Auto-estrada Infernal Procurei me recompor e fechei a garrafa, colocando-a no porta copos do carro. Respirei fundo e tentei colocar algum ar nos pulmões; em vão. Quando mais eu olhava, mais ofegante ficava. Eles ainda estavam longe, porém ainda representavam uma grande ameaça. Sair do carro e correr de volta, naquelas circunstâncias? Não seria bom. O barulho da granada que explodiu a casa, provavelmente foi o que os atraiu para a rodovia. Mas não seria apenas aquela horda. Provavelmente, outros zumbis, porém na direção contrária a que eu estava, seriam atraídos, formando 2 hordas contrárias. De qualquer jeito, era suicídio. O que fazer então? Olhei para eles, e tentei medir a distância de onde eu estava para onde eles estavam. Dava-me mais ou menos 2 minutos, no máximo. Tratei de fechar todas as janelas abertas e trancar todas as portas. Tive sorte que o carro em que estava tinha os vidros pretos. Isso faria diferença? Não sabia se eles o olfato de uma pessoa zumbificada era melhorado. Se sim, era minha morte, pois meu curativo do braço estava encharcado de sangue. Coagulado? Sim, mas de que adiantava? Era sangue do mesmo jeito. Tratei de tentar relaxar e fiquei no banco. Peguei Alice no colo e comecei a cantarolar uma música para criança. Ela, dormindo, nem ouviu, mas seria até melhor porque não queria ela acordada. A horda se aproximava, se aproximava, até que o primeiro deles já estava no capô do carro. Parei de cantar e fiquei na espreita, fitando-o nos olhos. Passou reto, despercebido, na direção da casa que estava longe. Com ele, a horda se aproximava cada vez mais. Em questão de meio minuto, não conseguia avistar nem mais o céu; meu carro estava infestado. Dentre os andantes, pude até ver crianças e idosos, contaminados. Por sorte, meu carro era apenas mais uma barreira para eles, que não representava nada. À medida que eles se aproximavam, formava-se um leque de criaturas, deslocando-se para a esquerda e para a direita. Um deles caiu, esbarrando na porta aberta de um carro ao lado do que eu estava. Os outros, sem perceber, ou sem dar importância, apenas continuavam e iam continuando seu caminho. Pés e mais pés passaram por cima da criatura caída, que em segundos estava com a cabeça estourada no asfalto, morta. Não sabia se eles os zumbis eram algum tipo de parceiros, ou concorrentes. Não tinha a mente deles, na verdade nem sabia se eles tinham mente. Depois de um longo tempo, já ciente de que eu estava seguro ali dentro apesar de vacilar algumas vezes e olhar para a janela quando o carro era balançado pelos zumbis, liguei meu celular que estava com 9% de carga, para olhar a hora. Eu não sabia que horas eram, mas pude notar que o céu já não estava tão claro como antes. A noite viria e não tardaria para acontecer. Mais de 20 minutos se passaram e a horda não acabava. Pude contar mais de 1000 zumbis, sem erros. Não sabia o número exato, mas era esse aproximadamente. Depois de uns 7 minutos que chequei a hora no celular, o último deles acabou. Olhei para o vidro de trás, e não pude ver o fim da horda, no horizonte. Pensando que estaria livre e poderia continuar meu caminho para Seattle, fui abrindo a porta do carro. Até que, pelo vidro da frente, vi perto de uma curva, sair um carro dali. Um carro? Sobreviventes! Alelu... Não, de novo não! Os assassinos apareciam no horizonte. 2 carros se dirigiam pela estrada, mas sem alertar a horda atrás de mim. Eles estavam bem longes, mas para mim, estava colado ao meu vidro. Eles pararam os carros em uma forma de anel, e os soldados começaram a tagarelar qualquer coisa. O franco-atirador, sempre na caminhonete, mirava incansavelmente para a minha direção, para controlar a horda. Quando todos os zumbis estavam longe o suficiente, todos eles desceram dos carros e procuraram pegar suas armas, no camburão, que era o maior carro. Nunca tinha reparado aos detalhes técnicos daquele grupo, até que resolvi estudá-los melhor. Ao total, havia 5 carros: 2 caminhonetes que pareciam com Defender’s da Land Rover, com metralhadoras estacionárias em cima de um suporte circular; 1 camburão blindado onde parecia estocar-se os mantimentos e as armas; 1 carro esportivo, certamente um Aventador da Lamborghini, sujo de barro, onde quem controlava era o chefe; e por último, uma outra Defender, porém com o suporte fechado e com vários tripés em volta. Era o carro do franco-atirador, com certeza. Óbvio que era! Ele estava lá. Descendo da Aventador, o líder, agora reconhecível, deu ordem para os homens, já todos armados. Depois de alguns minutos, todos eles com as armas em punhos, começaram a vir em direção aos carros. Eles não usavam qualquer tipo de farda, nem veículos próprios do exército. Apenas coletes e mais coletes, com vários cartuchos de bala. Havia 3 deles seguindo em direção ao carro, e no comboio ainda ficaram 2 de prontidão, o franco-atirador e o líder do grupo. Dos que estavam vindo ao meu temível encontro, um deles usava um moicano e uma espécie de pintura verde nas bochechas. Empunhava uma M14 com silenciador, porém eu não sabia se era semiautomática ou automática. O segundo, eu reconheci por sendo o homem que atirou a granada naquela casa, pois vi sua semelhança e ele empunhava a mesma FAD, também com silenciador. O terceiro, um pardo de porte grande, usava uma máscara em todo o rosto deixando apenas os olhos nus e estava com camisa regata. Carregava uma L85A3 sem silenciador, de cartucho estilo tambor 100 tiros, o que caracterizava que ele era o “bruto” da turma. O “bruto” ficou parado no meio fio da pista da direita, e fez sinal com o dedo para eles se separarem por uma bifurcação de carros. Ali, ele ficou parado fazendo mira para qualquer coisa, enquanto os outros 2 se dirigiam na minha direção. Então, senti que minha hora finalmente havia chegado. Em todos os carros que eles passavam, eles transpassavam uma lanterna potente pelo vidro, enxergando tudo ali dentro. Se vissem qualquer corpo, mesmo morto, ainda atiravam na cabeça. Em breve eu reencontraria meus pais. Tentei pensar no lado positivo disso. Quando me lembrei de Alice. Como poderia deixa-la na mão daqueles bandidos? Outro pensamento me invadiu a cabeça: - Nik, eu quero que você cuide bem de sua irmã, ok? Vocês têm de viver, tá ouvindo? Você tem a obrigação de viver, e de proteger sua irmã! – E depois disso, ainda pude ver a imagem de minha mãe no banco do carona, estalando um beijo em minha testa. Retomei a consciência, e vi que eles estavam mais pertos de mim. Os outros carros que eles iluminavam, já estavam destruídos. Apenas o meu estava intacto. Será que eles desconfiariam daquilo? Não sabia. Eu sabia que teria de me esconder e esconder minha irmã também. Tratei de cuidar de Alice, primeiro, então tentei arrumar um lugar para ela, e bem depressa. O porta-luvas era muito grande, e os bancos dariam visão. Como o cachorrinho mandado estava vindo à direção da porta do motorista, coloquei Alice no lugar onde se coloca lixo, que fica rente á porta. Era bem espaçoso e ela coube direitinho. Já eu, teria de me virar. Cada vez ele ficava mais perto, e era o mesmo ritual. Iluminar, atirar, sair. Fiquei até pensando que nisso, eles seriam algum grupo de controle de doenças, mas não seria o caso. Um grupo desses estaria fardado, e não tentaria atirar em outros sobreviventes. Depois dessas seções de pensamentos, tive uma ideia. Embaixo do volante, onde eu fazia ligação direta, era um lugar bem espaçoso. Porém a caixa de fios impedia a minha passagem ali dentro. Se eu conseguisse retirá-la, e com algum esforço conseguisse me encolher ali dentro, certamente não seria visto. Mas e a caixa? Colocaria no mesmo lugar, porém no banco do carona. Comecei a puxar a caixa dos fios para baixo; em vão. Dei socos, até pontapés, mas nada funcionava. E cada vez mais, ele estava perto. Então, como que por um milagre, fitei o gatilho de um extintor. Extintor? Sim, todo carro tinha, era óbvio! Abaixei-me e retirei o lacre de segurança que o sustentava embaixo do banco, e comecei a puxar o outro lacre de segurança plastificado, dessa vez do próprio extintor. Não tentaria apagar nenhum fogo; o que eu faria era dar uma pancada. Até que percebi que para isso eu não precisaria retirar o lacre de segurança. Meus pensamentos voavam com o que poderia acontecer a partir de agora. Rezei um pouco e pedi para Deus ajudar-me. Então, com toda a força do mundo, dei a maior pancada na caixa. A mesma se fez em pedacinhos, mas o estrondo foi tão forte, mas tão forte, que o carro vibrou. A vibração foi percebida não só por som, mas por contato visual. E o devoto do Tio Sam percebeu isso. Veio correndo para o carro, e na mesma hora que ele começou, tive de me abaixar e entrar naquele covil. Pude ouvir os passos cessarem na janela do carro. O vidro fosco não deixava a luminosidade passar muito bem, mas serviria. Vi o feixe de luz atravessar o vidro nos bancos frontais e traseiros. Ele ficou parado por um tempo, e alguns segundos depois, comecei a ouvir o carro sendo metralhado de ponta a ponta. Os furos eram criados com uma rapidez incrível. Certamente, se eu estivesse ali, estaria morto. Alice também estava protegida, graças a deus. O ponto em que se encontrava era muito acima de onde as balas passaram. Por fim, tudo cessou e ele continuou seu caminho. Mas dali não sairia. Esperei por mais 20 minutos, até ouvi-lo passar de volta para seu grupo, com o outro soldado. Ele ainda murmurou: - Limpo, está limpo. Vamos embora. Ai sim, voltei ao banco. Suspirei, e falei “amém, obrigado Deus” Deus? Meu deus! Eu esqueci minha bíblia e a santa cruz na casa que explodiu! Agora era tarde demais, mas não tardaria para eu tentar encontrar outro. O para-brisa não tinha sido despedaçado, então eu ainda estaria seguro de visão. Avistei todos os 3 indo de volta ao comboio, e quando chegaram, o “bruto” e o “da granada” montaram as armas estacionárias nas Defender, mas a do bruto parecia um pouco diferente: era feita de um tambor com 6 lugares, e tinha uma mira telescópica acoplada na arma, que agora não era mais estacionária; ele a manejava nas mãos. O franco-atirador continuava na mesma; o líder adentrou a Aventador e o último, o novo que eu não conhecia, voltou ao camburão trancando a porta. Pensando eu que eles seguiriam viagem na direção que eu queria ir, não. Eles vieram abrindo caminho sobre os carros e passaram na direção da horda. Era o começo da noite. Não havia mais raios de sol no céu, e atrás de mim pude ver a escuridão emergir. Como um gato, quando eles desapareceram na curva, sai do banco e peguei Alice, e fui indo em direção aonde eles não tinha ido. A primeira coisa que me chamou atenção, que até então não tinha chamado, era um trailer parado. Enorme. Decidi ir em busca de alimentos, para me manter até que eu chegasse em Seattle. Não devia estar muito longe, mas a estrada era longa. O trailer estava trancado, mas dei um belo soco no vidro, fazendo-o estourar, e abri a porta por dentro. O trailer estava sem as chaves; ou aparentemente. Mas meu intuito era alimentos, não transporte. Além do mais, transporte naquelas condições era praticamente inviável. Não havia caminho para passar nem com uma moto, que dirá um trailer. Fui direto á dispensa e encontrei toneladas de comida enlatada. Por azar, não encontrei nenhuma bolsa. Então, comecei a colocar nos bolsos de minha camisa e calça, as que davam mais energia e duravam por mais tempo, além de muita água também. Quando estava saindo para seguir viagem, olhei para o quarto do trailer. Estava com a porta entreaberta. Fui abrindo de leve, e vi uma cena horrenda, mas comovente. Uma mãe abraçada a seu filho, os 2 com tiros na cabeça, e ao lado do corpo da mãe, um revólver caído. A cena me fez chorar, sim. Deixei Alice numa mesa por alguns momentos e decidi que ninguém perturbaria mais aquela família. Peguei um cobertor e estirei sobre os mortos. Por fim, pronunciei “amém”. O revólver, sim! Precisava de uma arma. Precisava muito. Recolhi o tal e percebi que não haviam balas no tambor. Apertei o botão para fazê-lo girar para o lado, e percebi que só estava com 1 cápsula. A da bala, gastada. Para que uma arma sem balas? Joguei-o fora pela janela. Por fim, sai do quarto, mas antes de sair do trailer peguei algumas colheres de ferro longas, daquelas de arroz, e coloquei sobre as maçanetas da porta que eram longas. Ali, ninguém entraria. Estava saindo do trailer, quando ouvi um ruído a distância. Um helicóptero? Talvez. Checaria. Desci da van e procurei fixar meu olhar á distância. E era sim um helicóptero! Sim! A minha salvação, talvez? Mas toda cautela era necessária. Adentrei e van e fiquei olhando pelo para-brisa. Quando ele estava chegando perto, pude ver que não era um helicóptero de uma equipe de resgate. Na porta do helicóptero, apoiado sobre os pés do helicóptero, 4 franco-atiradores. E o helicóptero seguia na direção do comboio. Pude ver claramente que era uma equipe de suporte, mas não para civis, e sim para aqueles mercenários. Abaixei-me na van e deixei-os passarem despercebidos. Quando eles passaram, tratei rapidamente de sair dali. Já na interestadual, comecei a minha jornada mesmo na calada da noite, rumo á Seattle. Precisava chegar lá, e logo. Após um tempo caminhando, ainda pude ouvir sequências de explosões frenéticas, incessantes. Associei-as a nova arma do bruto, e percebi que ele carrega um lançador de granadas, um GLM M203. Aquilo sim era poder de fogo! Não sabia de onde eles retiravam aqueles armamentos, nem porque eram mercenários. Eu sabia que deveria chegar em Seattle. 3 horas depois... 9 da noite! Até que enfim, cheguei em Seattle. Mas, eu estou com medo. Não consigo presenciar nenhum aspecto humano na cidade, embora esteja abastecida com eletricidade nos postes que era evidente mesmo de fora da cidade. As torres de guarda não tem nenhum guarda especial, e há uma grande barricada bem na entrada da cidade. Apenas uma porta de ferro me separa da tão sonhada nova humanidade. Então, quando eu estava a mais ou menos 300 metros de distância do portão, ouvi ruídos de motor. E consegui ver um pequeno feixe de luz atravessar a pista. Era o comboio. Com Alice nos braços, corri mais que nunca e cheguei ao portão, pronto para escalá-lo, se precisasse. Dei duas batidas bem rápidas mas vigorosas no portão gigante de ferro, esperando que o socorro chegasse. “Toc, Toc”. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 8 - Terra, Desejos, Salvação Esperei mais alguns instantes, sem nenhuma resposta de pessoas de dentro. Continuei a bater fortemente na porta, que agora ressonava, mas mesmo assim não ouve resposta. O filete de luz, agora já um pincel, vinha se aproximando. Se eu não entrasse logo estaria morto. Retornei a esmurrar a porta e como sempre, sem êxito. Não havia escadas, nem fendas, onde eu pudesse colocar os pés e escalar. Mas, se os terroristas vinham para cá, e porque moravam ali, certo? Pensei que essa poderia ser a melhor hipótese, então sem pensar desisti de batucar a porta e me escondi no matagal ao lado da rodovia. Os carros, agora bem visíveis vinham na minha direção. Pude ver claramente, todos os carros chegando e buzinando para o portão. Dali de dentro, outra buzina soou, e como resposta o líder do grupo buzinou mais 2 vezes, porém curtos. O portão de ferro se abriu e os carros entraram com todos os tripulantes. Um soldado saiu de dentro do complexo e olhou para a rua, depois disso o portão foi fechado. Ainda sibilou no ar, alguns ruídos de motores indicando que eles tinham saído dali. Minha chance de entrar ali tinha se perdido. Mas, como de costume, o soldado que olhou antes de fechar o portão também não tinha farda. Seriam eles um grupo de mercenários? Ou uma elite do exército que se rebelara dentro da cidade. Senti na pele a expressão “tão perto mas tão longe”. Eu estava a metros da minha aparente salvação, mas não tinha acesso. Fiquei ali pensando no que ia fazer. Será que mata adentro, não haveria algum caminho alternativo? Mas á essa hora da noite, munido apenas de uma lanterna naquela ocasião era suicídio. Voltaria então para a casa destruída? Era uma saída. Quando estava recolhendo minhas coisas para partir e desistir de Seattle, o portão se abriu. Rapidamente deitei-me no mato e espreitei. Um guarda saiu do portão, e empunhando um capacete com lanterna integrada e uma MP5SD2, começou a andar na rua. Ficou parado por um tempo, e me parecia que ele estava reconhecendo o ambiente, quando subitamente ele foi vindo em direção á onde eu estava. Fiquei o mais em silêncio possível, às vezes sem ao menos respirar. Não sabia se ele tinha me notado, mas se tinha, quando ele chegasse perto eu teria de me defender. E pularia da mata para agarrá-lo. Se falhasse, pelo menos a tentativa valeu. Para minha sorte, sua lanterna não me iluminou por causa da relva altíssima, e ele foi à direção contrária, até desaparecer mata adentro, no lado oposto onde eu estava. Era claramente minha chance de ouro. Não hesitei e peguei Alice no colo, e fui ao encontro da minha salvação. Corri o máximo que pude sem ter medo de ser ouvido. Chegando ao portão me abaixei, e tentei olhar por uma fresta. Não havia ninguém na rua, o que era meio estranho, e o capanga ainda estava na floresta. Adentrei Seattle. Já na rua havia iluminação, porém olhei para a pista que se encontrava em minha frente e não havia vivalma. Fui indo em passos pequenos em direção á uma construção no lado esquerdo, para tentar avistar se havias alguém lá. De novo, não havia ninguém. No momento que ia me dirigindo para o centro da cidade, Alice começou a chorar. Eu ainda estava na primeira rua da fortificação, e ali o eco seria estrondoso. Procurei achar um beco para me esconder, e consegui logo na primeira esquina depois de andar por 2 ruas. Antes de adentrá-lo, pude ouvir o jagunço dizer em uma espécie de rádio, um Walkie-Talkie: - Está limpo. O que você achava que era algum mordedor, era na verdade uma colônia de capivaras. Matei-as todas. Se quiser pegá-las para o jantar, só me contata que eu volto. Desse modo, o jagunço concluiu, fechando o portão. Veio se dirigindo pelas ruas sem qualquer cautela. Passou pelo meu beco e continuou seguindo reto, assobiando uma canção desconhecida de minha parte. Tapando a boca de Alice, agora pude retirar minha mão. Ela estava faminta, com certeza, mas não havia leite. No beco não havia portas nem latas de lixo, então eu teria de me virar com o que estivesse. Deixando Alice de lado, procurei pegar algumas das bolachas e amassei-as com a mão, formando um farelo que depois de adicionado com água, passou a ser uma pasta bem cremosa. Era nutritiva, dava forças? Óbvio que não. Era apenas para saciá-la, mas assim que chegasse ao centro, ela teria melhores cuidados. Devem estar se perguntando por que eu não pedi ajuda para aquele soldado, nem para qualquer outro. Porque era evidente que eles não eram soldados. Deviam ser alguma milícia que depois do apocalipse, se formara com o intuito de exterminar seres vivos e mortos. Quando digo seres vivos, incluo humanos. Se tal centro realmente existisse, existiram soldados fazendo a segurança. Dali, eu podia avisá-los do mal que a organização terrorista estava fazendo. E era certo de que aquela entrada não era a do centro de refugiados, e sim uma entrada clandestina. Procurei focar-me nos meus afazeres, e Alice não parava de chorar. Procurei outras saídas e amassei uma fatia de queijo, depois o fatiei com a própria mão, mas em pedaços muito pequenos. Comecei a colocar em sua pequena boca, e ela comeu! Comeu tanto, devia estar faminta. Seria difícil conseguir leite naquela ocasião. Depois de alguns pedaços, ela parou de chorar. Agora, eu que estava faminto. Devorei uma boa parte da bolacha, deixando apenas umas 7 no final do pacote, e sorvei um pouco da água. Algumas fatias do queijo completaram meu “banquete”. Liguei meu celular e constatei que a bateria estava morta. Decidi não perdê-lo, mesmo sem bateria, pois o mesmo fora um presente de meu eterno e único amor, Natalie. Prometi a mim mesmo que algum dia voltaria a vê-la. Coloquei as ideias no lugar. Decidi que, a partir dali, eu procuraria o real centro de refugiados, em meio aquele silêncio mortal que estava em Seattle. Meus braços doíam fazia dias, desde que perdi aquele benzido banquinho de carro, que eu poderia transformá-lo num apoio para Alice. E ainda cada vez que eu pegava Alice nos braços, aquela ferida do dia da fúria doía sem sangrar. Mas ardia no coração, como se estivessem com um maçarico ali. Eu não trocava o ferimento fazia dias, então simplesmente decidi tirá-lo. Puxei a manga de minha camisa e comecei a retirar com cuidado o algodão encharcado. No fim, descobri que ele já estava cicatrizado, mas eu teria de tomar cuidado. Um arranhão profundo naquelas circunstâncias era o que eu não queria. Levantei-me do beco com Alice nos braços e sorrateiramente fui caminhando pelas ruas. Um guarda ali, outro aqui, mas nada de preocupante. Nada como as sombras não pudessem cobrir-me. Alice, sonolenta, dormia em meus braços. Ela não faria barulhos, então tudo dependeria de mim. Em uma das ruas, avistei uma coisa que eu sempre tive vontade de ver: o Obelisco Espacial (Space Needle) de Seattle. Como um apaixonado em astronomia, era um sonho visita-lo. Se eu encontrasse alguém do governo, perguntar-lhe-ei se aquela parte de cidade era acessível. E como sempre, evitei os “guardas”, pois eles não eram guardas. Mesmo aspecto dos outros: sem uniforme, usando roupas casuais. Uma coisa me surpreendeu. Eu já estava bem dentro da cidade, na 22ª avenida, Quando perto de uma casa comum como as outras, saiu um dos militares. Escondi-me atrás de um arbusto de uma casa próxima, do outro lado da rua de onde estava ocorrendo a ação. Primeiro, ele acenou com a mão para alguém, e depois entrou novamente. Segundos depois, uma garota, sim, uma garota, foi jogada para fora da casa puxada pelos cabelos e a coronhadas de uma SIG SG 552. Pouco a pouco, 4 garotas, dentre elas mais 1 loira, 1 negra e 1 branca de cabelos escuros foram tendo o mesmo destino de dentro da casa. No total, haviam 4 garotas: 2 loiras, 1 negra e 1 a branca dos cabelos pretos. Todas elas não aparentavam ter mais de 25 anos. O soldado mandou-as colocar a mão na cabeça e apontou a arma para elas. Com uma corda bem grossa, amarrou as mãos de todas elas e amordaçou-as com uma fita acinzentada. O que elas fizeram para merecer tal castigo? Depois de acabar de amordaçá-las, levantou-se e procurou seu rádio no bolso. Começou a falar: - Aqui é Delta Bravo 1, as encomendas já foram adquiridas, mande o transporte. – E alguns grunhidos de resposta saíram do rádio. Irreconhecíveis á distância que eu estava. Ele parou por um instante e desligou o rádio. Olhou para as garotas e começou a falar: - É uma pena que a gente tenha que desperdiçar todas vocês, seriam bons passatempo. Mas ordem do chefe é ordem, não posso descumprir. – E centralizou sua visão para uma das loiras – Porém isso não me impede de me divertir enquanto o encarregado não esta aqui. – E com uma risada maliciosa, sentou na frente dela. A garota começou a chorar instintivamente. O jagunço passava a mão no busto da garota, freneticamente, com uma expressão de psicopatia no rosto. Começou a rasgar a roupa dela pela gola e quando ele achou que estava bom, tirou o sutiã dela. As outras garotas, revoltadas, também choravam mas preferiam não presenciar aquela cena e abaixaram a cabeça, fechando os olhos. Enquanto eu via aquela cena, o ódio tomava conta de minha parte humana. Se eu fosse movido pela parte inumana, provavelmente deixaria Alice ali e tentaria matar aquele cão. Mesmo odiando violência, aquele caso era extremo; impossível de suportar. Mas logo o “encarregado” chegaria e a farra acabaria. Mas jurei para mim que mais cedo ou mais tarde, ele teria um fim bem mais terrível do que o da garota. O homem, com a cabeça enfiada entre a roupa e o corpo seminu da garota, remexendo-se a toda hora, saiu dali e delicadamente colocou o sutiã no lugar. Mandou-a levantar, e mesmo sem querer e com uma expressão de horror na cara, ela teve de fazer, pois a SIG estava apontada para sua face. O assassino guardou a arma e começou a abrir o zíper da calça dela. Não, aquilo eu me recusava a ver. E a deixar. Sequestrar uma garota e amarrá-la, assediá-la e estuprá-la a céu aberto, ainda com presença, e mediante a força letal? Aquilo era contra a minha ideia de civilização. Eu já estava preparando meu melhor soco, quando um ruído na esquina surgiu. Assim como um carro bem forte; uma caminhonete. Uma Ford Ranger 2011 com capota aberta, e como de costume, com uma arma estacionária e um homem manejando-a. - Que pena! Meu parceiro chegou – disse ele fechando o zíper da calça, mas depois de afagar a roupa íntima da mulher e passar pelo busto pela última vez. – Se não teríamos uma longa noite pela frente... O próprio motorista saiu do carro, e o soldado falou: - Comandante. – Acenando com a mão na cabeça em sentido de respeito. O comandante consentiu com um “Soldado” e começou a falar: - São essas as desaparecidas? - São sim senhor. Estão todas aí. - Então não vamos perder tempo. Embarque-as. E tire essas amarr... – O comandante parou por um tempo e começou a gritar: - Soldado, você tocou numa delas não foi? - Não senhor! - Não minta para mim! – Respondeu o comandante, ofegante. - Não senhor! - Você sabe o que acontece com quem mente... – Completou ele. - Tudo bem, toquei senhor! Mas prometo que não foi nada de mais, é que eu sou homem, apenas isso. Assim como o senhor, cer... – Ele foi interrompido pelo maior tapa que provavelmente já tivesse tomado. O comandante falou: - Seu filho da puta! O Magnífico falou que não podíamos tocar em ninguém, senão nós seriamos fracos que nem eles. Não sei se te mato ou te deixo aos mordedores! – As garotas nesse instante riram, de forma controlada para eles não perceberem. Até a que foi assediada riu. O comandante falou: - Vamos logo e pare com essa covardia. Faça o que eu mandei; e talvez você se salve. - Sim senhor! O soldado começou a desamarrá-las uma a uma, até que chegou a vez da loira. Quando ele tirou a mordaça de sua boca, a garota cuspiu em seu rosto. O soldado mugiu de raiva e virou um tapa na cara da garota, que caiu. O comandante virou e chamou por seu nome. Quando o tal virou, uma bala explodiu seu crânio e ele caiu duro sem vida no chão. O tiro sibilou pela cidade toda. O comandante falou: - Fraco. Não consegue ver um rabo-de-saia que já esperneia. Um tipo desses só traria problema. Vamos indo, os mordedores tomarão conta do resto agora. – E indo em direção ao corpo do homem morto, recolheu suas armas. Ele gentilmente abriu a porta da SUV para elas, fechou-a e assumiu a direção. Talvez porque provavelmente seriam os últimos minutos de vida delas. Depois de tais acontecimentos que me deixaram chocados, vi a SUV ir indo em direção contrária a minha. Quando estava fora de vista, fui junto ao corpo do homem e procurei por qualquer coisa. Ele não tinha deixado nada, nem mesmo algum colete ou casaco. Armas? Nada. Segui meu caminho. Continuei andando com muita cautela pelas ruas. Surpreendentemente, em uma rua qualquer pude encontrar um mordedor sem rumo, caminhando. Pouco tempo depois, ele foi abatido por um tiro vindo de uma rua do lado a que ele estava. Aquilo me alertou: se ali era um centro de refugiados, não poderia haver mordedores certo? E o outro fato é que haviam guardas ali. Voltei e entrei por outra rua. Continuei andando alguns minutos pelas ruas, até que cheguei a um grande parque. Fui indo em seu centro e demorei cerca de 7 minutos até encontrar a praça do parque, até que avistei uma bica de água. Corri até ela e tentei achar água corrente. Por sorte, ainda havia água ali e tomei até sufocar. Depois de hidratado, sai do parque e na mesma rua de acesso á ele vi uma enorme construção. Não sabia o que era aquilo, mas entraria. Parecia-me uma grande fábrica ou coisa parecida. O que mais me chamou a atenção foi um grande letreiro apagado, escrito alguma coisa como Re..g.e C..nt.. Procurei apontar minha lanterna e apontei para lá. Cai de joelhos quando li Reefuge Center. Finalmente eu tinha chegado á minha salvação. Que por sinal estava bem silenciosa, não? Era um grande complexo pelo visto. Bati 2 vezes na porta de metal. Sem resposta. Bati outras vezes, também não obtive êxito. Por fim, dei um chute na porta para alertar qualquer coisa que estivesse ali, mas nada veio ao meu encontro. Ora bolas, por quê? Percebi que ela parecia estranha, então rodei a maçaneta e pude ver o brilho de uma luz salvadora. Adentrei e fechei a porta rapidamente, mas para minha surpresa vivalma ali não existia. Um enorme corredor fazia o complexo, com diversas salas. Todas estavam com as portas semiabertas. Entrei na primeira porta á esquerda e ali avistei alguns materiais empilhados. O que seria aquilo? Liguei minha lanterna e apontei: 1 pilha de corpos de pessoas, 1 pilha de corpos de mordedores, e 1 pilha de corpos queimados. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 9 - Complexos O que eu avistei naquela hora era uma cena de um verdadeiro holocausto. Pessoas inocentes mortas, juntos aos corpos de mordedores e outros corpos carbonizados, que deveriam ser de todos. Porque matar aqueles pobres humanos inocentes? Via-se que pelas feições, eles não representavam quaisquer perigos para aquele grupo de mercenários. Comecei a revirar os corpos, e evidentemente todos estavam mortos. Não achei nada de bom neles, e deixei-os intactos. Voltei ao corredor principal e contei ainda mais 7 salas: 3 na esquerda e 4 na direita. No total, 8 salas. Abriria as outras portas? Ainda havia uma última, em frente. Provavelmente, uma entrada para um complexo principal, quem sabe? Decidi que exploraria o lugar mais a fundo. Primeiramente, deixei a adrenalina parar de fluir sob meu sangue e me concentrei por um tempo. Tentei ouvir qualquer barulho que ressonasse no ambiente, e sim, pude ouvir grunhidos. Com passos lentos e curtos, fui aproximando-me de todas as portas. Com certeza não era em nenhuma delas, e o que me restava era a porta frontal. Aproximei-me da fechadura e encostei o ouvido. Pude claramente ouvir grunhidos dos zumbis. Olhei pela fechadura e não avistei nenhum deles. Precisava verificar aquela ocorrência, então, teria de abrir a porta. Lentamente, coloquei a mão na maçaneta e rodei-a. Ligeiramente, coloquei uma parte de meu rosto para dentro deixando apenas os olhos e uma parte de minha cabeça á mostra. Daí sim, pude contar inúmeros mordedores, vindo de todas as partes da sala em minha direção, alertados pelo girar da maçaneta. Fechei-a rapidamente, mas com certeza aquilo não seguraria suas garras. Coloquei Alice no chão e com alguns impulsos, chutei a maçaneta fazendo-a cair. Agora sim a porta estava totalmente lacrada. Parti em busca das outras salas, entrando primeiro nas da esquerda. Nada que já não vira; corpos e corpos, alguns carbonizados, outros “normais”. Nas salas da direita, a mesma coisa. Decidi que ali seria um caso perdido, então sairia o mais depressa possível. Uma coisa me fez parar, diante da maçaneta da porta que daria acesso ao parque. Ouvi vozes do lado de fora, irreconhecíveis. Rapidamente entrei em uma das salas e me escondi atrás de alguns dos corpos. Mas eles não entraram ali. Fiquei, mesmo assim, um tempo ali reconhecendo o ambiente mais uma vez. 6 minutos depois de eu ouvi-los, tiros zumbiram na sala da frente. E eram tiros pesados, característicos de metralhadoras leves e escopetas. Até que toda a sala se calou, até os grunhidos. Ai sim, as vozes voltaram: - Então, parece que tivemos uma rebelião aqui, não? – Falava um. - Nada que uma L85 não resolva meu chapa. - Tá, mais agora vá verificar aqueles corredores que a gente carboniza esses lixos. Provavelmente a carne foi para lá. Vou ficar aqui checando as coisas enquanto você vai lá. Corri para a primeira sala da direita para me esconder, e enquanto isso, reconheci um deles mesmo sem vê-lo. A voz não me era estranha, e falar sobre uma L85... Claro! Era o bruto da rodovia. Aquele era casca-grossa, então era melhor evitar um combate em aberto com ele, ou a morte era certa. Aproximou-se da porta e girou a maçaneta, sem êxito. Chamou o parceiro e gritou: - Ei, venha aqui! Essa maçaneta não quer abrir cara, tem algo errado ali dentro. Estremeci. Se ele abrisse e entrasse ali, eu morreria sem um pingo de dúvida. Decidi me camuflar, então. Coloquei Alice atrás de uma pilha de corpos queimados que a cobria perfeitamente. Comigo foi um pouco mais difícil. Tive de desempilhar alguns corpos, e quando achei que foi o necessário, deitei-me sobre eles. Ainda, com muito esforço, coloquei outros em cima de mim, e me manchei de sangue para parecer mais real. Depois de alguns segundos de quando terminei minha tarefa, ouvi-o arrombando a porta e se surpreendendo: - Alguém esteve aqui, e provavelmente é a carne. Se ele não correu para fora e deu de cara com as hordas, provavelmente esta aqui. - Como você sabe cara? - Olha para a maçaneta; está caída e isso os mordedores não iriam fazer, além de que eles não tinham acesso á essa área. Vou procura-lo, ele tem de estar aqui... Senti um pingo de suor frio escorrendo pela minha testa. O homem abria todas as portas e eu podia ouvir um barulho de corpos se remexendo. Ele estava mexendo nos mortos, para talvez verificar pulsação ou coisas do tipo. Ficou naquele processo por mais de 10 minutos, até que parou diante á minha sala. Apenas fechei meus olhos e parei de respirar por algum momento. Deixei meus músculos se soltarem e fiquei a deriva naquele mar de gente. Pude sentir quando o homem tocou minha costela esquerda e me remexeu com bastante força, mas não me notou. Naquela hora, minha visão dilatou por dentro, mas externamente eu continuava imóvel apesar de meu grande medo. Ele me deixou em uma posição de lado e foi mexer nas outras. Daí em diante, a situação ficou tensa na sala. Alice não estava comigo; estava na pilha ao lado. Se ele a visse, pularia em cima dele mesmo se não obtivesse sucesso. Por sorte, ele apenas mexeu nas pilhas e saiu pela mesma porta. Ainda por abrir a última, mas também não teve grandes revelações. Voltou á sala principal e falou assim: - Bom, parece que o desgraçado conseguiu escapar. E agora, o que a gente faz? - Sei lá, que tal pegarmos o carro e fazer um rastreamento? A noite está fria; sem roupas ou comida seria impossível passá-la na rua. Vamos procurá-lo - E então, pude ouvir o barulho de um portão sendo brutalmente batido. Eles se foram. Depois da adrenalina, comecei a retirar os corpos de cima de mim. Peguei Alice no colo e dei-lhe um beijo na testa. Nós tínhamos sobrevivido até então, mas quando acabaríamos mortos? Ou aonde nossa jornada nos levaria? Apenas disse baixinho que a amava e que nada aconteceria a nós, e sai pela porta em busca do que tinha acontecido na outra sala. Chegando lá, vi todos os mordedores caídos com balas cravadas nas cabeças. Não havia dúvidas que ali acontecera uma verdadeira chacina contra eles. Não havia um sequer respirando. Procurei qualquer indicio do que estivera acontecendo ali. Se ali era mesmo o centro de refugiados ou não. Mas, se na placa estava escrito que era, porque não seria? A sala era bem grande, ocupando mais de 20 m² com certeza. A iluminação era ampla, sendo constituída por longas lâmpadas fluorescentes e o sistema de refrigeração era a base de um ar condicionado muito potente. Havia ainda várias portas divididas por setores, do mesmo jeito da que eu saíra. No chão, incontáveis números de cartuchos 5.56 mm. Mas com aquela arma, disparando projéteis a 910 m/s, não haveria qualquer ser vivo que sobrevivesse. Provavelmente eles voltariam para recolher os corpos ou quem sabe queimar. Fiquei curioso para entrar nas outras salas, e decidi fazer o mesmo. Depois de algum tempo refletindo, fui perceber que ali era o hall e provavelmente aquele corredor onde os corpos estavam eram os dormitórios. No hall ainda havia uma pequena porta ao lado de um buraco que provavelmente seria uma janela, onde avistei panelas; era a cozinha. Havia 8 portas. 1 atrás de mim, uma no canto esquerdo inferior, uma no canto esquerdo superior e uma á frente. A mesma coisa para a direita: 1 sala traseira, 1 1 do canto inferior, 1 do canto superior e 1 central. Em cima delas estava escrito respectivamente: A-1; A-2; A-3; A-4; B-4; B-3; B-2; B-1. O bloco A-1 era de onde eu saí. Aquele lugar me parecia com algum tipo de consultório para tratamento médico ou coisas do gênero. Decidi fazer um arco sentido horário para investigar tais salas. Entrei no bloco A-2, perto da janela da cozinha e me surpreendi. Ali contei mais de 200 camas com espaçamento curto entre elas, porém bem organizadas e limpas. Características de hospitais e cobertas com um forro de papel descartável que fazia elas perfeitas para infecções. As camas, porém, estavam vazias. Não havia ninguém dormindo nem se escondendo. Sangue entre elas era ausente. O ambiente era perfeitamente limpo e a refrigeração, quase a mesma do hall sendo apenas notada como um pouco inferior. Ali, caberia praticamente um regimento todo ou até mesmo a população inteira de um bairro. Sai deste bloco e prossegui para o A-3, o bloco do canto superior esquerdo. Quando abri a porta, deparei-me com várias cabinas e torneiras espalhadas pela construção. Eram os sanitários, coletivos sim, mas muito bem limpos e organizados. Um aroma de alvejante flutuava no ar indicando desinfestação do lugar recentemente. Haviam ainda pequenos recipientes com um líquido viscoso, que pela aparência reconheci por ser álcool em gel. As cabinas estavam com letras estampadas nas portas bem grandes, indicando que ali só poderia entrar alguém que o nome começasse com tal letra. Provavelmente para maior controle e organização. Parti para o bloco A-4. Ali, haviam vitrines com estoques de armamentos. Sim, armamentos, aliás todos os tipos deles. Estavam divididos em 7 seções. Pistolas, Submetralhadoras, Metralhadoras Leves, Fuzis, Fuzis de Assaltos, Rifles de precisão e Explosivos. Cada vitrine estava cheia de apoios para armas e cada uma estava com sua arma no lugar. Contei mais de 50 armas para cada tipo, o que daria mais ou menos 350 armas ao todo, sem contar a margem de erro. Aquilo ali era armamento de praticamente um exército. Com aquilo, alguém poderia até salvar o mundo. Sai dali e comecei a jornada no outro bloco. Entrei no B-4. Quando entrei quase tive um ataque do miocárdio pelo susto que levei. Havia muitos corpos de militares caídos no chão, cheios de sangue e evidentemente sem vida. Alguns até decapitados, outros desmembrados. Sem todas as roupas, apenas de cueca. Isso, em uma parte isolada da sala, dentro de uma caixa de vidro. No outro lado da sala, caixas e mais caixas de madeira bruta e pintadas com séries de números. Á minha frente, outras vitrinas. Mas dessa vez com equipamentos de combate: capacetes Kevlar; camisas e calças feitas de um material resistente e todas conferidas em preto e vermelho semelhante á camuflagem de floresta porém com essas cores; coletes á prova de bala com bolsos para cartuchos de todos os tamanhos; lanternas para capacete; coldre para revólver e pistola com clipes para granadas; outros 2 suportes para cartuchos que se apoiavam na coxa; suporte para faca de combate na panturrilha; botas pesadas de um couro legítimo e por fim, acessórios para armas, como silenciadores e miras. E isso, em cada um dos mais de 70 conjuntos que contei na vitrina. “As caixas estavam em medidas perfeitas para encher até a boca, e em cada uma estava escrito coisas como: “.45 ACP”, “5.56x45mm NATO”, “7.62x51mm NATO”, “9mm Parabellum”, “.50 BMG” e por ai em diante. As caixas estavam presas á parafusos de ferro 9/64 bem fortes. Coloquei Alice em uma delas e comecei a chutar a de “5.56x45mm NATO”. Depois de sucessivas tentativas, acabei rompendo o ligamento da madeira e vi milhões e milhões de projéteis desse calibre caírem sobre a sala. Aquilo me espantou, sim. Ali havia munição para mais que um exército... O que eles estavam planejando? Sai daquele bloco maravilhado, certo de que arrombaria outras e roubaria alguma arma para minha defesa. Rumei ao bloco B-3 Este bloco era semelhante ao bloco A-3, na verdade era praticamente igual: Os sanitários, porém agora sem letras e manchados de sangue. Provavelmente aquele era os infectados que usavam, até que fossem curados, se é que existia tal cura. O bloco B-2, era a mesma coisa: igual ao bloco A-2 com camas arrumadas e higienizadas e boa refrigeração. O bloco B-1, porém era diferente. Havia algo de estranho nele que me inquietava. Abri a porta e de cara vi o mesmo corredor do bloco A-1. Porém, do lado das portas agora haviam janelas. Olhei para a primeira sala á esquerda. Ali, uma cadeira e uma mesa de médico, uma cadeira de dentista com um refletor grande em cima, um armário entreaberto cheio de medicamentos. A mesma coisa na sala da direita. Na segunda sala da esquerda, já era mais preocupante: Havia algumas máquinas e havia camas manchadas de sangue, junto de um equipamento bem moderno que não sabia o que era. Na direita, similar. Na terceira sala, vi o temor espantando em mim. Protegida por isolação acústica. Uma sala de cirurgia para os infectados onde os médicos estudavam e faziam anotações, evidente pelo quadro negro na parede e pelos muitos equipamentos nas bandejas metálicas espalhadas por toda a sala. Similarmente na direita. Por fim, o ultimo conjunto de salas tinha o vidro manchado de sangue. Não precisei nem chegar mais perto para ver o tanto de descerebrados que eram impedidos de sair por grandes trancas e por um isolamento acústico perfeito. A sala da direita, a mesma coisa. Então, ali estava sendo desenvolvida tal cura, não? Mas agora, como não havia ninguém ali? Essa milícia estava por trás daquilo. Foi então que me dei conta que as salas do primeiro corredor onde eu estava, faziam parte deste mesmo complexo, porém foram destruídas. Isso explica o alto número de cadáveres de zumbis e de humanos, que provavelmente eram cientistas ou civis. Decidi sair dali o mais rápido possível, mas antes uma arma seria essencial. Fui até a “sala dos milagres” e escolhi meu arsenal. Dentre todas, peguei uma arma de defesa pessoal, uma MP7 e 5 cartuchos da mesma. Pequena e de fácil manejo, seria ótima para combates de curta distância além de ser fácil para carregar. Armas longas estavam foram de premeditação, então para completar apenas peguei por último uma M9 com cartuchos estendidos de 12 tiros. Para mim estava bom. Recorri á sala dos equipamentos e ali quebrei uma das vitrinas e peguei um colete, um capacete com a lanterna e um coldre. Arrombei a caixa de “9mm Parabellum” e comecei a carregar as armas. Minha sorte é que as duas usavam esse mesmo calibre. Quando estava Carregando o antepenúltimo cartucho da M9, ouvi um ruído de carro lá fora. Apressei-me para carregar o resto e coloquei a M9 no coldre, enquanto a MP7 ficava ao meu lado junto de uma correia. Sai da sala o mais rápido possível e quando abri a porta do complexo A-1 para escapar dali, ouvi vozes e uma porta rangendo ao meu lado. Fechei a porta lentamente para que não fosse ouvido e corri para a última porta. Abri e dei uma última olhada para trás, quando senti o soco mais forte que eu já levei, deixando Alice cair na calçada, agora chorando, junto com a MP7 e o coldre se soltou. Minha cabeça latejava e não ficaria consciente por muito tempo. Tentei apanhar a MP7, mas quando coloquei a mão no punhal da arma, senti um pé esmagando meus dedos. Rapidamente tirei-o de lá, e pude ver uma pessoa mascarada, então, chutando minha barriga. Desmaiei. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 10 - Companheirismo Acordei dentro de um carro, sendo levado para algum lugar que desconhecia. Ouvia o ruído do motor bem de leve, aparentando o carro estar com as janelas fechadas. Não me parecia um carro comum pelo barulho, nem um esportivo, menos ainda uma SUV. Estava numa van. E não havia só eu... À medida que fui retomando minha consciência, comecei a ouvir vozes. Parecia-me que eram tais mercenários que haviam me achado e me pegado. Não sabia quem era tal mascarado que me acertou, mas tinha grande força. Minha MP7 havia ficado caída no chão e á essa hora, não estava mais lá. Aliás, precisava saber onde estava. Pensei primeiramente que tais pessoas haviam me desmaiado e me deixado ali para morrer como presunto para os mordedores. Mas percebi que não era bem isso quando senti arramas em minhas mãos e pés; sim, eu estava em cárcere. Abrindo os olhos, não consegui enxergar nada. Tentei dilatar as pupilas para ver se estava ainda sonhando, mas não obtive êxito. Meu nariz, porém, tinha contato com o ar, provavelmente não queriam que eu morresse sufocado. Estava eu dentro de uma van desconhecida, com as mãos e pés amarrados e com a cabeça enfiada em um saco! Minha boca estava ligada aos fios do saco preto também, porém tentei argumentar qualquer coisa e gritei: - Eeeeeeeeeeeei! Que palhaçada é essa aqui? Me tirem logo desse saco! – Não teve resposta. Gritei mais ainda: - Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei! Responda-me, eu sei que tem alguém aqui, posso sentir o carro mexer! – A mesma coisa, nem ao menos um ruído. Comecei então a ouvir alguma coisa no interior do carro como alguém se mexendo, porém sem falar nada. Até que algo me agarrou pelas mãos e me botou de joelho. Abriu a porta e colocou minha cabeça para fora do carro em movimento. Retirou o saco de minha cabeça e assim pude enxergar a rua. Estava em Seattle, era evidente, mas não sabia onde. Então, ainda me segurando, falou: - Seu pivete lixo, quer calar a boca ou quer virar churrasco de zumbi? Nossa, que sorte, tem uma horda ali na frente! Consegue ver? Era que vai dilacerar você! - Não, por favor, não faça isso! – Exclamei com medo. – Nessa velocidade você me mataria! - Mas esse é o intuito meu chapa. Diga-me garoto, quer morrer? Fala logo de uma vez! - Não, por favor! – E senti o mesmo me puxando de volta para a van, mas antes de conseguir enxergar qualquer coisa, senti um tapa forte em meus dois ouvidos, mas tão fortes que fiquei zonzo na hora. Poucos segundos depois, desmaiei. 4 horas depois... Acordei num banheiro que não era familiar. Estava atados pela mão á uma barra de uma das cabines do banheiro. Eram aqueles banheiros coletivos, de shopping e mercados, porém muito mais formal e até com cabines para deficientes. Antes mesmo de conseguir olhar em volta, havia um rosto praticamente colado ao meu, que não me era errôneo. Era o tal líder dos mercenários. Um sujeito branco corado, alto, com bíceps definidos e a mostra por uma camisa regata preta. Com colete mais avançado e com mais bolsos, havia uma “dogtag” pendurada. Com uma correia, pendurada pelo pescoço e anexado á uma mira Red Dot, uma AN-94. Na mão, uma Five Seven. Gargalhou com um tom maléfico no timbre: - Hahahahaha... Pobres coitados, enquanto vocês morrem de medo desses zumbis, nós temos orgulho de quem os criou... Na verdade nós não sabemos quem ou o que foi, mas deveríamos agradecer de joelhos e rezar para tal todos os dias. Agora, me responda com sinceridade. Você acha que pode escapar de minhas garras? Não me pronunciei. Fiquei observando tal face, que me perseguira aparentemente mais do que os próprios mordedores. - Sabe, eu previa que você não responderia. É um cachorrinho acudido em um canto, enquanto eu tenho todo o poder sobre mim. Mas vamos ao assunto: sua irmã, bem, ela... - Maldito! O que você fez com minha irmã! Vou te esganar seu lixo dos infernos! - Bem, você não pode, porém ela está bem ali... – Disse o mesmo, abrindo a porta e mostrando um carro parado sobre um piso. Um caminhonete velha, nem ao menos uma SUV. Velha mesmo, toda suja de barro Em cima, havia telhado, então eu estava no subterrâneo. Poderia ser um estacionamento, um metrô, um piso de um shopping. Não sabia. Pude ver minha irmã sobre um banco automotivo para bebês, em cima da cabine do carro. - Não se preocupe garoto, ela está em melhores mãos. Muito melhores. Você era um fraco, não tinha senso de percepção. Qualquer tolo poderia notar que tinha alguém atrás daquela porta. E você ainda tinha uma arma automática e silenciada. Meu deus, porque não atirou antes de ir? E abrir a porta com tudo, é mesmo suicídio. Mas não temas mais. A partir de agora, sua irmã vai ser minha filha. Sim, minha filha! Agora, aproveite os seus divertidos últimos momentos antes de morrer. – E tirou de dentro do carro outro homem, também forte e amarrou-o em outra barra ao lado da minha. Pegou Alice e colocou no banco do carona e trancou-se na caminhonete. O vidro não era fosco, então pude vê-lo pegar uma L11 também no banco do carona, com um monstruoso silenciador. Não tinha notado ainda, mas havia um portão de arame de ferro bem ao fundo, junto de vários cadeados 70mm justapostos em fileiras. Apenas um tiro daquele monstro dos franco-atiradores, desencadeou tudo e pude ver o pavor: uma horda de descerebrados vinha em minha direção; a porta do banheiro estava aberta, completamente aberta. - Arrivederci! – Falou o líder com um tom sarcástico. Ligou a caminhonete e deu ré. Pude ouvir o barulho de um carro caindo e depois se seguiu um eco ao fundo. Era um túnel, aparentemente. Enquanto o eco ressonava em meu ouvido, a horda se aproximava. O homem que foi jogado próximo a mim era também alto, porém moreno e muito mais forte que o tal comandante, e usava uma camisa de manga longa com calça e luvas, com cores desérticas. Um traidor do seu grupo, quem sabe? Uma bandana também com cores do deserto acabava o look do homem. Perguntei: - Quem é você e porque você está aqui comigo? - Não há tempo para isso garoto, agora me ajude aqui. Com o seu pé eu quero que você levante a perna da minha calça; vai encontrar uma faca de combate. Não me olhe com cara de bobo como se não entendesse o que é. Vamos garoto, vamos! – Segui as ordens do homem e com meu pé, levantei a perna da calça dele. - Agora tire seu tênis... – Demorei um pouco pois para tirar o tênis sem as mãos é ligeiramente difícil. – Vamos garoto, olhe os zumbis, já estão na metade do caminho para nos matar! – E com força, retirei os sapatos. - As meias também moleque, anda logo! - Calma, eu sou só um, não posso me virar em dois! - Você quer viver ou não? Não responda, cala a boca e tira a droga da meia logo! – Terminei a tarefa depois desse esporro. – Agora vamos lá, tá vendo o cabo da faca? Pois bem, quero que você tire a faca da bainha e segure-a entre os dedos. Sua sorte é que o corredor é extenso, senão já estaríamos mortos. Mas sem conversa, faça isso logo! Enquanto ia ajeitando-me com a faca na ponta dos dedos dos pés, pude ver a horda cada vez mais próxima. Alucinei, não sei o porquê, e vi Natalie, meus pais, e John, todos juntos. Minha mãe carregava Alice, e todos andavam de costas em direção á horda. Até que minha mãe se virou e falou: - Nik, venha com sua mãe! Me dê a mão! – Quando vi que não daria para alcançar, acordei com um pé chutando minha cara fortemente. - Ei garoto, porra, acorda! Acorda! A gente vai morrer não tá vendo? - Desculpe, alucinei. - Pior hora para isso hein! Vamos logo, agora eu quero que você coloque a faca na entre o meu dedão do pé direito e o segundo dedo. Comecei a realizar a difícil tarefa, mas acabei deixando a faca cair de primeira e tive que recuperá-la. Tomei o maior esporro de minha vida, e a horda agora já estava muito mais perto. Mais alguns segundos e seriamos devorados. Até que confiantemente, realizei a tarefa e vi o homem com a faca nos pés. Ele se concentrou, fechou os olhos e com um impulso meio desengonçado apenas dos pés, ele pulou e virou-se totalmente, dispondo-se de cabeça para baixo. Com os pés apoiados e contorcidos sobre a mesma barra que o prendia, vi-o transporta a faca do pé para a mão sem deixá-la cair. Dali, virou-a de costas e começou a passá-la sobre a densa corda. - Vamos cara, meu deus, os zumbis estão quase na porta! - Calma moleque, você que demorou! Então, como que por um passo de mágica, o homem caiu dali e se viu livre de uma das mãos. Rapidamente, agora sem fazer um movimento de corte, cortou a outra parte da algema improvisada e correu para a porta. Quando foi fechá-la e trancar, ouvi um mugido muito alto, e um baque sobre uma carne, que pelo barulho me parecia meio oca. Era um zumbi colocando o braço na porta. O homem com muita força, empurrou a porta para trás na tentativa de trancar-nos no banheiro, porém o braço o impedia. Ele era forte e certamente conseguiria o fato, mas se o braço permanecesse ali isso seria impossível. O que ele fez então, foi cortar o braço na porta com a própria faca. Quando cortou ele todo, o zumbi recuou e ele pode trancar a porta. - Não é sempre que a gente tinha que cortar o braço de um cara preso em uma porta, só nos casos mais extremos, mas o que posso fazer? Agora não são mais caras. Mas uma coisa que eu gosto dos caras “maus”. Eles sempre falam muito antes de puxar o gatilho; ou às vezes nem puxam. Isso nos dá uma vantagem sobre eles, quem eles pensam que não podem fazer nada. – Disse ele, vindo ao meu encontro e cortando minhas amarras – Bom, meu nome é Allen. E o seu? - Nikolai. - Descende de povo eslavo? - Povo eslavo? - Russo, meu caro... - Na verdade não, mas eu gosto do nome. - Seu pai, onde ele está? – Não respondi, mas o encarei com uma cara triste – Certo, mas pode me dizer se ele serviu no Vietnã? - Não, ele não gostava dessas coisas, nem foi recrutado. Não tinha estatura nem era capaz fisicamente. Minha mãe que contou. - Não vou perguntar onde está sua mãe também, pois não quero mais fazer burradas. Você já teve alguma experiência com armas? - Não. - Bom, nessas circunstâncias isso é meio ruim, mas tudo bem. Nem eu tenho uma arma aqui agora. - Me diga agora, quem é você. - Eu só sou um cara que salva sua vida. - Francamente, te contei sobre sua família e a resposta máxima que você me dá é isso? - Garoto, não me importune. Estou pensando como a gente vai sair daqui. Ali ficamos por horas e horas, ele sempre falando alto e eu perguntando do que se tratava. Ele respondia que gostava de pensar alto; dava mais clareza para as coisas. Bom, ele era o primeiro sobrevivente com quem tive contato. E sobrevivente de um humano, na verdade, não de mordedores, assim como eu. Os mordedores cada vez mais faziam pressão na tal porta. Era, pois, preciso sair dali o mais rápido possível. Mas como fazer? Não sabia. Fiquei com sede e me levantei de onde estava sentado, e fui beber um pouco da água da torneira. Quando acabei, fitei-o me olhando com uma expressão de culpado. Ponderei: - Cara, o que foi? Eu fiz algo de errado? - Não, não, não, sim, fez, não, não fez, fez, não... Me deixe em paz, deixe-me pensar! Fiquei assustado com a reação dele, tirando a bandana e revelando alguns cabelos crespos. Colocou-a no lugar de volta e adentrou uma das cabines. O banheiro só continha 3, e ele entrou na da direita. Fechou a porta e ouvi o barulho da tampa do vaso cair, então pude perceber que ele estava sentado, pensando. Ouvi um leve choro pela porta, que se transformou um pouco depois em um grito como de quem estava sufocado. A porta cada vez mais ficava fraca. O homem ficava louco. E eu, ficava sozinho. De repente o homem sai de lá de dentro, com a cara inchada e um ar de decidido: - Garoto, quero que você me ajude. Tá vendo aquele cano? - Sim. - Então, quero que você me ajude á quebrá-lo. Vamos lá, no 3, você chuta com toda força e concentração que tiver. Pronto? - Sim. - 1... - 2... - 3! – e um BAM ecoou pela sala. O cano trincara, mas não se partira. – Vamos lá, denovo! – Chutei novamente. – Denovo! – Me impressionei com a rapidez do homem e não chutei. E ele, falando para si mesmo, partiu o cano que estava sem fluxo no meio. Uma barra bem grande de um plástico rígido apareceu na mão dele. A barra era pontiaguda, dando um bom suporte. - Quero que você fique com a faca; melhor de manusear. O cano deixe para mim, sou um verdadeiro bruto. Mas fiquei sabendo que não me acho assim toda vez, é que quando digo que sei fazer algo, é porque realmente sei. – Disse com um ar triunfante. – Agora garoto, me diga uma coisa, quem era aquela que estava naquela cestinha do carro do grande otário? - Do líder? - Líder? Garoto, aquele ali era o maior covarde de todos os tempos. Nunca havia pegado numa arma nem havia servido o exército, e alguns meses antes do apocalipse começou a fazer academia. Nós éramos vizinhos, mas eu não gostava dele. Alguns dias depois do apocalipse, eu e ele roubamos uma delegacia. Mas eu já era do exército e tinha algumas armas em casa. O que aconteceu, é que quando pegamos as armas, ele me deu um tiro perto da clavícula e fugiu dali no carro em que viemos. Ele sabia que eu havia tomado um tiro ali, mas não sabia que vaso ruim não quebra. Se você já tomou um tiro num lugar a um bom tempo, não se preocupe se tomar de novo. Não atravessará. Pois bem, desde aquela data venho caçando-o. Mas em uma emboscada, perdi todo meu regimento. - Você era do exército? - Sim, eu estava em missão para resgatar todos os sobreviventes de meu bairro e transportá-los para Seattle, digo, aqui. Mas não tinha muitas armas em casa então precisava daquilo. - Me diga realmente, quem é você? - Sgtº Allen Cole da 7ª divisão de mergulhadores da marinha. - Navy Seal? - Sim, condecorado. - Então porque não saiu para seu regimento quando começou o apocalipse? - Garoto, acabei de falar que eles me mandaram para o meu bairro para resgatar as pessoas. Não havia abrigos além dos das grandes cidades. Se eles ruíram, o governo ruiu junto. Agora é anarquia meu filho. - Mas havia mais pessoas com você? - Sim. Meu regimento todo veio atrás de mim e acabei encontrando eles no meio do caminho para Seattle. Porém por causa desse lixo, perdi todos os meus companheiros de guerra. E isso, há poucos momentos... - Sinto muito, mas e a sua família? - Moravam em Nova York. Não sei como as coisas estão por lá. Agora chega de papo furado. Me ajude aqui. – Ele me mandou ficar na porta e abri-la lentamente. Fazíamos isso em conjunto, arrastando um mordedor por vez para dentro dos sanitários. Allen acabava de fazer o resto com seu todo-poderoso cano. Até que um zumbi mais “cheinho” veio, e Allen não conseguiu segurá-lo. O bicho pulou em cima dele como urubu pula em cima de carniça. Sem Allen me ajudando, as coisas se dificultavam. Tive de fechar a porta sozinho para ajuda-lo. Se não fizesse algo, meu único parceiro morreria de forma trágica aos meus olhos. E depois? Depois seria minha vez de morrer. Tranquei-a com as duas trancas fixas e pulei em cima do gordo. Allen bufou por causa do peso de 2 carnes em cima de si, enquanto eu cravava a faca sobre entre a nuca e o começo do cérebro do animal, que agora ficara imóvel. - Você tá bem cara?! – Disse eu? – Allen revelou um arranhão que me deixou quebrado mentalmente. Se eu havia falhado em proteger meu parceiro, que dirá em proteger minha irmã que ainda nem se move? Olhei-o com uma cara de triste, porém como resposta obtive o maior tapa que já levei, caindo no chão. - Ai muleque, não é porque eu vou ir dessa pra melhor que você tem que ficar assim. Isso só acontece depois de algumas horas. E se eu tenho medo da morte? Perdi no exército. Todo dia eu podia morrer, então não ligo para isso. Eu sei que reencontrarei meus parceiros lá, isso que importa. Agora deixa eu te falar uma coisa sobre esses zumbis: Se você quer resgatar sua irmã e sobreviver, essa ameaça tem de ser eliminada. Custe o que custar. Eliminada. Entendeu? - Sim! - Tá, vire para lá que tenho uma coisa para você... Virei-me e ouvi o zíper da calça de abrindo. Só o que me faltava, um estuprador em pleno apocalipse? Apunhalei a faca e fiquei esperando para que ele viesse para cima de mim. Mesmo conhecendo sua história, não me importava, mas ninguém me tocaria. Acabou comigo mesmo rindo, quando ele com o zíper fechado me mandou virar-me e me mostrou uma granada. - Bom, eu guardei aqui porque na hora que fui pego só tinha mais uma, e era o único lugar não visível. Com o pino, você pode jogá-la onde quiser que não explodirá. Mas agora eu vou ter de usá-la. Ouça-me, eu vou sair e quando você ouvir a granada, pegue a faca e saia correndo pelo túnel, ok? - Não cara, você não pode simplesmente desistir assim! - Quem disse que eu estou desistindo? Eu já estou morto, mas continuarei vivo em você. Agora você é minha alma. Seja forte, garoto. Não se deixe abater por poucas coisas. E você TEM de salvar sua irmã, fui claro? - Sim senhor! Muito obrigado por tudo, senhor! – Allen me apresentou sua mão e eu apertei-a vigorosamente. Com um sorriso formal na boca, vi que meu espirito de soldado estava naquele homem. Ele era o que eu desejava ser: forte e determinado, não fraco. Encostei-me na porta e abri devagar a tranca. Os zumbis se aglomeravam mais ainda, porém Allen com um soco que era visível pelo movimento do seu braço, levou alguns para o chão fazendo outros caírem também. Então, ouvi um “click” e ouvi barulhos de carne se retorcendo. Comecei a ouvir gargalhadas, mas de prazer, e então um final: - Vejo você por aí, pequeno bastardo! Hehehe! – E então as vozes cessaram. Lembrei-me da granada do dia da casa da autoestrada e corri para uma das cabines. Ali, me encolhi de joelhos atrás do vaso e ouvi um forte “BOOOOM” seguido de uma porta voando e milhares pedaços de carne vindo ao chão do banheiro. Abri a porta e com a faca no bolso, sai dali correndo. Ainda havia alguns zumbis que sobreviveram ao forte impacto. Mas Allen, porém, não pertencia mais àquele mundo. Pude ver que, era realmente uma estação de metrô. Eu estava no subterrâneo de Seattle, sem aparente saída. Os bancos destroçados, um vagão de trem nos trilhos, abandonado e várias lojas com portas arrombadas confirmavam o que eu achava. Corri para o túnel e pulei para a linha férrea, indo em direção á onde o carro havia ido. Vi o rastro dos pneus e a terra que ele deixara fora dos trilhos, senão os pneus estourassem. Continuei correndo por minutos, mas nunca via o fim daquilo. Será que agora, minha vida se resumiria á um túnel de metrô sem fim? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 11 - Merecido Descanso Continuei caminhando pelo túnel. O peso de Alice nos meus braços sempre esteve presente. Agora ausente me parecia estranho andar com tanta leveza. Senti-a me como um perdedor mais do que nunca, agora. Allen havia morrido por causa de mim. Eu tinha uma arma e não percebi nada de estranho fora do complexo. E o pior de tudo, é que a única tarefa que eu havia desde que o inferno começou que era de proteger minha irmã, não fi-la direito. Eu não tinha nenhuma lanterna, nenhum equipamento, nem comida. E eu já havia caminhado por horas. O túnel do metrô era longo, tanto é que a viagem em si dentro do vagão já era demorada. Os túneis de Seattle eram verdadeiramente grandes. Continuei caminhando até que encontrei uma pequena porta do lado esquerdo de uma curva. Estava entreaberta. Entrei ali e pude ver que era uma pequena sala de operação que fazia o controle dos vagões que iam e vinham. Ainda havia iluminação ativa, talvez proveniente de galões de gás em algum outro lugar. Ali, um computador, um grande quadro negro embutido com vários suportes para chaves, algumas cadeiras, um rádio de operador e um armário. Abri-o e encontrei uma lanterna mas não de dínamo. Poderia me considerar como o maior perdedor do apocalipse zumbi, mas com certeza não o maior azarado. Sempre que eu estava em necessidade, algo aparecia para me ajudar? Só poderia ser deus. Havia outra porta também, em frente a porta que dava acesso a linha férrea. Não liguei a lanterna e fui abrindo a porta devagar. Um quarto como qualquer outro, porém escuro. Liguei a lanterna com as lâmpadas viradas para trás e lentamente comecei a virá-las. Quando a apontei para a sala, havia mais de 7 mordedores e alguns corpos ali dentro, trancados. Eles? Fazendo uma tremenda carnificina na sala, que já estava manchada de sangue. Não reconheci ninguém de nenhum grupo, mas pude ver 3 deles com fardas. Supõe-se que eles sejam do exército e outros civis, quem sabe? Mas eram vítimas daqueles otários mercenários sem dúvida. Tranquei a porta lentamente mas antes disso, ainda apontando a lanterna, pude ver um dos errantes me olhando nos olhos. Aquilo me devastou. Havia ainda algum traço humano naquilo. Tranquei a porta, e depois de trancar pude ouvir baques e mais baques na porta. Eles queriam devorar-me. Sai daquela sala e voltei ao metrô. Continuei caminhando com a lanterna desligada, naquele corredor escuro sem fim. Cerca de 43 minutos depois... Tinha caminhado bastante, e meus pés estavam em brasas. O tênis já estava quase descolado, e eu não o tirava desde o dia em que tomei banho pela última vez. A meia não mais parecia uma meia, e sim um “pano de barro”. Até que, olhando para frente com os olhos já acostumados com a visão negra e turva, vi uma massa corpulenta e grande pairando sobre os trilhos. Liguei a lanterna no modo de milha e lentamente fiz o mesmo processo: Fui levantando-a devagar. Vi um vagão parado sobre os trilhos. Procurei ir para o lado dos trilhos e apontei a lanterna para longe. Não um vagão, não 2. E sim um comboio todo, com o vagão principal tombado a muitos metros de distância. Desliguei a lanterna e fui andando em direção ao vagão. O mesmo estava com as portas abertas. Era um vagão alto então não pude entrar de imediato. Não carregava nada comigo então coloquei a lanterna na porta e botei as duas mãos no piso do vagão. Impulsionei-me e subi no vagão. Peguei a lanterna e fiz o processo para não ser detectado. O que vi foi a maior carnificina que já havia visto, maior até do que a da porta de alguns minutos atrás, e maior que a carnificina dos complexos. O vagão do trem estava repleto de sangue e pessoas estraçalhadas, desmembradas e até decapitadas. Outras estavam com uma expressão de raiva na cara e havia pedaços de carne entre os dentes e as roupas. Eram zumbis. Exclamei baixinho para mim mesmo: “que diabos aconteceu aqui?”. E continuei entrepassando os corpos. Até crianças não escaparam do assassinato brutal. Haviam bolsas e malas nas cadeiras, porém decidi não abri-las e nem pegá-las. Ali, qualquer cautela era pouca. A chance de um deles me agarrar pelo pé e me cortar ou tirar um pedaço de mim eram altíssimas. “Passeando” pelos vagões vi cenas horrendas, como uma senhora de idade caída no chão, quase irreconhecível do busto para baixo, porém com os olhos arregalados e uma expressão de terror na cara. Mas até me comovi, como um casal abraçado entre seu filho, com o pai dilacerado pelas costas com um buraco na cabeça, a mãe sem um braço também com um furo na cabeça, e a criança no meio, intacta, mas morta. Provavelmente, eles não queriam viver o que eu estava vivendo. Fui andando em direção á cabina do controlador, para quem sabe pelo menos achar alguma comida. Se tivesse sorte, uma arma, quem sabe? Foi quando percebi que estar ali era suicídio. Não havia nenhum som no vagão todo, a não ser o dos meus passos. Quando uma mão me apertou fortemente pelo pé, quase me puxando para cair. Peguei a lanterna e rapidamente apontei para ela. Não havia sangue corrente; era zumbi. Sem hesitar, comecei a pisar em cima da perna, mas o bicho não me soltava, nem vinha ao meu encontro. O que aconteceu, era que ele estava preso entre outros corpos e algumas ferragens, numa parte onde provavelmente o vagão bateu. Fiquei ali pisando até que pisei nos seus dedos, quebrando-os. Vi-me livre da mão da morte e saltei do vagão, indo em direção á qualquer lugar. Andei muito, e muito, para então ver o vagão do controlador. Se ficasse ali dentro por mais algum tempo eu estaria morto com certeza. E dilacerado. Continuei a caminhar e comecei a pensar na vida. Sabe quando você liga o “piloto automático humano”? Eu estava mais ou menos nesse estado. Fiquei caminhando e pensando por alguns minutos. Alguns não, muitos até. A estrada parecia-me interminável. E apesar de os vagões e as estações estarem repletas deles, misteriosamente nos trilhos eles se ausentavam. Quem sabe ainda raciocinassem e eles vissem que andar pela linha férrea era certeza de queda? Era tudo muito estranho. Lá pelas tantas horas, eu já estava realmente cansado de tanto andar. Os olhos pesavam sobre mim, os sapatos estavam quase descolados. Suor escorria pelo meu corpo. Até que em uma curva fechada, comecei a observar um filete de luz. Será que havia alguma fresta para o mundo exterior, causado por algo que eu não sabia? Era impossível uma escalada, mas teria de checar o que era. Aproximando-me da curva, pude começar a ver um pincel de luz perfeito. Mais alguns minutos naquela transição e eu me encontrava dentro de uma estação. Não havia placas para me identificar, e felizmente também não havia ser vivo ali. Ou melhor, morto. Eu era um pobre menino rico, preso num subsolo que eu não sabia onde ficava. Comecei a observar a estação. Não havia vagões de trem em lugar algum. Na estação, muitos papéis e sacos plásticos abandonados pelo chão. Característica típica de que ali não passava ninguém fazia dias. Havia ainda 5 bancos na estação, dos quais cabiam pelo menos 6 pessoas. 3 pilastras grossas de alvenaria sustentavam o peso de cima, e em cada uma delas havia um painel iluminado de propagandas. Variadas, entre lojas de roupa femininas, comida, lojas de artigos esportivos e parques de diversões. Até um cartaz de um show estava presente numa delas. Ainda havia sanitários dos 2 lados inferiores da estação, e no meio uma porta. Em cima, escrito: “sala de controle”. Provavelmente eu entraria ali o mais cedo possível. A porta era dentro de uma cavidade. Havia ainda 2 portões similares ao da estação em que fui preso, porém na 2 diagonais da estação, trancados evidentemente pelo mesmo cadeado. Por fim, entre os portões e a sala de controle, havia pequenas janelas de aço, daquelas que correm para cima, e uma outra pequena porta, na cavidade da porta da sala de controle, porém desta vez no lado esquerdo. No lado direito, a mesma coisa. Com dificuldade e sem receio de ser ouvido, chutei a porta até arromba-la. Para minha surpresa, era uma pequena lanchonete de uma rede de lanchonetes famosa, estrangeira. Ela estava com as luzes acesas. Se as luzes estavam acesas, então as estufas... também! Comecei a revirar a lanchonete que não apresentava indícios de nenhum mordedor. Fui direto á cozinha e ali achei diversos hambúrgueres e outros sanduíches, em pequenas caixas de papel dentro das estufas. Refrigerantes em copos de 500ml, 300ml e 750ml completavam o banquete, guardados na geladeira. Haviam 4 fritadeiras, e em cima uma placa com procedimentos para fritar a batata que já estava cortada. Demorei um pouco para achá-los pois estavam escondidos num armário. Fritei quase o saco todo, e quando estava pronto, peguei uma bandeja e enchi com 3 sanduíches sendo 2 hambúrgueres de carne e 1 de filé de frango, 1 copão de 750ml de guaraná e 2 pacotes extra grandes de batatas. Devorei aquilo com os olhos, até o caminho dos bancos do metrô. Quando cheguei ali, apoiei sobre a mesa e comecei a lentamente abrir as caixas. Aquela visão e aquele cheiro de queijo derretido me fez pirar. Não havia comido bem desde o dia inicial do apocalipse. Em poucos minutos, me enfartei de todas as besteiras que pude. Mas minha fome não cessava. Ainda voltei á lanchonete e numa geladeira ao lado da geladeira dos refrigerantes, achei potes de sorvetes com 400g cada um. Peguei um pote de chocolate e outro de baunilha, e ainda fritei mais batatas, completando 3 pacotes grandes desta vez, e para matar a sede um refrigerante á base de limão 300ml. Quando acabei, pensei que minha barriga iria explodir de tanto comer! Deitei-me ali e esperei por um sinal. Até que ele veio: os movimentos peristálticos do esôfago para liberação dos gases do refrigerante, para não falar um coisa feia e ser vulgar. Sentei-me ali por alguns instantes, e depois resolvi jogar todas as caixas e copos no lixo. Joguei eles numa lixeira do metrô mesmo, então avistei a outra porta da outra loja. A curiosidade tomou conta de mim e meu enchimento não me preservou daquilo. Lentamente e sem me cansar, fui indo até a porta. Aqueles instantes até ela me pareciam intermináveis, até que consegui alcançá-la. Posicionei-me sobre a porta. Com toda a força, para não me matar, chutei a porta e quando voei para frente, descobri que ela estava entreaberta. Lasquei-me no chão e bati o cotovelo, deixando um vermelhidão extremo ali. Mas o resultado foi até melhor: Achei uma pequena loja de departamentos. Ali, muitas coisas haviam sido saqueadas. Provavelmente, por pessoas no próprio metrô. Lembrei-me daquele vagão que eu avistei a poucos metros dali, estava repleto de sacolas com o emblema da loja. Não achei muita coisa boa; para falar verdade, achei apenas uma coisa boa: Um par de cobertores escondidos entre os armários. Peguei-os e vasculhei a loja mais um pouco, porém não achei mais nada de bom. Sai e fui para os bancos. Ajustei um dos cobertores num deles e deitei-me. Coloquei o outro em cima de mim para obter um conforto térmico que não sentia fazia algum tempo. Estava olhando para aquele teto rígido e iluminado por um lâmpada extensa branca, quando comecei a pensar na vida. Na verdade, na vida que eu havia perdido. John, meu companheiro de sempre; dos jogos de futebol aos trabalhos mais difíceis. O time que ganhou vários títulos regionais: Frank, Matt, eu, e outros. Meu amor de todos os dias, que sempre me encontrava com um abraço apertado na frente dos meus colegas que ficavam pasmos com nosso afeto. Nat. Sim, Nat. Lembrei-me de seu sorriso e seu rosto, e aquilo me fez sorrir inconscientemente. Aquilo tudo estava perdido. Meus amigos, minha namorada. A vida humana. Agora se resumia á um grande jogo de terror. Onde o humano é morto e devorado. Mas os mais fortes sobreviveriam. Hei de sobreviver; hei de encontrar Alice; hei de escapar das garras daquele líder fanático por morte. Livrei-me desses pensamentos, mas alguns deles me corroíam por dentro. Decidi esquecer as coisas más e lembrar-me das boas. 6 anos atrás... - Então galera, meu pai acabou de me comprar um novo videogame. Aquele novo lá, sabem? - Não velho, desembucha, qual é? – John falou. - Um tal de Zéks... Zégzós! – Era Mack o dono do novo console. - Xbox, seu burro! – Lewis dessa vez. - É, esse ai mesmo! E ai, vamos marcar de um dia a gente ir lá na minha casa e jogar uma partida de futebol? - Que tal em vez de jogar futebol virtual, a gente não treina pro futebol real? Você sabe que daqui a 2 semanas a gente vai jogar contra o time daqueles moleques da capital né!? Eles são fortes! – Lewis denovo. - A partida não dura 10 minutos, depois a gente treina na quadra da minha casa mesmo – Mack concluiu. - Não sei, e o que você acha Nikolai? – John perguntou á ele. Mas Nikolai não ouvira. Seus olhos estavam voltados com toda atenção para um pessoa do outro lado da sala de aula, numa carteira. Uma garota. Assim como ele, disfarçadamente, trocava olhares e sorrisos. John percebeu, e ele já havia percebido que Nikolai estava gostando dela. Mas ele era boa pessoa, e para não mancar com seu amigo, cortou diretamente: - Tá certo, mas vamos jogar só uma partida cada, entendeu? – E Nikolai ainda não percebeu o foco daquele assunto. Seu foco eram aqueles olhos, aquele rosto... Nat. Seus olhos me incandesciam por dentro. Era com certeza minha paixão perpétua. Com o pensamento nela, lentamente fui adormecendo para meu merecido descanso, lembrando-me de suas feições... ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Capítulo 12 - Inferno Vivo Acordei envolto aos cobertores. Eles faziam uma espécie de manto que me acaloraram durante a noite toda. A noite toda sonhara com coisas boas e estranhas. Não foram sonhos lúcidos, foram sonhos daquele tipo “gravados”, em que você só assiste. No primeiro sonho, eu só podia enxergar um clarão imenso. Mal conseguia estender e ver minhas mãos. Dali surge uma figura. Aquela não me dava medo, me mostrava confiança. Deixei-a se aproximar de mim, e reconheci. Era Allen, com a mesma roupa e a mesma bandana, mas dessa vez com um capacete, uma máscara e óculos. Ele olhava para mim, apertava minha mão vigorosamente e atrás dele surge uma grande parede de pedra rústica, na direita, na esquerda e acima de mim também.. Então, de seu coldre, ele tira um revólver e fala: - Essa ameaça tem de ser eliminada! Custe o que custar. Eliminada. Entendeu? Ele se virava para a parede e inconscientemente, eu me virava para o lado que a parede não avançou. Ali, via um único mordedor. Eu fazia a pontaria, e atirava uma única bala. No tiro, eu era transportado para outro sonho. O segundo era mais estranho. O mesmo clarão de sempre, mas ninguém. O mais silencio absoluto. Então, de algum lugar, uma voz ecoava: - Você colhe o que planta, Nikolai. A força responde a força, guerra gera guerra, e morte só traz morte. Para quebrar este círculo vicioso é preciso fazer mais do que apenas atuar sem qualquer pensamento ou dúvida. Pareceu-me mais como apenas um conselho, ou uma citação. Não sabia de quem viera. A voz não me era reconhecível, mas com certeza era de um homem. Não tinha o esplendor de uma voz divina. E também não me parecia estar muito longe. Depois disso, á minha frente surgia uma imagem virtual, uma tela imaginária. Ali, passava a imagem de um parque público, alegre. Cheio de crianças brincando, jovens namorando e adultos passeando. Então a imagem começava a mudar, e um cenário cinzento, com as árvores mortas apareceu. Não havia mais ninguém no parque. A cidade estava deserta. Depois disso, pulei para o último sonho. Esse, a visão era evidente. Estava dentro de um carro, dirigindo velozmente. Olhei para o velocímetro: estava a mais de 150 km/h. No carona, Alice num assento para crianças, daquele que eu carreguei nas costas a alguns dias. O modelo do carro eu não sabia, mas ele era bem estável. Fazia as curvas normalmente á 120 km/h. Até que numa reta, um tiro ecoou e atravessou meu para-brisa. Olhei para trás e vi um comboio, e lógico que era o comboio dos mercenários. Então, antes de um cruzamento, um deles acertou no meu pneu e o carro capotou. A minha visão começou a ficar turva enquanto o carro capotava. Quando parou, ele estava no meio fio do cruzamento. Dali, a estrada fazia ângulos de 90 graus. Haviam 4 entradas. Então o comboio parava um pouco atrás, e o líder desce. Eles dão meia volta e partem. Agora, tive várias alucinações e minha visão cortou para pontos avançados do sonho, vendo partes cortadas. O líder, entretanto, continuava vindo em minha direção. Minha visão cortou, e quando abri ele estava á poucos passos da porta. Tentei me mexer, mas quando o fiz, pisquei o olho e minha visão cortou novamente. Ele estava com um revólver na mão, e mirava para mim. Pisquei de novo, e ele apareceu na porta do carona, pegando Alice. Tentei me mexer novamente para impedi-lo, mas minha visão cortou novamente. Ele já estava á alguns passos do carro. Cortou novamente, e dali eu via uma mão. Ela estava estendida para mim, e agarrei-a. Então, uma mistura de duas vozes começaram a repetir as duas frases que eu já tinha ouvido nos outros 2 sonhos: - Você colhe essa ameaça Nikolai para quebrar essa ameaça você custe o que colher gera eliminada... – E as vozes continuavam a falar, embolando uma em cima da outra, sem que eu pudesse distinguir. Mais um corte. Dessa vez, um homem que eu não sabia quem era corria para cima do líder, com minha irmã nos braços. Ele pulava em cima dele, que jogava minha irmã para o lado, porém ela estava protegida pelo assento, ainda presente. Então, tive 2 cortes: no primeiro, o homem tirava um pistola e atirava na cabeça do líder. No momento do tiro, acontecia outro corte, que mostrava o homem dando apenas um soco para desmaia-lo e vindo ao meu encontro com Alice. Quando ele chegou perto do carro, não tive mais cortes na visão. Apenas a mesma mão estendida. Quando agarrei-a, ouvi o choro de Alice e então acordei para a realidade. Acordando, dirigi-me a lanchonete e ali fiz um breve e curto lanche. Sem coisas leves, comi 1 hambúrguer pequeno com apenas 1 fatia de queijo, especial para café da manhã, tomei café com leite e comi uma fruta. Ali eu não mais poderia ficar, quanto mais tempo passava, Alice poderia estar mais longe. O pior de tudo é que eu não sabia por onde começar. Mas, tentaria pelo menos criar uma saída dali. Fui até a loja, e com a lanterna tentei achar alguma coisa que me servisse. Procurei bastante, e acabei encontrando coisas que poderiam ser-me úteis na minha jornada. Um canivete suíço entrava na lista, assim como uma mochila de acampamento. Procurei mais um pouco, e no depósito achei um alicate de corte, daqueles que usam no exército para cortar cadeados eficientemente e rapidamente. Isso provavelmente seria minha saída. Fui até a lanchonete e roubei quase todo o estoque de comida, incluindo tudo, mas tudo mesmo. Até sorvetes, que pretendia ser os primeiros á serem consumidos. Refrigerantes, apenas nas latas. Os abertos estragariam. Sai da lanchonete e fui até o portão da diagonal esquerda. Certifiquei-me que não haviam mordedores no caminho, e com o alicate quase-gigante em mãos, posicionei-o sobre o cadeado. Foi apenas uma leve apertada e o cadeado voou do portão, abrindo-o instantaneamente. Aquilo era muito bom! Antes de sair, coloquei a mochila no chão, abri um dos fechos éclairs. Coloquei a lâmina do alicate para dentro, e suas duas hastes para fora, fazendo com que quando precisa, era só colocar as mãos nas costas e puxar. Quando ele ficou fixo na mochila, coloquei-a nas costas e abri o portão. Enquanto eu subia, ficava pensando no que poderia encontrar lá fora... Quando estava começando a subir as escadas, notei uma coisa que me intrigou. Havia alguns rastros no chão, rastro de asfalto. Ou melhor, de pneus. Então, antes de ir, segui o rastro, porém no sentido contrário. Eles acabavam no começo do piso do metrô, porém no meio do piso ainda havia alguma evidência. Fui seguindo elas até que achei uma rampa, no extremo esquerdo, perto da linha férrea. Desci a rampa e dei de cara com uma coisa que não havia percebido antes: O carro que o líder estava usando! Aproximei-me dele, mas Alice não estava ali. Nem ele. Porém a caçamba estava aberta e havia uma rampa auxiliadora, como que para descer alguma outra coisa. Mais fina e que passasse por ali... Uma moto, claro! O líder fugiu com Alice numa moto, pela escada. Mas antes de ir, certificou-se de trancar os portões... Dentro do carro não havia nada que me servisse. Resolvi sair dali e voltar para a superfície. Nos últimos degraus, um raio de luz começou a penetrar o interior da estação. Fui subindo lentamente, com a mão no rosto para me proteger. Olhei para a rua; deserta. Até pássaros estavam absentes. O céu estava um pouco claro, e o sol batia nos arranha-céus de Seattle. Ou o começo de uma manhã, ou o final de uma tarde. Descobriria logo. O orvalho das plantas de um parque próximo dava no ar um tom mais pesado e úmido, fazendo um frio aconchegante. A primeira coisa que eu faria era me localizar. Com certeza eu estava próximo de um centro urbano. Os prédios denunciavam esta informação, e a quantidade de carros parados na rua confirmavam minha suposição. Do outro lado da rua, havia outra entrada de uma estação de metrô. Não invadiria prédios nem procuraria por sobreviventes, porém andaria com toda cautela pelas ruas. Aliás, onde estava o grupo daqueles cães e todos os zumbis das ruas? Aquela cidade não estava deserta por algum acaso randômico. Andando pelas ruas, notei algo que me pareceu interessante, e no mínimo curioso. Um grupo de pássaros, de uma raça que eu não sabia qual era pela altitude que estavam, passava em forma de V sobre o céu. Não um grupo, não dois, mas 5 deles, simultaneamente. E cada minuto que se passava, mais 5 grupos percorriam a mesma trajetória. Então, comecei a ouvir um ruído leve ao fundo da cidade. Que se aproximava cada vez mais rapidamente. E então, subitamente, vi um vulto no céu passando muito rápido, fazendo a queda consequente de todos aqueles pássaros. E segundos após a passagem, vidros dos andares mais elevados dos arranha-céus estavam caindo sobre minha cabeça. Era um caça passando sobre a cidade, quem sabe para vistoriar. Mas não podia admirar nenhuma imagem, pois até não havia o que ser admirado. Afinal, pássaros caindo mortos e vidros cortando-me pela cabeça não eram bons. A estação de metrô estava fora do meu alcance; eu já estava longe. O que encontrei para me abrigar foi um ônibus com as portas abertas. Entrei nele e vi os pedacinhos do vidro caindo. Fazendo estragos em carros, cortando folhas de árvores, quebrando vidros. E os pássaros caindo juntos. Passaram-se por volta de 3 minutos neste mesmo cenário, até que tudo parou. Sai do ônibus e continuei a caminhar. Se havia caças, ainda havia governo, quem sabe? Pois os mercenários não teriam poder de fogo para tudo aquilo. Quem sabe ainda havia algum refugio de um governo provisório que tentava conter as infestações. Enquanto eles tentavam, pessoas morriam pelo mundo todo. E a Eurásia, as outras Américas, a África, o Novíssimo Mundo? Estariam desse mesmo modo? Que deus tenha piedade deles. Alguns de seus governos eram precários, e o governo nunca daria conta de uma onda de pessoas famintas querendo devorar as outras. Depois de mais ou menos 20 minutos dos últimos ocorridos, eu ainda andava pelas ruas. Os ruídos começaram novamente, e ouvi explosões em boa parte da cidade. Fumaça saia de todo lugar e contaminava o ar de, agora com certeza, uma manhã que se transformara num inferno. Virando uma esquina, me deparei com uma rua cheia deles. Deles que eu digo, são mordedores. A rua estava toda implacável deles, que na minha vista, correram para cima de mim. Mas a festa deles não durou muito. Correndo na direção oposta deles, como um atleta. Comecei a ouvir um ruído muito mais grave e profundo. Então, uma imensa sombra passou por cima de mim. Eu já estava á alguns metros de vantagem deles, e parei para observar aquilo. Passando lentamente sobre minha cabeça, voava um F-117. Alguns segundos depois de passar, comecei a ver sua comporta de baixo abrir. Dali, um projétil. Corri como nunca, e os zumbis quase me alcançaram. Corri, corri e corri. Quando a bomba estava a poucos metros do chão, fui me esconder numa pilastra de um prédio, que estava perto de onde eu estava. Tapei os ouvidos. BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM! A maior explosão que eu já tinha visto na vida aconteceu. O que era dia, agora me parecia um inferno nuclear. Mas não, a bomba não era nuclear, senão eu já estaria morto. Quando a explosão passou, veio a onda de destroços. Demorou mais ou menos 30 segundos para os destroços passarem e eu poder vera destruição. Metade da rua que antes era de zumbis, agora era de cinzas. Mas alguns deles ainda ficaram inteiros. Aproximei-me de um morto e vi suas evidentes cicatrizes: Era uma bomba Napalm gigante. As queimaduras eram idênticas a da foto de Kim Phuc, que uma vez eu vi em um seminário escolar sobre a Guerra Fria. Então, não tive mais dúvidas: Seattle estava sendo atacada. Corri para tentar encontrar qualquer abrigo forte, e agora os bombardeiros dominavam o espaço aéreo. Numa rua, não havia mais nada. Noutra, 1 ou 2 zumbis caminhavam sem rumo, ante aos corpos dos “amigos” deles. Foi quando virei uma esquina que tive uma surpresa. Ouvi uma hélice, e quando fui olhar de relance, havia um helicóptero. Um AH-64 Apache, dizimando outra horda do tamanho daquela que foi dizimada pela Napalm. O piloto não tinha piedade, então eu não me arriscaria pedindo ajuda. Além de que Alice ainda estava perdida. Sai dali por outra rua, mas cada vez mais o exército dificultava minha vida. Com os ruídos, mordedores de todos os lugares agora eram atraídos. E eu não poderia enfrenta-los. De esquina em esquina, mais destroços e mais mordedores se enchendo pelas ruas. O ar gélido e aconchegante, agora era um ar abafado com cheio de explosivos e pólvora. Ainda acabei encontrando outros helicópteros, ouvindo outros bombardeiros passando e bombardeando, e muitos tiros. Acabou que, em uma das esquinas, ouvi outro som. Um motor á propulsão, com certeza. Olhei e reconheci o avião pelo modo de voo que estava. Era um AV-8B Harrier, de fabricação inglesa, porém comprada pelo meu país. O ruído de seu motor encobria o das hordas que ele dizimava. E ele constantemente girava em torno de seu eixo, para ataca-los. E na rua em frente á que ele pairava, havia uma enorme placa. E uma parede de metal separando-o das ruas. Para dizer a verdade, para mim era um novo complexo. E em cima dessa parede, havia uma placa com um desenho de um cobra no meio de 2 fuzis de assalto. Era o quartel dos mercenários, não havia duvida. Mas com aquele caça ali em modo VTOL, não haveria entrada para o interior de lá. Fiquei observando-o enquanto ele explodia as hordas. Até que começou a disparar mísseis. E a cada explosão, o chão tremia. Quando todos os zumbis se dizimaram, o piloto começou a levantar voo. Até que se abaixou novamente. Escondi-me na esquina para que não me visse, mas sabia que morreria naquele momento quando ouvi o estrondo de mais mísseis sendo disparados. O que me surpreendeu, no entanto, é que aqueles mísseis não eram para mim. Ele simplesmente derrubou a parede de metal daquele complexo. Ai sim, voltei a observá-lo. Ele ganhou altitude, saiu do modo VTOL e planou com uma velocidade incrível. Enquanto eu ia em direção a tal complexo, uma chama de esperança reacendeu no meu coração. Alice poderia estar ali não? Olhei para o céu e o ruído do avião daquele piloto desapareceu. Ele havia se tornado mais uma pessoa que, inconscientemente, me ajudou em minha missão de resgate.