Eu comecei a escrever esse conto junto com a reformulação de uma sugestão que dei antigamente, quando anunciaram o Servidor Eclipse. Foi mais ou menos no começo do mês, as idéias bateram tão forte quanto uma Kombi na contramão e, pouco a pouco, fui construindo e reformando a sugestão (que eu espero fortemente ser implementada no servidor )
Opcional
Para melhor ambientação, deixe esse som tocando e leia no escuro.
Sem delongas, vamos lá!
O Despertar dos Necromantes
- Parte 1: O início do Fim
Vinte e três de Outubro de 1249.
Era uma noite fria de outono quando aquele velho explorador começou a rabiscar algumas palavras em seu caderno de viagem. O relógio já passara da meia noite havia algumas horas e o sono ausente trazia memórias horrendas de sua juventude à realidade. Nas primeiras linhas, ficou claro a razão do desabafo: o Medo.
"Me disseram uma vez que a dor e o desespero de se perder alguém ainda levaria a humanidade à perdição. Esposas, filhos, amigos... Nossos antepassados nunca conseguiram suportar o luto e sempre estiveram atrás de formas de trazê-los de volta.
Da mesma forma, ou até mais desesperadamente, tentaram reviver os mortos na mesma intensidade em que tentávamos matar os vivos (e ainda tentamos nas guerras atuais), e a cada tentativa sem sucesso uma parte da Consciência, uma lasca do Amor ou até mesmo uma fagulha de Vida deixavam o corpo de quem tentava, pouco a pouco, até sobrar apenas uma casca vazia com uma alma sombria.
Foi ai que as coisas começaram a ficar perigosas e obscuras: começaram a adicionar Fragmentos do próprio Vigor, agora desnecessários devido tanta obsessão. Inicialmente, poucas quantidades foram utilizadas e como o tempo e a loucura, foram usadas mais e mais, até que finalmente um Cultista dos Deuses Antigos conseguiu reviver o próprio pai, porém, enlouqueceu no processo, dando fim à criação momentos depois, sem antes todos os Reinos tomarem conhecimento.
Neste dia fatídico, a Necromancia nasceu. Os Cultistas abandonaram seus Deuses e viraram Necromantes, magos especializados nas artes da Morte, desprovidos de razão, compaixão ou amor. Seres com a alma tão escura quanto uma Pedra Obsidiana e corações tão podres quanto os cadáveres que começaram a vagar pelo Reino do Norte, conhecidos depois como Zumbis.
Os primeiros Necromantes foram capazes de subjugar os mortos, obrigando-os a trabalharem e destruírem à vontade de seus mestres. Com o tempo, o poder insaciável e a sede por caos levaram os Cultistas à beira da loucura e até mesmo à morte. Os menos atrevidos foram dizimados, enfrentando batalhas pavorosas contra entes queridos que já haviam falecidos, todos invocados por Necromantes insanos, corrompidos pela podridão que a Morte trás consigo."
O relógio apontou 6 da manhã. O vento rugia com imensa força do lado de fora e finalmente o cansaço realizou sua visita, atrasado. O senhor deixou a pena e o caderno de lado, prometendo finalizar sua história outrora. Por enquanto, apenas um bom sono era almejado...
O Despertar dos Necromantes
- Parte 2: A Era da Morte
Vinte e seis de Outubro de 1249.
O aventureiro voltou sua atenção ao manuscrito, após um gole de café aguado (a melhor bebida que aquela casa poderia oferecer em tempos de guerra), sem nada sólido para acompanhar. Todo o continente passava por uma crise econômica e política que relembrava a Crise Necromante, ou como os habitantes com mais idades chamava, a Era da Morte.
"Naquela época, a cada dia que se passava mais pesquisas e até mesmo experiências com cobaias vivas, inclusive, aprimoravam a arte da Necromancia. A cada dia, mais e mais vigor era necessário. Aprenderam a invocar animais, monstros e até mesmo demônios. Descobriram formas de aprisionar encantos em papiros indecifráveis... Naquela época, nós estávamos a beira da perdição e do terror.
Quando ameaçaram a vida de cidadãos inocentes dentro das muralhas do Reino, o Imperador declarou guerra aos 'Bruxos', como ficaram chamados. A Necromancia se tornou um crime, punido com a morte do usuário na fogueira. Um grande contingente de soldados, temerosos com os novos demônicos, começaram a queimar em praças públicas qualquer um que fosse acusado de reviver até mesmo um mero inseto ou portasse algum objeto suspeito.
Com a nova política, milhares de Bruxos foram torturados e queimados, até a resposta vir: no dia seguinte à morte de um dos Cultistas mais antigos, uma horda de morto-vivos deixou os cemitérios da cidade e destruíram os arredores do reino e o Distrito Central. Cerca de meio milhão de corpos, frescos ou podres, amanheceram espalhados nas ruas, com um rastro de sangue enegrecido nos levando até as dependências reais, mais precisamente à sala do trono, onde o Imperador, sem vida, jazia sobre os pés do Primeiro Necromante, aquele Cultista pacífico que todos viram queimar em praça pública no dia anterior.
Durante dois séculos, o medo dos mortos e a escassez de recursos levaram os habitantes à Idade das Trevas, ou a Era da Morte.
Com isso, fomos esquecidos por tudo e por todos, inclusive aquilo que chamávamos de Deuses."
Por hoje, sua estória estava finalizada. Ao fundo era ouvir os sons dos sinos dos templos, construções que foram abandonadas em resposta ao desleixo das Divindades que pararam de responder seus fiéis, deixando a mercê do próprio destino.
O Despertar dos Necromantes
- Parte 3: O Desdem dos Deuses
Trinta de Outubro de 1249.
"Por décadas, a onipotência, a onipresença e a onisciência dos Antigos Deuses não foram capazes de prever e evitar a ruína que estava por vir. Quando as dvindades ficaram sabendo da Arte de Reviver os Mortos, perderam a pouca fé que ainda depositavam na humanidade e aos poucos, foram punindo os humanos:
A Deusa da Vida, se sentindo desprezada, deixou de acompanhar os partos e a partir disso, surgiram crianças sem a Graça Divina, efêmeras, deformadas e muito doentes. As Deusas da Colheita e da Caça levaram suas bençãos e a Fome assolou os Três Reinos por muito tempo. O Deus do Sol se escondeu, envergonhado por iluminar tantos zumbis e por meses seguidos não fomos abençoados pela luz do sol, vivendo em uma madrugada acinzentada com o céu nublado. Por fim e mais grave, a Deusa da Morte, irada por reviverem os mortos, passou muito tempo ceifando pessoas inocentes antes da hora.
Percebemos que a Necromancia não era algo construtiv: ter alguém de volta pelo preço de sua própria vontade de viver não se passava de ilusão. E uma ilusão amarga, doentia e cara.
Com o tempo, a Caça às Bruxas se intensificaram. Os contra-ataques ficaram menos expressivos e o número de mortos se estabilizou. O Primeiro Necromante, aquele que levantou milhares de corpos por uma vingança sangrenta e que colocaria o mundo na beira da loucura e caos, finalmente caiu, sumindo sem deixar vestígios, mas não graças aos Deuses que nos deixaram.
A Necromancia foi banida das terras dos Três Reinos e por quase meio milênio, ninguém retornou à vida."
O senhor já apresentava a exaustão da idade e decidiu abandonar as memórias. Cada filete que narrava trazia mais e mais dor, agonia e desespero, sentimentos de uma vida atribuída a muito caos e terror. Se tivesse a mesma ambição e coragem de antes, daria um fim à própria vida e levaria suas memórias, por mais corrompidas que fossem, para a tumba.
Mas ele sabia que isso não é possível...
E nós sabemos que ele não morreria tão facilmente.
Fim?
A Biblioteca Oculta
- Parte 1: O Canto das Almas
Treze de Agosto de 1723.
O Deserto de Damasco era a prova viva de que existia um inferno na Terra. Suas temperaturas batiam a casa dos cinquenta graus e, por diversas vezes, matava algum de nossos exploradores por insolação ou sede.
Meu nome é Solomon Freye. Sir Freye para meus subordinados e apenas Sol para os mais íntimos. Por mais estranho que pareça, fui designado (contra minha vontade) para gerir as escavações nesse deserto. Digo que é estranho pois minhas explorações condizem a locais frios ou úmidos, como o Pico da Neblina ou o Porto Pantanoso.
Nunca demonstrei interesse em desvendar os mistérios que esse novo lugar pode oferecer mas também não posso recusar tamanha oportunidade. Minha carreira fora construída por explorações arriscadas e muitas vezes coloquei minha vida em perigo. Da mesma forma, quando coloquei meus pés nessa areia amaldiçoada, senti que nenhuma experiência chegaria aos pés dessa.
Senti que essa seria minha última exploração.
A escavação seguia a todo vapor, dias e noites varados por uma imensa curiosidade minha e dos outros pesquisadores... Mesma curiosidade que foi substituída por apreensão quando começamos a encontrar pilhas e pilhas de ossos dentro de um corredor que nos levava abaixo do nível da areia. Manchas escuras no piso e na parede (que descobrimos mais tarde serem sangue) trilhavam sinuosamente um caminho até um pequeno acesso que, por sua vez, nos levou a uma gigantesca biblioteca oculta.
As tochas que trouxemos, numerosas e de boa qualidade, não foram capazes de iluminar todo o cômodo e era possível ouvir vozes que, à primeira vista, vinham de todos os lados. Demoramos quase dez minutos até percebermos que, na verdade, as vozes vinham dos manuscritos nas prateleiras. Cada livro ali contava uma estória de dor e sofrimento em tons tão grotescos que até mesmo os homens mais valentes fugiriam assustados. Os exploradores que descobriram a biblioteca ficaram horrorizados com os cânticos guturais e traçaram seu caminho de volta com as mãos levadas à boca contendo o café da manhã até se enfiarem na escuridão para nunca mais serem descobertos.
Continua...
Postarei o restante dessa história toda Segunda Feira e, caso queiram, também posso postar a Sugestão que citei inicialmente.
Até lá, deixem seus comentários! Críticas são muito bem vindas. ^^
Bons sonhos.