Segunda-feira, um tédio total. O sol resolveu querer matar todo mundo hoje. Ninguém prestando atenção em nenhuma palavra que a palestrante falava que até ela se perdeu várias vezes, e não se achava. Gaguejava bastante, provavelmente a primeira palestra dela, mas não era problema de ninguém ali. Dia errado pra ela começar, muito quente. Quem diria que depois dali ela beberia tanto o se fracasso e acabaria em um hospital em coma alcoólico. Mas isso não era problema de ninguém dentro do salão. Cada um tinha seus próprios problemas. O ar quebrado, e os ventiladores portáteis que trouxeram não eram suficientes. Uma menina de cabelo cacheada estava grávida, e batucava o lápis na mesa freneticamente. Mas isso não era problema de ninguém, além dela e do loirinho do fundo da sala, que roia as unhas. Era o pai. Outra fungava e espirrava frenéticamente, gripada em dezembro com os termômetros 37 graus, até pra mais. Morreu uns dias depois da palestra. Mas nem foi da gripe, atropelada mesmo. Mas isso era um problema de ninguém mais La naquela a sala. Tinha um guri, chamado... Ninguém sabia o nome dele na real, mas chamavam ele de Jones. Jones dormia em todas as aulas, todas as palavras, o intervalo inteiro. Um vagabundo visto pelos outros dali, babando na classe em cima dos próprios livros. O que ninguém sabia é que ele trabalhava a noite toda pra sustentar a mãe viciada e a irmã menor, tinha no máximo 4 horas de sono decente e ainda tinha que estudar pra caralho pra segurar a bolsa naquela faculdade particular. Problema só dele. Naquele calor que me faz crer fielmente que o inferno era ali, eu não tinha nenhum problema. Eu achava que tinha, vários. Tipo as contas, os amores, mas o meu era menos. Eu era menor. Bem pequeno. E no final, todo mundo dentro do seu próprio mundo de problemas, crescendo, chorando, desistindo e morrendo. Mais morrendo do que qualquer coisa.