Dez Dias, Dez Pílulas: 1º Dia Estou testando uma nova medicação. Meu médico que recomendou. Disse que ajudaria com as coisas. É uma nova droga, ainda sendo testada, então me colocaram em experiência de dez dias. Os efeitos colaterais devem ser mínimos. Nenhum risco, disseram. Meu médico disse que eu deveria anotar quaisquer mudanças que sentir em relação ao meu comportamento, sejam elas boas ou ruins. Por isso comecei esse pequeno diário. Me sinto idiota por fazê-lo, nunca tive um antes. Cheguei do médico faz uns vinte minutos. Vou tomar uma das pílulas agora. Estou um pouco nervoso, apesar dele garantir que vai dar certo. Como sempre, só devo estar paranoico. De qualquer forma... Aqui vou eu. 2º Dia Bem... Não dormi muito bem. Tive dor de cabeça a noite toda. O médico disse que era um possível efeito colateral. Além disso, não notei nenhuma outra diferença. Tomei um Advil por volta das quatro e isso pareceu ajudar. Estou prestes a almoçar. Eles disseram que eu deveria tomar a medicação de estômago cheio. Ainda bem que não preciso trabalhar hoje. Acho que após o almoço vou tirar uma soneca. Estou cansado e minha cabeça finalmente deu um tempo. .--- Engraçado, essa é a segunda vez que escrevo aqui hoje. Talvez eu realmente esteja gostando de fazer isso? De qualquer forma, estou indo dormir. Mais cedo eu almocei, tomei a pílula e desmaiei no sofá. Tive sonhos bem esquisitos. Isso é bem estranho, porque NUNCA sonho. Bem, já é quase meia noite e preciso tirar algumas horas de sono. Vou tentar acordar cedo e tentar aproveitar ao máximo meu Domingo, talvez fazer um passeio até o lago. Espero que não chova. 3º Dia Tive um dia bem estranho hoje. Tudo estava ótimo até que fui para o lago. Tomei a pílula por volta do meio dia antes de sair. Não sei se isso tem muito a ver com o que aconteceu (não vejo um motivo para ser) mas mesmo assim, esse diário é justamente para anotar algo fora do normal durante o teste. Então, fui para o lago por volta das três. Levei meu livro, uma toalha e meu deitei perto da margem. Estava ensolarado e quente, um ótimo dia. Haviam algumas famílias lá, principalmente crianças e alguns adolescentes. Tudo estava indo bem até que... Bem... Eu ouvi essa... Sirene. Deixa eu explicar: esse lago se situa no meio do nada. Um lugar secreto. Você tem que passar por essa estradinha suja de terra pelo meio da floresta para conseguir chegar lá. Mas uma vez que você está lá, é muito lindo. Há um ano, alguns moradores depositaram areia em volta da margem e continua lá até hoje. É como estar perto do oceano no meio de uma floresta. Então, já era por volta das seis da tarde e o sol esta baixando e essa... sirene... começou a soar pela floresta. Era distante e baixa, ressoando pela água vindo da margem oposta. Me lembrou daquelas antigas cornetas Vikings. Atordoado, percebi que eu parecia ser o único a ouvir aquilo. Olhei em volta, tirando meus óculos escuros do rosto, e ninguém nem virou o rosto em direção ao barulho. Bem, depois de três minutos a sirene finalmente parou. Depois disso decidi que era hora de ir embora. Comecei a levar meus pertences para o carro e congelei quando coloquei a mão na maçaneta da porta do carona. Da margem do outro lado do lago, três figuras me observavam. Estavam longe, longe demais para eu conseguir identificar as feições. Pareciam ser três homens, mas não tenho certeza. Havia algo de errado com os rostos, mas não importava o quanto eu forçasse a visão, não conseguia distinguir o que era. Totalmente apavorado, abri a porta do meu carro e entrei. Enquanto me afastava, podia vê-los me observando do espelho retrovisor. 4º Dia Não sei o que fazer. Vou ligar para o meu médico. Tive mais sonhos ontem a noite. Minha cabeça dói. Tomei a medicação um pouco depois do café da manhã, mas acho que era melhor não ter tomado. Pareceu piorar a dor de cabeça. Hoje fui para o trabalho mas não consegui me concentrar. Sinto como se alguém estivesse me observando. Sinto que alguém está me observando agora mesmo. –-- É quatro da manhã. Acabei de acordar de um pesadelo. Ouvi a sirene de novo. Não sei se foi aqui na rua ou no sonho, mas me acordou. Estou suando feito um louco, me assustou pra caralho. Continuo achando que estou vendo algo passando pela minha janela. 5º Dia Bem, hoje o dia foi bem melhor. Liguei para meu médico e contei todas as coisas estranhas que andaram acontecendo. Ele falou que os sonhos e a dor de cabeça eram provavelmente efeitos colaterais e que eu não tinha que me preocupar com aquilo. Mas estava cético sobre as outras coisas. Tinha contado todo o resto também e, Deus o abençoe, ouviu tudo que eu tinha para falar. Me assegurou que provavelmente era algo relacionado ao estresse, mas que eu devia avisá-lo se ficasse pior. Ele me lembro que essa não era uma droga licenciada, mas era a melhor chance que eu tinha. Vou ter que aguentar. Ele disse que tenho que fazer o teste de dez dias para podermos reavaliar o caso. Estou na metade do caminho. 6º Dia Mais sonhos na noite passada. Sonhei que algo estava deslizando pelo meu chão, como se fosse uma sombra sob meus pés. Toda vez que eu tentava me afastar dela, voltava para de baixo de mim. Eu subi na cama e a coisa subiu pela parede como um pedaço de papel negro. Pouco antes de acordar, ouvi algo parecido com uma risadinha vindo de baixo da minha cama. Hoje, quando voltei do trabalho, algo em meu apartamento não parecia certo. As portas do armário que fica no me quarto estavam escancaradas. Não lembro de tê-las aberto hoje, mas acho que eu simplesmente esqueci. Fiz questão de deixar bem fechadas. --– É quatro da manhã agora. Estou com medo pra caralho. Algo está dando risadinhas dentro do meu armário. Não sei por que, mas cada milímetro do meu corpo está me dizendo para eu ignorar até que pare. Estou escrevendo isso para evitar ter um ataque de pânico. 7º Dia Estou sentado no meu sofá, pensando se devo ou não ligar para o meu médico. Não me sinto bem. Tomei a pílula. Não sei pra que. Tenho essa sensação de que se terminar esses dez dias, tudo voltará ao normal. Liguei para o trabalho e disse que não estava me sentido muito bem. Fechei todas as cortinas. Só queria sentar no escuro e não adormecer. Minha cabeça continua me matando de dor. Tem algo de muito errado comigo. Acho que tem alguém na minha varanda. 8º Dia É meia noite. Não adormeci ainda. Estou no sofá, não saí daqui desde ontem, exceto quando fui tomar minha pílula. Posso ouvir a sirene de novo. Está distante, quase inaudível, mas está lá. Acho que tem alguém dando risadinhas no meu quarto. 9º Dia Liguei para meu médico hoje. Contei todas as coisas terríveis que tem me acontecido. Sabe o que ele disse? Disse que eu tinha que terminar os dez dias, que era necessário ou eles viriam me buscar. Quando perguntei eles quem, o médico desligou na minha cara. Ele parecia atordoado, amedrontado. Mas que porra é essa que está acontecendo? Quem está fazendo isso comigo e por quê? Ainda estou sentado no meu sofá. Não quero me mexer. Meu chefe continua me ligando, mas estou nem aí. Só preciso terminar o experimento. Só preciso acabar com isso. Acho que tem alguma coisa no meu quarto. Não consigo ver porque minha porta está fechada, mas posso ouvi-lo. Anda com passos pesados e dá risadinhas. Acho que se eu ignorar, não vai me machucar. Mas estou me cagando de medo. 10º Dia São três da manhã. Ainda estou no sofá. Algo acabou de abrir a porta do quarto. Posso senti-lo me observando, mas me recuso a olhar naquela direção. Estou escrevendo para me distrair e não olhar para lá. Meu coração está batendo tão forte que sinto que vou vomitar. O apartamento está escuro, mas consigo ver a a silhueta escura e alta pelo canto do meu olho. Está lá de pé, como se estivesse esperando que eu o note. Vai me matar se eu olhar. Tenho certeza. Acabou de rir para mim, aquele som infantil soando pela escuridão. Que coisa de quase 2 metros e meio de altura faz esse som? Por que não se mexe? O que quer comigo? Tem alguém atrás de mim também. Não vou olhar, não vou olhar, não vou olhar. Preciso manter minhas mãos ocupadas e a mente focada para não olhar. Parece que tem... três... atrás de mim... Só preciso aguentar até de manhã... só preciso aguentar até o sol sair... 11º Dia Eu... consegui. Acho. Eu... eu não sei nem o que dizer. Liguei para meu médico. Disse que havia terminado os dez dias de experimento... Contei sobre minha noite de terror e meus visitantes... e... e sabe a merda que ele falou? Começou a rir. Rir de boca aberta, com força, com gosto. Gargalhar. Quando conseguiu se controlar, me disse que as pílulas eram inofensivas. Disse que as pílulas eram nada mais que Tylenol. Comecei a gaguejar, minha mente expandindo com essa revelação e com a reação que ele teve. Ele começou a rir de novo e perguntei que diabos ele estava falando. Ele disse que o experimento era de mentira. Disse que foi apenas um joguinho que fizera comigo. Disse que meu caso não havia solução. Disse que um esquizofrênico paranoico como eu, que sofre de alucinações crônicas, devia ser internado em um manicômio para sempre. Disse que nem estava tentando me ajudar, apenas brincando com a minha doença, me deixando mais louco, antes de fazer a recomendação da minha internação permanente. Desliguei enquanto ele ainda dava gargalhadas. Minhas mãos estão tremendo, suando. Não consigo entender. Não consigo entender porque alguém faria algo desse tipo. Achei que eu estava melhorando... Os sãos são doentes de uma forma totalmente diferente que a nossa. Att: L3ND4R10, não sou responsavel por nada!