Nasceu pra ser uma perdedora. Nunca a mais bonita, nem a mais magra, nem a mais inteligente, nem a com mais dinheiro, não era ela que tinha o melhor estilo, não tinha tantos amigos, não dançava tão bem, não tinha todos aqueles talentos, não era tão saudável. Tinha gostos esquisitos como aranhas, cobras, gostava daquelas bandas que nunca ninguém tinha ouvido falar, falava palavras que nem os professores entendiam. O cabelo num corte esquisito que ela mesmo fizera, e gostava. Pouca maquiagem, sempre de fones no ouvido. Sorria bastante, mas nunca estava feliz o suficiente, nunca alegre de mais. Sabia conquistar as pessoas, mesmo sendo aquele tipo certo de pessoa errada. Dos poucos amigos que fez por toda vida, aqueles eram-lhe fiéis. As vezes ela tinha uns sentimentos estranhos que não tinha nome. Sentimentos misturados, como quando amava as pessoas mas não a amava de verdade. Não sabia o que era amar, e nem queria saber. Ouviu dizer que o amor destrói, e mata. Detestava a solidão, mas queria ficar sozinha. Aos poucos percebeu que certas pessoas, quando domadas faziam o que ela queria. Manipuladora. Não queria ser, mas era automático. Aprendeu, mesmo não sendo uma bonequinha plástica, a ter tudo que quisesse. A estranha menina mais-ou-menos, no final não era tão mais-ou-menos assim. Cresceu. Muitos sonhos ainda não alcançados, mas ela sabia que ia alcançar. Ela tinha o mundo inteiro na sua mão, era só mover alguns pauzinhos. Abaixou a cabeça, arrumou o cachecol e subiu a lomba da rua. Com um sorriso e olhos negros que sustentavam mais histórias e poder do que qualquer um naquela cidade imaginaria. Tão pequena e frágil... mas era o veneno em pessoa. Ela nunca mais perdeu.