Memórias de um Espelho Quebrado

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  • PASSE CRAFTLANDIA

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Memórias de um Espelho Quebrado.
Por: Matheus O.

Os ventos já não sopram como antes, embora as folhas, em sua fingida quietude, recusem-se a notar.
Paira no ar um gosto seco. — que não é poeira, e nem sede — mas o vestígio do que se torce por trás de sorrisos treinados com esmero.

O calor da fogueira persiste, mas a chama... observa.
Não dança, não canta. Observa.
Como quem já foi tocado por dedos que prometiam lealdade.

As paredes ouvem mais do que se pensa. As pedras, silenciosas testemunhas, guardam segredos que não se apagam.
O solo que antes acolhia passos firmes, agora pesa cada pegada, registra, compara.
Existem cicatrizes que desmentem a verdade dos passos que as deixaram.

Ainda se ergue a taça entre os rostos costumeiros, mas quem garante que o vinho guarde o mesmo sabor?
Quem arriscará o gole sem antes perceber o silêncio que se esconde no fundo do copo?

Há quem prefira o verniz da cortesia à transparência da essência.
Mas mesmo sob o tecido mais macio, o fio cortante de uma lâmina não deixa de brilhar quando a luz a alcança.

Cautela aos que sorriem com muita pressa:
A mesa onde hoje se ocupam será lembrada — não pelas vozes, mas pelos gestos que o tempo não apaga.
E tudo aquilo semeado sob sombras — brotará, no instante exato, diante de olhos que não mais desviarão.

E então chegará o momento — sem avisos, sem alarde — apenas um silêncio pesado o suficiente para curvar até o mais orgulhoso.

Não será um colapso. Será um desmanche.
Lento, sutil, como torre que cede por dentro, mas insiste em manter-se em pé para os desatentos.

Haverá olhares, não palavras. Nenhuma acusação — apenas o incômodo peso do óbvio.

E quando o último véu cair, não com estrondo, mas com a leveza da folha seca, tudo será revisto sob outra luz.
O riso — desbotado.
O abraço — tenso.
O atraso nas respostas, os silêncios bem calculados... tudo revivido como pedra atirada por mãos que jamais se mostraram.

Não será justiça — será lucidez.
E, para alguns, isso será uma sentença.

Pois certas derrotas não se escrevem em perdas, mas em olhos que evitam o espelho.
Existem quedas silenciosas, invisíveis aos olhos alheios, que enterram o espírito em um abismo interno tão profundo que nenhum grito ou ruído poderá jamais revelar sua extensão.

E quando o eco se calar, quando só restarem os nomes apagados nas bordas da memória, compreenderão:
que houve um tempo para serem inteiros — mas escolheram, por si, tornar-se sombra.
 

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