Pobre vaquinha indo para o matadouro,
Tão velha e magra que tem os ossos furando o couro
Parece que ela advinha que caminha para o fim
Se ela pudesse dizer, talvez nos diria assim...
Meu boiadeiro me levando à morte
Dei minha vida para lhe ajudar
Meu leite puro é que matou a fome
De seus filhinhos, que ajudei criar.
Os meus filhinhos você levou embora
Uns para o corte e outros no estradão
Puxando carro pelo chão do mundo
De dor, sangrado pelo seu ferrão.
Um obrigado eu esperava ouvir agora
Porém, só ouço a chicotada da partida
Meu coração, entristecido, está chorando
A ingratidão de quem tanto ajudei na vida.
Hoje estou velha, pra mais nada presto
A minha morte só lhe satisfaz
Vivi a vida só lhe dando lucros,
Sem o direito de morrer em paz.
Quando sua faca atravessar meu peito
E o meu sangue lhe escorrer na mão
Por sua pobre ignorância humana
Meu boiadeiro, lhe darei perdão.
Após a morte, eu serei seus passos,
No seu calçado feito com meu couro
Serei o cinto pra enfeitar madames,
Serei a bolsa pra guardar seu ouro.