Quando os russos invadiram o meu país, trouxeram algo com eles Eu nasci em uma pequena cidade próximo a Donetsk. Minha família morava ali desde antes da tentativa de destruírem o meu povo com o Holodomor. Minha avó me contou como o meu avô morreu naquele terror, então lhe prometi que na próxima vez que o meu país fosse ameaçado eu o defenderia com a minha vida. A Ucrânia é um bom lugar. Com sua bandeira amarela e azul ondulando eternamente onde incontáveis campos de centeio encontram o céu. Com as vozes de nossos ancestrais cantando o som de nossa vitória, vibrando por toda a terra. Parecia que as coisas seguiriam bem em minha vida. Nunca pensei que teria de cumprir a minha promessa. Então, os Russos invadiram outra vez. Logo, quase dois anos já tinham se passado, e o resto da Europa e o mundo tinha nos esquecido. Mas eu não podia aceitar isso, então naquele ano me voluntariei em uma força de defesa. Meu pelotão foi posto na linha de frente para combater a invasão Russa na primavera. Lutamos bravamente, mas só tínhamos rifles e algumas machineguns. Nada bom contra tanques e peças de artilharia que os desgraçados trouxeram. Nada bom para combater uma outra coisa que também trouxeram com eles. Lembro que já era noite, mas o sol ainda podia ser visto no horizonte. Meus companheiros e eu estávamos sob uma ponte destruída, sentados no acampamento com as armas sobre nossos colos, fritando algumas salsichas. A luta tinha acabado... os russos fugiram de nossa brava defesa, e naquele momento nos parabenizávamos pela grande batalha. Então ficamos de pé. Um terrível grito sacudiu nossos corpos, fazendo destroços caírem da ponte. Levantamos acampamento e nos escondemos atrás dos carros destruídos, visualizando o local da origem do grito. Eu não conseguia enxergar muito longe apenas com o meu rifle. Mas o meu amigo Ruslan tinha um Dragunov com luneta, então pedi que ele me informasse o que via. Ele falou que era um homem. Apenas um homem. Sem arma, não carregava nada. Perguntei se era um dos nossos, ou um Russo. Ruslan disse que o homem usava uniforme russo, mas... parecia confuso. Ele disse que o homem estava com a cabeça jogada para trás, e sua língua se agitava para fora da boca. De onde estava, dei uma melhor olhada na figura. Não consegui ver muito bem, mas ele se movia de modo estranho. Parava por um momento, depois avançava para um lado, então parava, avançava para outro lado. Certamente não era um aliado. “Derrube-o”, ordenei para Ruslan. Ele concordou. Pude ouvi-lo segurar a respiração, e então ele atirou. Dei outra olhada na figura. O homem havia caído, então olhei para os meus outros companheiros e sinalizei para que avançassem. Eu fiquei e indaguei comigo mesmo: por qual motivo os russos mandariam um único homem assim? Era algo preocupante, mas pelo menos o homem havia caído. Com sorte, ainda estaria vivo para um interrogatório. Dois bravos companheiros foram verificar o homem. Roman e Victor, ambos do Kiev. Jovens que abandonaram a universidade na Alemanha para defender a Ucrânia. Eles se aproximavam do homem caído, e antes de chegarem a dez metros de distância, o homem se levantou. Eles apontaram as armas, gritaram para que ele se deitasse e mostrasse as mãos. O homem não ouviu. Eu o vi começar a tremer, como se estivesse rindo, então pedi para que Ruslan o derrubasse outra vez. Mas Ruslan não conseguia uma boa mira, pois Roman e Victor estavam muito perto. E o russo não parava de rir, e o seu peito começou a se expandir. Ele encarou Victor e então ouvimos o terrível grito outra vez, mas agora estava mil vezes mais alto. Eu caí, com meus ouvidos tilintando, e quando me levantei com a arma preparada, Victor havia sumido e Roman... a coisa estava em cima dele. A coisa o esmurrava e arrancava suas tripas com as mãos. Eu gritei e comecei a atirar. Ruslan também começou a atirar, assim como o resto de meus companheiros. Um homem estava com uma machinegun, e pude assistir a trilha de balas atingir o russo e atravessa-lo. Minhas próprias balas não eram tão eficazes, mas eu tinha certeza que também o havia atingido. Naquela distância, eu sabia que o havia atingido. Outra vez o russo caiu. Alguém ordenou cessar fogo, mas ninguém se atreveu a sair do lugar para investigar. Pedi para Ruslan continuar de olho no russo, ver a situação dele, e Ruslan me falou que o peito do homem estava se expandindo outra vez. Olhei para o russo. Eu o vi inchando, crescendo a uma enorme proporção, gritei para que meus companheiros recuassem. Ruslan tentou me puxar com ele, mas eu pedi que me deixasse. O russo continuou crescendo, atingindo o tamanho de um tanque... e quando meus companheiros já estavam longe, mirei e dei um único tiro. A explosão foi grande. Me senti sendo arremessado no ar… e tudo ficou preto. Um longo tempo depois, me levantei lentamente. Sem fraturas, mas sentia o gosto de sangue, e não conseguia ouvir direito. Eu tinha caído em cima de um velho ônibus escolar, então desci com cuidado para a rua. Meu rifle havia sumido. Talvez tenha sido arremessado para muito longe com a explosão. Saquei a minha pistola e chequei ao redor. Já estava muito tarde à noite desde o nosso encontro com o russo... devo ter ficado inconsciente por muito tempo. Me perguntei o que tinha acontecido. O russo realmente explodiu? Fazia sentido. Pude perceber o modo como os carros e entulhos tinham se espalhado por uma grande força, e no local onde o russo estava, o chão foi completamente destruído. Tudo estava em silencio. Havia pouca luz da lua, mas não me atrevi a usar uma lanterna. Me arrastei para fora do local. Havia um celeiro a uns dois ou três quilômetros dali, onde concordamos que nos reagruparíamos. Segui para o celeiro, mas enquanto descia a estrada acabei tropeçando em algo. Era um corpo. Do Petr – Petr que tinha vindo da Polônia apenas alguns meses atrás. Mas ele estava sem cabeça. Olhei ao redor e percebi que os outros também estavam lá, espalhados pela força da explosão. Mas todos estavam sem cabeça. Ele ainda estava ali, eu podia vê-lo, sua silhueta ao longe. Mas ele estava se afastando. Voltando para o lugar de onde saiu. Por um momento fiquei aliviado. Eu tinha uma chance para fugir dele – mas então percebi, que se o deixasse ir, quem sabe quantos outros ucranianos teriam suas vidas ceifadas por aquela coisa? Meu radio não funcionava, claro. Mas o rifle de Petr parecia bom, e com um lançador de granadas acoplado. Me preparei e comecei a perseguir a besta, nunca chegando perto demais. Não pude deixar de notar a maneira como a besta se movia. Ele parava por um momento, e então avançava rapidamente. Com movimentos descoordenados, mas nunca caía. As horas passavam, a noite ficava mais escura. Eu não conseguia arrumar um local para uma emboscada e não me atrevia a ataca-lo de tão longe. De fato, eu não sabia como mata-lo. A besta sobreviveu a vários disparos, então, uma granada poderia mata-lo? Enfim, o monstro entrou em um pequeno barraco em um campo. Comecei a segui-lo abaixado, com um lançador de granadas que poderia não resolver o meu problema, e apenas uma bala, sem munição extra. Logo cheguei a cinquenta metros da porta do barraco. E ali eu fiquei, sem desviar os olhos da porta, até que o sol surgiu. Continuei ali, até o entardecer, e enfim, a noite cair outra vez. Pensei: que tipo de criatura dormiria por tanto tempo? Minha audição já estava bastante apurada, acostumada com todos os sons daquele campo. Podia ouvir a minha respiração e os meus próprios batimentos cardíacos, e os sons de uma batalha acontecendo a uns vinte quilômetros de distancia. Mas da criatura eu não ouvia nada. Ouvi meu coração acelerar. Levantei-me e, lentamente, segui para a porta do barraco. Me aproximei o suficiente e parei, tentando escutar algo. Então usei a ponta do meu rifle para empurrar a porta – mas não havia nada ali. Nenhuma criatura, Apenas algumas ferramentas de fazenda e só. Eu queria gritar, esbravejar, mas olhei para cima, e meus companheiros olharam para mim. Suas cabeças estavam penduradas ali como ornamentos na árvore de natal do próprio demônio, balançando e girando eternamente. Petr estava assustado, mas Roman continuava gritando. Fiquei olhando para eles o máximo que pude suportar, então saí, me virei e mandei aquele maldito barraco para o inferno com o meu lançador de granadas. Depois comecei a retornar para o meu território. Mas antes de sair do campo, ouvi um grito penetrante. Eu já tinha o ouvido antes quando lutávamos no norte. Os russos tinham surpreendido uma tranquila cidade com um ataque de morteiros, e estávamos tentando tirar os civis do local. Eu estava carregando uma senhora, descendo as escadas de um apartamento quando fomos atingidos, e o filho dela e a neta foram mortos. Aquele grito me assombrou desde então, e quando o ouvi outra vez... Olhei para trás e vi a criatura-demônio que os russos trouxeram. Ele espalhava e arremessava os destroços em chamas da cabana, agitando-se em fúria. Ele descontava a raiva nas árvores que estavam por perto, amassando-as completamente... e então... Ele parou. Lançou a cabeça para cima e pôs a língua para fora. Ele estava sentindo o ar. Talvez... ele pudesse provar o meu cheiro que se espalhava pelo ar... Não me atrevi a esperar para descobrir. Me virei e fugi. Corri por muito tempo sem parar, até estar a salvo de volta na fronteira ucraniana. Então larguei minhas armas e equipamentos, e fui para Kharkiv, fingindo ser um refugiado do leste. Ninguém acreditaria no que aconteceu com meus companheiros, e no que quase tinha acontecido comigo. Mas não importa. Quando os russos invadirem outra vez, seja neste ano ou daqui a 50 anos, trarão aquela coisa de novo. Posso apenas rezar para ele já tenha esquecido o meu cheiro, ou que eu já esteja morto até lá.
Krl , q história foda , li tudo toma um cubo , continua com histórias assim. Enviado de meu LG-D100 usando Tapatalk
bem eu escrevo no meu word e e claro que uso ctrl c '-' mas queria saber como tirar isso caso saiba me fale